António Horta-Osório afirma ser necessário desmistificar o líder como um super-herói. O sentido de apoio, compreensão e humanismo, sobretudo quanto à saúde mental é o que torna uma organização motivada e coesa, e resiliente.
“Acho que ninguém é, nem deve tentar ser ou parecer, um super-homem. Todos somos humanos, todos temos as nossas vulnerabilidades”, afirma o presidente da Bial, vítima de burnout em 2011, a propósito do evento “Estado da Nação 2022”, promovido pela Fundação José Neves (FJN).
Só um líder com a capacidade de saber as direções para onde a organização tem de ir, se souber ler o meio ambiente e reconhecer os pontos fortes e fracos da empresa terá sucesso e será capaz de adaptar-se a qualquer situação. “A liderança é crítica, e faz toda a diferença. Tem de ser tanto estratégica como prática.”, afirma.
Na conversa “Liderança com Propósito” com José Neves, fundador da FJN, António Horta-Osório fez uma reflexão sobre as mudanças no modelo económico, e de como podem as organizações sobreviver e prosperar face as novas adversidades.
Vivemos momentos de crise, em que a incerteza domina a esfera económica e social, e a luz ao fundo do túnel parece não aparecer. Não podemos ficar à espera que o tempo passe, enquanto nos afundamos em taxas de juro e uma inflação incessante.
A prudência é a chave para sobreviver num mundo em que a intensidade das taxas de juro são fortes e crescentes e em que haverá menos disponibilidade de financiamento. “É realmente importante que as empresas se foquem em modelos de negócio sólidos, e porque os cash-flows, à medida que as taxas de juro sobem, são muito penalizados, é fulcral que se dê ênfase à geração de cash-flows positivos a curto-prazo”, aconselha Horta-Osório, que acrescenta ainda que, além do modelo de negócio, uma liderança adequada não pode faltar.
E em tempos de crise, apesar da incerteza, a planificação continua a ser a peça central para se ter sucesso: “o planeamento tem de ser feito em ciclos muito mais curtos, para podermos ter uma ideia dos possíveis cenários, e para podermos ir adaptando a direção da empresa face a adversidade.”, esclarece o executivo.
Os líderes por si só, porém, não fazem uma organização ter sucesso, sendo que a valorização dos colaboradores é fundamental. “Acredito profundamente que com uma boa equipa que partilhe um propósito, mas que tenha experiências diferentes, fortes personalidades e backgrounds diferentes, tem-se um processo de decisão sistematicamente melhor.”
No entanto, com a digitalização e a normalização do trabalho remoto, encontrar a coesão, motivação e propósito nos colaboradores pode vir-se a mostrar uma tarefa mais árdua. Fica então de o lado do líder dar incentivos às pessoas, comunicar eficientemente e guiá-las para que vão na direção certa.