O português André Corrêa d’Almeida, professor na Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, iniciou, na primeira semana de outubro, uma ação de rua em Nova Iorque para sensibilizar e promover soluções para combater o problema da corrupção em Portugal.
A primeira de uma série de ações aconteceu junto da estátua Fearless Girl no distrito financeiro de Manhattan pelo simbolismo e também como forma de homenagear a juíza Ruth Bader Ginsburg, que morreu no dia 18 de setembro e foi um ícone na defesa da igualdade de direitos.
Em 2018, lançou a obra sobre inovação urbana “Smarter New York City: How City Agencies Innovate”, que foi publicada pela Columbia University Press. É sobre o tema da inovação que nasce nos municípios que falou no Planetiers World Gathering, evento de inovação sustentável que se realiza nos dias 22 e 23 de outubro no Altice Arena. O economista do desenvolvimento é ainda autor do livro “Reforma do Sistema Parlamentar em Portugal”, publicado pela Principia, em 2019.
O que pretende com a iniciativa anticorrupção em Portugal que lançou em Nova Iorque no início deste mês?
A iniciativa Libertem o Meu País da Corrupção, associada ao slogan #freemycountryfromcorruption e #libertemomeuspaísdacorrupção, vem fomentar um diálogo público pela identificação de outros países com corrupção sistémica semelhante e criar um fórum de troca de ideias para a erradicação deste problema.
A corrupção fomenta a concentração de poder num número restrito de pessoas que alimentam esse vício. Falo de elites partidárias nos seus complôs económicos num País onde a revolução foi muito pacífica e não se criaram disrupções como a Revolução Francesa criou, por exemplo.
A par da má gestão sistémica crónica e das crises sucessivas, que menciono no meu livro “Reforma do Sistema Parlamentar em Portugal”, a pandemia mergulhou Portugal numa nova crise.
Na prática, quais as ações que estão previstas em Portugal?
Com base no trabalho de autores e entidades nacionais e internacionais dedicados ao combate à corrupção, nomeadamente Luís de Sousa, fundador da delegação portuguesa da Transparência e Integridade, a sua nova presidente Susana Coroado e Paulo Morais, ex-candidato à Presidência da República, apresentarei um manifesto com propostas concretas de combate à corrupção em Portugal.
Uma das medidas do novo movimento é a criação pela Presidência da República de uma entidade devidamente financiada que, reportando diretamente ao Presidente da República, mantenha um estatuto de independência, com o objetivo de exercer o controlo sobre a conceção, implementação e avaliação de uma estratégia nacional de combate à corrupção. Esta nova entidade resultará da fusão dos vários organismos públicos que temos em Portugal.
O desvio de dinheiro pela corrupção é a principal causa da pobreza de milhões de portugueses, do mau funcionamento dos serviços públicos por falta de recursos, da injustiça e da desigualdade generalizada.
No caso português o mais dramático é que não há vontade, mas o conhecimento da situação da corrupção já existe. No seu conjunto, os custos acumulados de casos conhecidos de corrupção representam mais de 30% da dívida pública portuguesa. Alguém disse com razão: “Portugal é um País demasiado pequeno para se roubar tanto.” O País não gera riqueza ao contrário dos Estados Unidos, onde há regras para combater a corrupção e os tribunais funcionam.
Enquanto economista do desenvolvimento, qual é o maior desafio na área do desenvolvimento que o mundo enfrenta?
Para mim são as parcerias e que estão descritas no 17.º Objetivo de Desenvolvimento do Milénio das Nações Unidas. Há várias limitações às parcerias para resolver problemas como a fome ou questões de saúde. Isto complica-se porque as sociedades estão organizadas em silos.
Entendo que, pelo facto de terem deixado as parcerias para último lugar, sem parcerias nenhum dos outros objetivos se realiza. A dificuldade em estabelecer parceiras está ligada ao problema da delegação de poder. As pessoas e organizações estão muito agarradas ao poder que adquiriram, apegas ao poder, e daí a dificuldade em estabelecer paceiras que pressupõem “give and take”, ou seja, implicam perda de autonomia. Mas para que tudo isto aconteça são precisos líderes capazes de ver mais além, abdicando do poder no momento presente a favor da sua visão de futuro.