Há uma dúzia de anos passei uns dias em Luang Prabang, Laos. É uma cidade maravilhosa, junto ao rio Mekong, que se calcorreia como se estivéssemos num filme, tamanha é a beleza do sítio. Recordo que, em dois dias consecutivos, experimentei passar algum tempo a assistir às cerimónias religiosas que num templo budista tinham lugar. No primeiro dia, a comunidade rezava como que um mantra que repetia sem cessar. No segundo dia, no mesmo lugar e à mesma hora, durante uma boa meia hora, o grupo manteve um total silêncio.
Não sendo capaz de interpretar este silêncio, o momento nunca fugiu da minha memória. Talvez porque para nós, a ocidente, a ideia de estar uns minutos em silêncio, quietos e calados, se tenha tornado insuportável. Estamos normalmente em ação. Somos todos fazedores, sem capacidade de manter o silêncio. Com os telemóveis, mesmo calados continuamos a comunicar. Mesmo calados não estamos em silêncio.
E no entanto o silêncio pode ser um espaço de higienização mental importante. Um espaço de descanso de nós e dos outros. Um momento para pensar e, como se costumava dizer, arrumar a cabeça. Talvez precisemos de imitar um gestor que conheci quando preparava a minha tese de doutoramento: chegava à empresa uma hora antes do horário de trabalho. Esta era a sua hora de silêncio, um pequeno luxo matinal para pensar o dia e o negócio. A alternativa que normalmente praticamos, é trocar esta lógica de foco (nomeadamente no business) pela correria permanente, por uma lógica de busyness. Como dizia o saudoso Sumantra Ghoshal, é preciso cuidado com os gestores permanentemente ocupados. Falta-lhe tempo para pensar. E pensar continua a ser uma necessidade, apesar de poder parecer um luxo.
Este artigo foi publicado na edição nº 27 da revista Líder, sob o tema Humanity is Calling – Be Silent, Decide with Truth. Subscreva a Revista Líder aqui.


