Uma figura incontornável do panorama cultural e político brasileiro, Caetano Veloso esteve em Lisboa para três noites de concertos esgotados no Coliseu dos Recreios, a propósito da tour do seu novo álbum, “Meu Coco”, lançado em 2021.
Na mesma semana em que foi condecorado com a Medalha de Mérito Cultural, o músico evocou o samba e apresentou um espetáculo exímio, demonstrando que nunca é tarde para se continuar a criar, tocar e (en)cantar.
Acompanhado de uma banda formada por cariocas e baianos, fez tremer o Coliseu, que recebia de alma cheia músicas novas e antigas, celebrando uma vida dedicada à música e arte. Aos 81 anos, Caetano relembrou vivências e músicos de outros tempos, ao longo de uma carreira de mais de 50 anos, convidando a fadista portuguesa Carminho a subir ao palco, celebrando a unificação dos dois “povos irmãos”.
Eis três lições a retirar da vida e obra do artista brasileiro:
Estar um passo à frente do seu tempo
Caetano sempre demonstrou uma mentalidade aberta e progressista, com algumas letras das suas canções a abordar temas como sexualidade, liberdade e espiritualidade.
A sua aparência, por vezes andrógina demonstrava uma liberdade e inconformidade com a época vivida, inspirando toda uma geração. Nunca teve vergonha de se expressar como desejava, apesar das críticas, tendo sido preso durante o regime ditatorial do Brasil por ser considerado “subversivo e desvirilizante”, segundo recorda no documentário “Narciso em Férias”.
“É proibido proibir”
Foi um dos líderes do tropicalismo, um movimento vanguardista com o objetivo de renovar a música brasileira tradicional, o que trouxe muitas críticas e ameaças.
Chegou a ser desclassificado do Festival da Canção de 1968, graças ao caráter insurgente da música “É Proibído Proibir”. Foi preso pela ditadura militar em 1969 e viveu exilado em Londres, mas nunca parou de lutar pelos valores em que acreditava e de transmitir a sua mensagem através da música.
Nunca parar de reinventar-se
Mesmo sendo o 29º disco de estúdio da sua carreira, o álbum “Meu Coco” continua a trazer simultaneamente inovação e uma forte carga crítica e política.
Caetano Veloso tem demonstrado uma contínua capacidade criativa e de reinvenção, contando com um vasto acervo musical de 48 álbuns, que cunharam a Música Popular Brasileira (MPB) e a Bossa Nova. Assente num eterno inconformismo, faz sempre questão de trazer criações atuais, disruptivas e vanguardistas.
Fotografia de Destaque: Álbum “Meu Coco”