Através do podcast “CEO é o limite”, de Cátia Mateus do jornal Expresso, tivemos conhecimento que Rita Piçarra, ex-diretora Financeira da Microsoft Portugal planeou a sua carreira desde os 20 anos para que não dependesse de uma empresa para sobreviver. Foi bem sucedida em termos profissionais e este ano cumpriu o seu sonho e com 44 anos, decidiu “reformar-se”.
Foi a bomba nas redes sociais. As reações dividiram-se entre pessoas inspiradas pelo foco e coragem da profissional e outras chocadas com a “leviandade” do discurso, num país em que a idade da reforma são 66 anos e o valor médio mensal das pensões de velhice é de 388,98 euros/mês. O que certamente não fizeram as centenas, senão milhares, de pessoas que comentaram furiosamente o tema no LinkedIn, Facebook, Instagram, ou mesmo quem criou os memes que apareceram à volta do tema, foi… ouvir o podcast.
São 45 minutos de uma conversa inteligente, cheia de inglesismos, em cima da experiência de vida – profissional e pessoal – da Rita, com uma abertura e candura surpreendentes. Fala-se de ambição, de sermos mais do que o título profissional, de terapia, de planeamento financeiro, de conciliação entre a vida privada e planos de carreira. Tudo temas prementes e fundamentais nos tempos que correm. Aliás, a Microsoft não poderia criar intencionalmente uma melhor campanha de employer branding!
Mas de tudo o que foi contextualizado, discutido, alertado e explicado neste podcast, o que marcou centenas de pessoas foi a reforma antecipada desta jovem. Com tantos inputs tão valiosos (adorei a sugestão de se fazer terapia antes da reforma para aprender a distinguir o “Eu”, do cargo profissional) porquê a atenção apenas neste tema? Alguém me disse que é inveja pura – quem não quereria reformar-se aos 44 anos?!
Realmente, esta conversa abriu uma caixa de pandora desafiando a ideia convencional de que uma pessoa tem de trabalhar décadas antes de se reformar e, com isso, leva-nos a repensar no que é efetivamente qualidade de vida e o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Porquê esperar até à reforma para perseguir paixões e interesses pessoais quando podemos integrar essas paixões já nas nossas vidas. Estas tendências estão a desafiar as normas sociais tradicionais e a provocar a uma reavaliação da definição de sucesso na vida – não ser apenas medido em termos de carreira e acumulação de riqueza, mas também em termos de satisfação pessoal, conexões significativas e tempo para desfrutar da vida.
Noutra perspetiva, esta reforma aos 44 anos é um exemplo inspirador de como uma boa educação financeira e uma gestão adequada podem fazer a diferença e permitem ter uma vida alternativa melhor. Concluí, depois de ouvir o podcast, que ter um plano financeiro de longo prazo é essencial para o futuro de qualquer pessoa.
Sempre ouvi dizer que dinheiro gera dinheiro, mas nunca pensei muito no tema. Embora seja um recurso valioso para criar riqueza percebo agora que é importante tomar decisões financeiras informadas e estratégicas para maximizar o seu potencial de crescimento.
A literacia financeira é realmente uma habilidade crítica para navegar no mundo financeiro complexo de hoje e alcançar uma segurança financeira a longo prazo. É fundamental para tomar decisões responsáveis e alcançar metas financeiras pessoais. Investir algum tempo neste tema, fomentando a sua discussão cedo (nas escolas!) e sair do mindset tradicional do dinheiro “debaixo do colchão” arriscando no investimento pode mesmo fazer a diferença.
Seja como for, embora a reforma aos 44 anos seja um marco notável, é apenas a ponta de uma partilha sincera, que tem uma imensidão de experiências e perspetivas uteis para muitos executivos. Não se fique pela espuma do dia e invista tempo (um dos bens mais preciosos que temos) a ouvir a conversa na totalidade ajudando-a/o a refletir sobre a ambição, qualidade de vida, prioridades, planos de vida, literacia financeira. Rita Piçarra reformou-se e, com este ato, despertou consciências – o que pode ser mais valioso?