“Não sei como tudo aconteceu, mas, certo dia, tive um problema. Não o queria. Não o pedi. Não gostei nada de ter um problema, mas ele esteva lá”. Assim começa o livro da minha filha “O que fazer com um problema” e assim vai ser, infelizmente, a nossa adaptação ao novo normal.
Na semana passada passou a ser obrigatório usar máscara não apenas nos espaços públicos, mas também na rua. O pior não é propriamente a máscara. Sim, no início estranhámos, mas, tal como aconteceu com os sacos de plástico que agora levamos connosco ao supermercado, hoje temos uma máscara sempre à mão (seja no carro, em cada uma das malas, numa gaveta da secretária…). O problema é que a máscara tem impacto na nossa comunicação — entre os pares, colegas e também familiares. Se era clara, deixou de ser. Se não era clara, perdeu a possibilidade de o ser.
Para poder melhorar a sua comunicação, mesmo usando máscara e neste novo normal (que de normal tem muito pouco), sugiro cinco passos simples.
Escolha a máscara certa
Sim, as máscaras não são todas iguais. Umas são mais grossas que outras. E aqui não podemos ignorar as leis da física: quanto mais espesso for o obstáculo, menos vai sobrar da onda sonora, ou seja, da sua fala. Por isso, cuidado na escolha.
Utilize todo o poder da sua voz
Isto implica ter cuidado com o volume e a velocidade. “Como?”, “Desculpe, não ouvi…” — estas são as frases que ouço mais frequentes nos corredores da faculdade e também nas aulas. No seu escritório acontece o mesmo? Há mais uma agravante: nem todos os colaboradores (pense só nos mais novos!) vão ter coragem de admitir que não ouviram o que disse. Por isso, não estranhe se o trabalho não for entregue a tempo ou da forma como pretendia.
Fale mais devagar. Trabalhe a sua dicção. Varie a sua voz. Já que não conseguimos expressar as nossas emoções através da face, podemos compensar com uma entoação variável — transmite emoções e ajuda a manter a sua audiência atenta.
Fale na direção certa
Vire-se (literalmente) para o colega com quem está a falar — como a passagem da voz já está condicionada, ao virar-se consegue garantir que, pelo menos, a onda sonora vai na direção da pessoa com quem está a falar. Ou seja, se antigamente podia continuar a trabalhar no computador ou navegar no telemóvel e ao mesmo tempo falar com o seu colega, agora já não — corre o risco de não ser ouvido. E a culpa será sua. Por isso, vire-se para a pessoa. Assegure-se que ela está a prestar-lhe atenção. E só depois fale. Este pequeno gesto ajuda — já testei.
Fale com as mãos
Utilize muitos, muitos, mas mesmo muitos gestos ilustradores. São aqueles que “ilustram” o que está a ser dito. Por exemplo, se eu digo “redondo” e “desenho” um círculo com as mãos — isto é um gesto ilustrativo. Da mesma maneira, pode dizer que “preciso de dois favores” e mostrar dois dedos. Ou, se estiver a falar de prós e contras, poderá sempre organizá-los no espaço — prós do seu lado esquerdo e contras do seu lado direito, por exemplo.
Beba muita água
Sim, faz bem. Na verdade, já antes fazia. Mas agora com máscara torna-se essencial hidratar o corpo e principalmente as cordas vocais. Porque o esforço para falar é maior e, precisamente por causa da máscara, muitas vezes não achamos conveniente tirar a máscara, beber e colocá-la outra vez. Contudo, é preciso. Para o seu bem e para o bem da sua comunicação.
Hoje mais do que nunca os seus colaboradores precisam de ouvir a sua voz. Precisam de sentir que há valores, que há apoio e, acima de tudo, que há esperança. Por isso, comunique! Porque a crise vai passar, e nós vamos ficar.
Ao contrário da pandemia, o já referido livro da minha filha tem um fim e este pode ser inspirador para todos nós: “Todos os problemas contêm uma oportunidade para qualquer coisa boa. Só temos de a procurar”.
Por Irina Golovanova, Especialista em Comportamento e Comunicação Não Verbal e CEO da The Body Language Academy