Cinco filhos, um escritório em Londres e uma marca icónica nas mãos. Sandra Gonilho é Head of Marketing da Sidul e lidera, a partir da capital britânica, a inovação europeia do ASR Group. Com mais de 20 anos de experiência a moldar estratégias para marcas globais de consumo, acredita que liderar é mais do que apontar caminhos — é dar espaço para crescer.
«Os erros são essenciais. É a partir deles que se constrói resiliência, confiança e verdadeira evolução», defende. Entre reuniões estratégicas, desafios criativos e o caos bonito da vida familiar, Sandra move-se com um estilo de liderança próximo, mas autónomo, onde cada dia é diferente e a rotina não tem lugar. Na sua equipa, há espaço para falhar — e, por isso mesmo, para florescer.
Como define o seu estilo de liderança e de que forma este contribui para o desenvolvimento das equipas de marketing na Sidul?
Defino o meu estilo de liderança como uma combinação de proximidade e autonomia estratégica. Estou sempre presente e disponível para a equipa, acompanhando de perto cada etapa, mas dou-lhes liberdade total para experimentarem e encontrarem as suas próprias soluções.
Na Sidul, tento ser uma líder transformacional: lanço desafios diários que incentivam a superação, partilho uma visão clara que liga o trabalho de cada uma ao sucesso do negócio e do consumidor, e ofereço uma orientação personalizada, quase como uma coach, ajudando cada pessoa a crescer.
Este equilíbrio permite que as equipas desenvolvam ideias inovadoras, alinhadas com as necessidades do mercado, ganhem confiança para experimentar e aprendam com os erros. No fim, tornam-se profissionais mais resilientes e preparados.
Como é que a Sidul fomenta uma cultura de colaboração e inovação entre as suas equipas?
Na Sidul, a colaboração e a inovação são pilares fundamentais do nosso sucesso. Trabalhamos de forma intencional para os promover, reunindo equipas multifuncionais – marketing, vendas, NPD, supply chain, entre outras – em projetos conjuntos, garantindo que todos alinham esforços em torno de objetivos comuns.
A inovação é também impulsionada por um foco estratégico em dados e ferramentas avançadas. Apostamos fortemente na análise de tendências de consumo e na perspetiva de novos consumidores sobre a nossa marca, o que nos permite identificar oportunidades e trazer inovação ao mercado e à forma como trabalhamos internamente.
Que estratégias utiliza para manter a motivação e o compromisso das equipas em tempos de mudança ou desafios?
Para mim, manter a motivação e o compromisso da equipa em tempos difíceis assenta em três pilares: comunicação transparente, reconhecimento constante e estímulo contínuo. Em períodos de incerteza, procuro explicar de forma clara o ‘porquê’ das mudanças, mostrando como cada elemento da equipa é essencial para o sucesso coletivo – isso dá propósito ao trabalho.
Além disso, celebro sempre as pequenas vitórias, desde um prazo cumprido a uma ideia bem executada, e dou feedback construtivo para que todos cresçam com confiança. Por fim, lanço desafios regulares que quebram a rotina e reacendem o entusiasmo. Acredito que ninguém prospera na monotonia. Este equilíbrio entre clareza, valorização e dinamismo mantém a equipa focada e comprometida, mesmo nos momentos mais exigentes.
Pode partilhar um exemplo de um desafio significativo que enfrentou na gestão de equipas e como o superou?
Um dos desafios mais significativos que enfrentei foi lançar inovação em mercados altamente competitivos, quando as equipas estavam focadas noutras prioridades. Nos últimos anos, tive de liderar o lançamento de novos produtos na Europa, o que implicou coordenar equipas internas e parceiros externos num esforço conjunto.
Adotei uma liderança hands-on, acompanhando cada etapa e ajustando o plano em tempo real, para contornar incertezas e barreiras. Desde o realinhamento de prioridades à resolução de bloqueios operacionais, mantivemos o foco e adaptámo-nos rapidamente aos obstáculos.
O resultado foi o lançamento dos produtos dentro do prazo e com impacto no mercado. Foi uma experiência que reforçou o valor da resiliência e do trabalho em equipa, e que nos deixou verdadeiramente orgulhosos do que conseguimos juntos.
Como vê a evolução do papel das mulheres em posições de liderança no setor empresarial português?
Vejo uma evolução animadora, mas ainda em construção. As mulheres têm conquistado mais espaço em cargos de liderança no setor empresarial português, trazendo diversidade de pensamento e uma sensibilidade especial na resolução de problemas complexos. Esta mudança resulta tanto do talento das mulheres como da abertura gradual das empresas a modelos de liderança mais inclusivos.
Como mãe de cinco filhos e profissional com mais de 20 anos de experiência, sei o quão desafiante é equilibrar ambição profissional e vida pessoal – uma realidade que muitas mulheres vivem.
Apesar dos avanços, persistem barreiras: estereótipos de género e ausência de políticas eficazes de conciliação. O futuro passa por um compromisso sério: mais programas de mentoria, flexibilidade no trabalho e uma cultura que valorize resultados acima de preconceitos. Quando as empresas apostam nas mulheres, ganham em inovação e resiliência – e Portugal está, aos poucos, a perceber isso.
Que iniciativas a Sidul implementa para promover a igualdade de género e apoiar o desenvolvimento profissional das mulheres na empresa?
Na Sidul, a igualdade de género é uma prioridade que traduz o nosso compromisso com a diversidade e a inovação. Adotámos várias iniciativas concretas para criar um ambiente inclusivo e apoiar o desenvolvimento das mulheres, sempre com base no mérito.
Promovemos políticas flexíveis que ajudam a equilibrar a vida pessoal e profissional, e criámos a Women’s Support Network, uma rede dedicada a oferecer apoio e oportunidades de networking às nossas colaboradoras. Este grupo reforça a comunidade feminina da empresa, promovendo a partilha de experiências, o apoio mútuo e o crescimento profissional.
Comemoramos o Dia Internacional da Mulher com fóruns internos onde destacamos histórias inspiradoras. Em 2025, alinhados com o tema Accelerate Action, juntámos colaboradoras para partilhar experiências e discutir formas de promover mudanças positivas. Convidamos também com frequência mulheres líderes de fora da empresa para falar sobre temas como liderança, inovação e igualdade.
Estas iniciativas mostram o nosso empenho em valorizar o talento feminino e criar um ambiente onde todas as mulheres têm espaço para crescer. Quando fortalecemos as nossas colaboradoras, fortalecemos também a Sidul.
De que maneira a Sidul integra a inteligência artificial nas suas estratégias de marketing e desenvolvimento de produtos? Tem sido uma prioridade?
Na Sidul, a inteligência artificial ainda não foi uma prioridade central, mas está a ganhar relevância. Até agora, a nossa abordagem manteve-se mais tradicional, mas começámos a explorar o potencial da IA e a perceber os seus benefícios.
Apesar de não ter sido um foco inicial, é um caminho que acredito que devemos abraçar com maior convicção. A IA oferece eficiência operacional, libertando as equipas de tarefas repetitivas para se concentrarem em estratégias criativas e de maior impacto.
No marketing, permite-nos otimizar campanhas em tempo real e personalizar conteúdos em escala, aumentando o engagement e a fidelização. No desenvolvimento de produto, ajuda-nos a antecipar tendências e responder melhor às expectativas do consumidor. Ao investir nesta tecnologia, a Sidul poderá reforçar a sua competitividade e afirmar-se como uma marca preparada para o futuro.
Como tem evoluído a abordagem à sustentabilidade na Sidul ao longo dos últimos anos? É uma tendência no setor alimentar?
Na Sidul e no grupo ASR, a sustentabilidade é hoje um pilar estratégico. Nos últimos anos, reforçámos o nosso compromisso, nomeadamente no processo de refinação e fornecimento de açúcar. Em 2020, tornámo-nos a primeira refinaria do grupo a adquirir e refinar açúcar 100% sustentável. Isso significa que a rama que chega à Sidul cumpre padrões definidos como essenciais para uma agricultura mais responsável.
Desde 2008, trabalhamos com a Fairtrade, garantindo comércio justo, saúde e segurança nas plantações. A nossa principal origem Fairtrade é o Belize, onde todos os pequenos produtores são membros da associação local. Em 2019, tornámo-nos membros certificados da Bonsucro, que promove práticas sustentáveis na plantação e aquisição da cana-de-açúcar.
Também valorizamos a reutilização dos subprodutos da refinação. Produzimos ‘terras de carbonatação’ (carbonato de cálcio), que a Agência Portuguesa do Ambiente reconheceu como corretivo agrícola. Este subproduto pode ser usado como fertilizante e ajuda a reduzir custos nas culturas.
No setor alimentar, esta evolução é mais do que uma tendência – é uma exigência dos consumidores. Hoje, qualidade e sustentabilidade andam de mãos dadas. Na Sidul, vemos esta pressão como uma oportunidade para inovar e mantermos a nossa relevância num mercado em transformação.
Quais os maiores desafios que o setor alimentar português irá apresentar nos próximos tempos?
A inflação e a pressão nos custos são desafios imediatos, exigindo soluções criativas para manter a competitividade sem comprometer a qualidade. A sustentabilidade continuará a ser uma prioridade, bem como a adaptação a novos hábitos de consumo – como o crescimento do digital e a procura por opções mais acessíveis e diversificadas. A agilidade será essencial para enfrentar este novo contexto e transformar desafios em oportunidades.