Anda por aí uma grande confusão. Com ou sem a ajuda das redes sociais, o mundo parece por vezes ter perdido a lógica que gostaríamos que tivesse. Eis alguns exemplos.
Uma organização-ativista, Fossil Free Books, manifestou-se contra o apoio de uma empresa gestora de fundos, a Baillie Gifford, ao festival literário de Hay. Razão: a posição acionista da Baillie Gifford em empresas de petróleo e o seu apoio a Israel. O caso deu brado no Reino Unido e a empresa retirou o apoio a esse festival. Os organizadores foram obviamente obrigados a procurar novos apoios. Ironicamente a Baillie tem uma posição menor no setor petrolífero que empresas concorrentes (e de apenas 1% dos seus investimentos), mas isso não deteve as almas piedosas. Nem o facto de apoio a Israel consistir em ações nos gigantes tecnológicos Amazon e Ndivia. Perante a retirada do apoio, os ativistas vieram dizer que a sua intenção não era a de terminar o apoio.
Na China a ByteDance, dona do TikTok, uma empresa do sr Zhang Fuping, membro do PC chinês, permite um acesso de quarenta minutos a uma versão controlada da rede. No ocidente não há regras. Como escreveu Paulo Nogueira no seu recente livro O Cancelamento do Ocidente, espinafre na China, fentanil digital no ocidente.
Outra história da mesma fonte: os Queers for Palestine fundiram a causa LGBT com a libertação da Palestina. O problema é que na Palestina os direitos da comunidade LGBT não existem. Ahmad Abu Marhia, um gay palestiniano, teve, como outros, de fugir para Israel. Aí, foi raptado em 2022 e levado para Hebron, Cisjordânia, onde foi decapitado. Presumivelmente, um gay palestiniano fugir para Israel era demasiada realidade para aquelas cabeças fundamentalistas. A revista Queer Majority terá comparado o slogan Queers for Palestine a Negros pelo Ku Klux Klan ou Frangos pelo KFC.
Em vez de soltar as emoções que por aí grassam – incluindo no jornalismo dito de causas – talvez seja tempo de colocar água na fervura e acabar com as posições maniqueístas que deixam os seus defensores inchados de bondade – como já tinha acontecido com os inquisidores de outros tempos.
