A partilha de recursos científicos, de comunicação e políticas entre nações é a chave para reduzir os danos do tabaco pelo mundo. Os países desenvolvidos têm uma visão mais individualista do problema, mas a solução passará efetivamente por olhar com uma lente coletiva entre nações para a questão do peso do tabaco na saúde das pessoas, e em comum arranjar alternativas para o mesmo.
Nancy Loucas, coordenadora executiva da Coalition of Asia Pacific Harm Reduction Advocates (CAPHRA), e defensora da redução dos danos do tabaco, acredita que só com esforços regionais com governos e organizações se consegue combater os efeitos do tabagismo, temática que abordou no Global Forum on Nicotine 2022, em Varsóvia.
No debate “CommUNITY: Regional Networks in THR consumer advocacy”, com a moderação de Chumwemwe Ngoma, Assistant Program Manager da Knowledge-Action-Change Limited, a presidente da Rocky Mountain Smoke-Free Aliance, Amanda Wheeler, foi também participante. A responsável divulgou as alternativas ao tabaco que não sejam nocivas, como o “vaping” (vaporização de nicotina). Vários estudos mostram já que esta alternativa é vantajosa para quem esteja a tentar deixar de fumar tabaco, mas “entidades como a Organização Mundial de Saúde tentam ofuscar a divulgação desta informação”, declara Wheeler.
Há vários desafios no que toca à redução de danos do tabaco, entre eles o próprio interesse económico em manufaturar tabaco, e também interesse fiscal para os governos, sendo que o maior entrave é a influência de filantropos estrangeiros. Nancy Loucas apresenta o exemplo da Ásia-Pacífico, região onde atua, onde se concentram 60% dos fumadores do mundo. O facto é que esta estatística é potenciada por estas organizações, alicerçando-se na necessidade dos governos de gerar riqueza, sendo que esta região é dominada por países de baixo ou médio rendimento.
“É quase um comportamento predatório: temos países que não têm muito dinheiro, não têm recursos para desenvolver as suas próprias políticas. Assim, estes filantropos chegam, sabendo de antemão o contexto, e dão uma falsa ajuda, apresentando políticas favoráveis para o governo, em troca de políticas favoráveis para as suas organizações.”, complementa a coordenadora executiva. Estas políticas são implementadas sem ter em consideração as pessoas e o ambiente em que vão ser implementadas. “Há este miasma de hipocrisia, e ninguém pensa nas pessoas e no que é melhor para elas”, explica Nancy.
Alinhada neste argumento está Amanda Wheeler, que defende que a hipocrisia se estende não só a nível regional, mas também global, acrescentando que a imprensa e as entidades competentes estão propositadamente a ignorar o elefante na sala, que são as empresas do tabaco e da influência que exercem. A vaporização de nicotina não tem os químicos nocivos e cancerígenos que o tabaco tem por definição, sendo, assim, um escape viável. Apesar de o ideal ser nunca começar a fumar, ou deixar de fumar por completo, nem todas as pessoas conseguem fazê-lo.
Assim, tudo culmina no esforço coletivo: divulgação e partilha de ciência, para gerar decisões e escolhas mais conscientes e elucidadas, partilha de políticas, e apoio jurídico para os países que precisam. A conclusão para a redução dos danos é a mudança de mindset: “Fazer o que for melhor para todos”, e não “fazer o que é melhor para mim”, conclui Amanda Wheeler.
Por Denise Calado