Num momento de mudança acelerada, menor capacidade de previsão do futuro e crescente polarização na sociedade e, consequentemente, nas organizações, condicionando – positiva e negativamente – as várias esferas profissionais e pessoais, será a autenticidade o nosso maior recurso?
Somos constantemente influenciados a assumir determinados papéis em contexto profissional. Uns mais próximos do nosso “eu” não profissional, outros mais afastados. Nesse percurso, assistimos, não poucas vezes, às dúvidas de profissionais que até têm percursos interessantes, mas que têm potencial para terem percursos brilhantes, a saírem “de pista” por viverem demasiado tempo afastados daquilo que os define como únicos. Têm vontade, têm capacidade e até estão em posições de destaque nas suas organizações, mas não conseguem confirmar todas as expetativas positivas que possam ter sobre eles. Considero que os maiores entraves a essa progressão (ou, em alguns casos, confirmação), se devem a fatores como alguma impaciência, um sentido exagerado de urgência – “as coisas têm de acontecer já” – a par com uma procura constante em replicar “o caminho dos outros”. Daí a importância da autenticidade como fator distintivo de sucesso. Cada executivo deverá desafiar-se a conseguir analisar o que o distingue e procurar definir-se profissionalmente a partir daquilo que o torna único.
A capacidade de ser orientado a objetivos, de ter visão estratégica e de negócio, de ler os contextos onde se insere, de alinhar comportamentos, aumentar sustentadamente a capacidade de influência e de liderar em contextos de mudança rápida, são aspetos fulcrais para o sucesso de um executivo. Se a tudo isto adicionarmos a capacidade de potenciar aquilo que os torna autênticos e genuínos, acredito que os executivos terão mais oportunidades de progredir profissionalmente, simplesmente porque é impossível copiar aquilo que os torna únicos.
Existem vários estudos que correlacionam a autenticidade nas organizações com o aumento da confiança e credibilidade e com a promoção de um ambiente de trabalho mais saudável, aumento de produtividade e desempenho individual. Não há aqui intenção de comprovar estudos, ou analisar estas correlações numa perspetiva científica. Reflito apenas nas perceções que vou recolhendo no meu dia-a-dia de consultor. E, nessa reflexão, a ideia que mais vezes surge, é que, apesar de existir uma predisposição para uma maior autenticidade em contexto profissional, persistem inúmeros bloqueios estruturais e pessoais que impedem os executivos da assunção plena dessa autenticidade. Tal cenário acaba por perpetuar práticas e comportamentos mais tradicionais que, na minha opinião, limitam a realização do potencial individual. Sei que o tema não é novo, ou disruptivo e até pode ser visto como demasiado romântico. Contudo, decidi trazer este tema à discussão, principalmente pela impotência que muitas vezes sinto naquilo que, enquanto consultor, não posso dizer aos candidatos (e às vezes aos clientes).
Cada percurso é um percurso, cada executivo é um executivo, cada organização é uma organização. A comparação e a procura pela padronização do comportamento de um Executivo, como se fosse expectável determinada atitude ou postura, não me parece o caminho mais profícuo. A capacidade de os executivos se sentirem confortáveis com o seu próprio Eu, procurando cumprir/concretizar o seu potencial, poderá não ser a via mais rápida, mas será, com certeza, a mais robusta e, já agora, autêntica.