A produção de lixo tem aumentando de forma acentuada nas últimas décadas e não parece dar sinais de abrandar. É de esperar que até 2050 a criação de lixo aumente cerca de 70%, devido a fatores como o crescimento económico, hábitos de consumo, crescimento populacional e aumento das manchas urbanas.
Muito deste lixo acaba em lixeiras, sendo que a maior do Mundo em 2019 ficava em Las Vegas, com cerca de 8km2. Apesar de ser a região do sudeste asiático e pacífico a que mais resíduos sólidos municipais gera no Mundo, são os EUA o país que mais cria por habitante. Mas se tivermos em linha de conta resíduos não-urbanos, como os industriais e afins, é o Canadá o maior produtor mundial de lixo por habitante.
Estes resíduos são compostos por vários materiais, e apesar de serem os resíduos plásticos que mais atenção têm tido por causa do impacto na fauna marinha, o lixo eletrónico é o que mais tem crescido, sendo que se espera que em dez anos a produção anual suba cerca de 40%. Mas os resíduos mais comuns são os alimentares, que totalizam cerca de 50% de todos os resíduos municipais sólidos, com consequências ambientais importantes.
As decisões que norteiam a construção e localização de centrais de tratamento e incineração de lixo, ou mesmo lixeiras, dão tipicamente azo a conflitos políticos entre cidadãos e diferentes níveis de governo. Em fevereiro de 2008, a cimenteira da Cimpor localizada em Souselas, a cerca de cinco quilómetros a norte de Coimbra, iniciou o processo de queima de resíduos industriais perigosos dando início a uma contestação popular que ganhou enorme projeção mediática que, entretanto, desapareceu, mas cuja luta continua em tribunal.
As decisões que acabam por ser tomadas acabam por ser resultado de um conjunto de lutas entre diversos grupos de interesse que se digladiam na esfera de ação pública, dando azo à criação de uma verdadeira geopolítica do lixo. E isto extravasa muitas vezes o plano de ação nacional. A exportação de resíduos disparou nos anos 80, como consequência de um aumento dramático de produção; movimentos NIMBY (not-in-my-backyard) nos países ocidentais que bloquearam muitos projetos de gestão de resíduos; e assimetrias importantes no que diz respeito à regulação da gestão de resíduos entre países.
No entanto, muitos países baniram a importação de resíduos e isto levou a uma mudança das dinâmicas globais da gestão dos mesmos. China, Tailândia, Vietname e Malásia são apenas alguns dos países que o fizeram, em reação aos protestos de uma classe média emergente que se torna cada vez mais vocal e eco-consciente. Isto levou, por exemplo, a que a Turquia, entre 2004 e 2020, passasse a receber três vezes mais lixo do que recebia da União Europeia, sendo o nosso principal destino da exportação de resíduos, substituindo a China.
Olhando para o futuro, existem várias tendências que se estão a afirmar. Em primeiro lugar, a evolução da tecnologia cada vez mais permite a separação automática de resíduos de forma a aumentar o potencial de reciclagem. Começam também a surgir iniciativas legislativas, como uma recente na Califórnia, que obrigam à criação de programas de composto para bio-resíduos de restaurantes, hospitais e hotéis. Espera-se que a tecnologia de incineração se torne mais eficiente e segura, e que consiga ao mesmo tempo aproveitar os resíduos para a criação de energia, sendo que os apoios governamentais para o efeito se têm multiplicado.
Este artigo foi publicado na edição de primavera da revista Líder
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