O que podemos esperar para 2021? Quais as tendências que deixarão marca e ajudarão a moldar o próximo “normal” num futuro pós-pandémico? A criadora de tendências Marian Salzman procura dar resposta a esta questão. É autora e coautora de quase 20 livros e está entre os profissionais de Relações Públicas mais premiados.
Em 2018, deixou os cargos de CEO da Havas PR América do Norte e presidente global da Havas PR Global Collective para embarcar num importante desafio: ajudar a fabricante de cigarros Philip Morris International a criar um mundo sem cigarros no cargo de vice-presidente sénior de Comunicações Globais.
O seu mais recente relatório como futurista foi apresentado esta semana à imprensa de todo o mundo e aponta 11 tendências que não devemos ignorar.
- Zoomed in (and out)
O período de reflexão proporcionado pela pandemia deu-nos tempo e espaço mental para considerar como temos vivido – e se valeu a pena. Estaremos a ampliar as nossas vidas pessoais e profissionais – ampliando o que é essencial e eliminando os constrangimentos nos locais de trabalho, escola, entretenimento, fitness, por exemplo? - Redefinir o tempo e espaço
A experiência do confinamento e da quarentena fez com que as pessoas e as empresas repensassem as abordagens tradicionais de tempo e espaço. A tendência é a de pensar na semana de trabalho com 24 horas por dia, sete dias por semana, em que se ajusta o trabalho, a vida social e as tarefas administrativas, parando nas horas que mais convém. “Será que podemos estar próximos de uma semana de trabalho de quatro dias como padrão, com menos horas, mas mais inteligentes e produtivas?”, pergunta Marian Salzman. - De volta ao “nós”
Numa era das selfies, marcas pessoais e listas de reprodução personalizadas, a COVID-19 despertou em alguns o primeiro indício de sentido de comunidade desde há muito tempo. Com o contacto físico drasticamente reduzido durante meses a fio, sentimos a falta do toque e gravitamos em torno de experiências partilhadas, de festas virtuais a Zooms familiares. “Em 2021, interaja com mais pessoas e reavalie os seus círculos sociais, focando menos na proximidade e conveniência e mais na intimidade e na conexão”, sugere a futurista. - O real passa a irreal e o irreal passa a ser real
Somos cada vez mais atraídos pelo que é profundamente autêntico – mesmo enquanto continuamos a migrar as nossas vidas para o reino virtual. Apesar do aumento nas vendas de “carne” à base de plantas, “leite” à base de nozes e “couro” vegan, as pessoas estão cada vez mais ansiosas por voltar ao real. Os valores antigos, como integridade e autossuficiência, voltarão a ter o primeiro plano? O conselho é para procurar a desintoxicação digital e uma combinação mais inteligente dos dois mundos- o virtual e o real. - O dia dos drones
Quem não gostaria de pedir ao seu robot pessoal para ir à mercearia local fazer as compras da semana? Já há algum tempo que caminhamos na direção da automação do trabalho, mas a pandemia veio acelerar a tendência à medida que as empresas são lembradas de que os funcionários humanos são um ponto fraco.
A empresa chinesa de comércio eletrónico Alibaba montou um armazém sem funcionários num hospital em Wuhan nos primeiros dias da pandemia; os drones foram instruídos a entregar encomendas e kits de teste à COVID-19 em Espanha, Indonésia e China. “Que outras tarefas serão automatizadas em breve? Talvez chegue a hora de termos um subchefe robótico e uma babysitter de Inteligência Artificial.” - Prontos para a guerra
A COVID-19 veio aumentar o número de pessoas que procuram a segurança do stock e espaços “seguros”. À medida que as pessoas querem estar mais preparadas para toda e qualquer eventualidade, mais lojas passarão a acumular artigos de emergência de longo prazo, como a overstock.com e o Walmart já estão a fazer. - Redefinir o que é essencial
Com cada vez mais pessoas a trabalhar e a frequentar a escola a partir de casa, o que é necessário “ter” em 2021? A banda larga universal é um luxo ou uma necessidade? Qual é a expectativa básica para o saneamento e a saúde pública? Em 2021 aumentará o apoio à justiça racial e económica, à partilha de recursos e teremos mais discussões sérias sobre conceitos como o rendimento mínimo garantido. - Salvos pela internet?
As nossas vidas estão a transformar-se em centros de serviços pagos à medida que cada vez mais contamos com aplicações de telemóveis para responder às nossas necessidades básicas. Não sabemos cozinhar porque temos o Deliveroo. Ainda não aprendemos como remendar roupas porque é mais fácil conseguir uma reposição do vestuário na Amazon ou no Taobao. Contamos com o TaskRabbit para pendurar as nossas fotos na parede e montar os nossos móveis empacotados. Ao mesmo tempo poderemos esperar que 2021 traga um aumento de formações sobre as competências que antigamente os pais passavam aos filhos. - As organizações como agentes de mudança
Nas primeiras semanas do confinamento vimos empresas, grandes e pequenas, a produzirem ventiladores e equipamentos de proteção individual e a apoiarem clientes e comunidades. Em 2021, podemos esperar mais do mesmo, mas com uma nova ênfase em parcerias público-privadas. - Repensar as casas e as cidades
No curto prazo podemos esperar a continuação da tendência para as casas minúsculas (talvez até móveis). No longo prazo, as cidades menos dominadas por bairros comerciais e turistas procurarão criar novas maneiras de atrair residentes, incluindo no desenho urbano mais espaços verdes, moradias mais acessíveis e infraestruturas mais inteligentes. - Hora de fazer as pazes com a incerteza
As máscaras faciais são uma medida inteligente de saúde pública ou um passo em direção ao totalitarismo? As primeiras vacinas disponíveis serão seguras? Podemos contrair a COVID-19 mais de uma vez?
Este ano tem sido repleto de incertezas e uma sensação generalizada de insegurança. À medida que as pessoas tentam recuperar o controlo, procuram maneiras de se vacinar contra riscos futuros, desde formas de investimento mais seguras, sistemas de segurança doméstica e geradores de energia de reserva até estilos de vida mais simples. Ao mesmo tempo, veremos o foco a ser colocado no ensino da resiliência em casa e no trabalho, uma vez que a tenacidade e a coragem têm prioridade, lado a lado com a criatividade e o pensamento crítico.