A Inteligência Artificial (IA) está a transformar rapidamente o mercado e, mais significativamente, o comportamento dos consumidores. Recentemente, a Amazon lançou a tão aguardada Alexa+, equipada com IA generativa, juntando-se a outras gigantes tecnológicas que introduziram modelos de GPT nos seus produtos e serviços. Esta proliferação de assistentes inteligentes em dispositivos quotidianos — desde smartphones e computadores a automóveis e eletrodomésticos — está a redefinir a interação dos consumidores com a tecnologia.
Historicamente, a tecnologia tem sido um catalisador na alteração dos comportamentos dos consumidores. Contudo, a IA não se limita a modificar comportamentos; está a reconfigurar a própria forma de pensar dos indivíduos. Com a quarta edição do estudo What Matters to Today’s Consumer, do Research Institute da Capgemini, foi possível concluir que a IA generativa está a transformar as experiências de compra, com 71% dos consumidores a desejarem a sua integração nas plataformas digitais. Esta mudança sugere que os consumidores estão cada vez mais a confiar em assistentes de IA para obter recomendações personalizadas e eficientes.
À medida que os consumidores delegam decisões nos seus assistentes de IA, as empresas enfrentam um novo desafio: não basta desenvolver modelos que interajam diretamente com os clientes; é imperativo que estes modelos comuniquem eficazmente entre si. A interoperabilidade entre diferentes sistemas de IA tornar-se-á crucial, pois os assistentes pessoais avaliarão opções e tomarão decisões baseadas em algoritmos e dados, comunicando numa linguagem comum entre modelos. Esta tendência é corroborada por especialistas como a managing director da Accenture Portugal, Paula Fernandes, que destacou a necessidade das organizações se adaptarem rapidamente, integrando a IA nos seus processos para manterem a relevância no mercado.
A ascensão da IA não impactará apenas a forma como os consumidores tomam decisões, mas também o peso e a credibilidade do conteúdo disponível no digital. Durante anos, as marcas investiram fortemente em estratégias de SEO, bots e reviews manipulados para garantir maior visibilidade e influência no mercado. Contudo, com a massificação dos modelos de IA, estas táticas tornar-se-ão obsoletas. Os assistentes inteligentes serão capazes de distinguir entre conteúdos autênticos e manipulados, ignorando automaticamente informações que não sejam validadas por consumidores reais. Esta mudança marcará o declínio do SEO tradicional como ferramenta primordial de aquisição de tráfego orgânico, uma vez que o ranking do Google deixará de ser o fator decisivo na escolha dos consumidores.
A confiança e a humanização da experiência digital passarão a ser o verdadeiro diferenciador, onde apenas as marcas que conseguirem construir uma reputação baseada em transparência e recomendações genuínas de clientes reais terão relevância nos modelos de IA. As empresas que continuarem a apostar em narrativas fabricadas ou em falsos testemunhos não só perderão influência, como serão penalizadas pelos próprios assistentes de IA, ficando gradualmente excluídas do circuito de consumo digital.
Estamos à beira de uma transformação sem precedentes. As decisões de compra, anteriormente influenciadas por narrativas emocionais e estratégias de marketing tradicionais, serão progressivamente orientadas por recomendações objetivas dos assistentes de IA. Este cenário exige que as marcas adaptem as suas estratégias, garantindo que os seus modelos de IA possam comunicar e colaborar com outros sistemas, fornecendo informações precisas e relevantes que influenciem positivamente as escolhas dos consumidores.
Em conclusão, a ascensão da IA está a redefinir o panorama do consumo e a dinâmica empresarial. As empresas que não reconhecerem e se adaptarem a esta nova realidade arriscam-se a perder relevância num mercado cada vez mais orientado por decisões algorítmicas. É imperativo que as marcas invistam em tecnologias de IA interoperáveis, assegurando a sua posição num futuro onde os assistentes inteligentes desempenharão um papel central nas decisões de consumo.