Atravessou a Revolução de Abril com o cheiro do enxofre ainda entranhado nas roupas e, sem nunca renegar as origens, tornou-se o rosto sereno do capital à portuguesa. António Saraiva é uma dessas figuras que rasgam o molde. Nasceu em Ervidel, cresceu em bairros operários, aos 17 anos começou a trabalhar por turnos e com caldeiras, sentiu a pulsação das sirenes industriais — e depois subiu. Subiu devagar, com diplomacia e um jeito antigo de estar, até se sentar à mesa dos grandes interesses, entre ministros, banqueiros e multinacionais. Nunca gritou, mas todos o ouviram.
Hoje, às 18h, no Palácio da Rocha do Conde d’Óbidos — sede da Cruz Vermelha Portuguesa — apresenta-se António Saraiva, Um Certo Perfil, o retrato biográfico do histórico presidente da CIP, escrito por Pedro T. Neves e com prefácio de Ramalho Eanes. Publicado pela Guerra e Paz, o livro devolve-nos o percurso improvável de um homem que começou nas fábricas a dobrar metal e acabou a representar todos os patrões do país.
A Líder esteve à conversa com os dois, num momento de intimidade e memória, onde se tropeçou em silêncios que dizem mais do que os discursos e se resgataram episódios que nunca tinham saído do seu lugar original — as fábricas, os sindicatos, a justiça e os bastidores da diplomacia. Pedro T. Neves, jornalista e autor, ouviu-o com a atenção de quem sabe escutar um país numa só vida.
No livro, não há santificações — mas também não há cinismo. Há trabalho. Muito. Há dúvidas, embates e recuos. E há sobretudo uma lição rara no mundo dos que mandam: saber ouvir.
O «patrão dos patrões», como lhe chamaram, agora passado a papel.

Aos 17 anos, entrou pela porta da Lisnave e encontrou o ruído do ferro e o cheiro da graxa. Hoje preside à Cruz Vermelha Portuguesa. O que ficou agarrado às mãos desse tempo antigo?
António Saraiva (AS) – O que fica agarrado às mãos é o que fica para todos nós: a experiência que vamos acumulando, as sensações que nos moldam, os episódios que, com o tempo, vão esculpindo o nosso carácter. É isso que fica. As várias experiências, desde tenra idade até hoje, na presidência da Cruz Vermelha — um conjunto de experiências acumuladas que foram moldando este ser inacabado que todos nós somos, nesta aprendizagem permanente que vamos tendo.
PTN (Pedro Teixeira Neves) – O António é um exemplo vivo disso. Começou num ambiente operário e foi construindo um caminho a partir dessa base. Mas nunca se desvinculou dela. Carrega ainda hoje a memória e a consciência desse início, o que lhe confere uma autenticidade rara entre os que chegam ao topo.
O que é que um homem aprende quando começa por baixo — e nunca esquece, mesmo quando sobe?
AS – Aqueles que não esquecem — e nem todos são assim — aprendem que há várias formas de ver o mundo. A nossa não é a única. E à medida que acumulamos experiências, com tudo o que elas contêm, vamo-nos tornando mais conscientes disso: não somos donos da verdade. Mesmo quando achamos que temos razão, isso não quer dizer que o outro esteja errado.
Foi isso que fui aprendendo ao longo da vida — com as interações que tive, com os saberes que fui recolhendo dos outros. E isso exige humildade. Aquela humildade socrática: saber que nada sabemos. Ter sede de aprender. Porque se ficamos presos às verdades adquiridas, rapidamente nos tornamos obsoletos. Hoje, o conhecimento envelhece depressa. Por isso, precisamos dessa vontade de continuar a aprender — é isso que nos molda, ao longo do tempo.
PTN – Essa aprendizagem está presente na forma como o António evita o dogmatismo. Ele tem posições, tem convicções, mas raramente o vi ceder à tentação do absolutismo. Talvez por saber o que custa subir, talvez por ter começado lá em baixo, guarda sempre esse sentido de proporção, de equilíbrio, de escuta. Não é um saber enciclopédico — é um saber vivido. O António sabe muito bem quem é. Não há dúvidas de que ele é uma figura pública, mas não se deixa engolir por isso. Tem a consciência clara do seu percurso, daquilo que construiu, mas também sabe que isso não foi feito sozinho.
Por falar nisso, liderar, por vezes, é andar sozinho. Sentiu-se mais vezes rodeado ou mais vezes só?
AS – Senti-me muito mais só. Liderar, em qualquer circunstância — numa empresa, num sindicato, até numa família — é, acima de tudo, um ato solitário. Ao longo da vida aprendi isso: por mais conselheiros que tenhamos, por mais que saibamos ouvir — e devemos ouvir —, a decisão final é sempre nossa. Podemos recolher experiências, opiniões, saberes, filtrá-los com bom senso, mas o momento da decisão, esse instante em que se age, é sempre solitário. E traz sempre dúvidas. Nunca sabemos, no momento, se a decisão tomada é a mais acertada ou se atingirá os objetivos desejados. Só o tempo o dirá.
O António representou fábricas, empresas, países, causas. Mas o que é isso, afinal, de representar os outros?
AS – Representar os outros é tentar calçar os seus sapatos, perceber as suas necessidades, entender os seus pontos de vista e interpretá-los com responsabilidade. Seja numa representação individual — quando alguém nos confia essa missão — ou coletiva, como tive oportunidade de viver, quer no movimento sindical, na liderança da comissão de trabalhadores da Lisnave, com oito mil pessoas, quer mais tarde, na CIP, representando um universo de 160 mil empresas.
Representar exige humildade e consciência da autoridade que nos é delegada. Obriga a agir com ética, responsabilidade e uma equidistância real perante os interesses em jogo. Porque uma representação séria não se faz ao serviço desta ou daquela parte, mas do todo — mesmo quando há pressões, poderes instalados e lobbies que tentam puxar-nos para o seu lado.
Em suma, representar é assumir um ato profundamente responsável, mantendo sempre essa neutralidade ativa, que nos impede de ser reféns e nos obriga a pensar no coletivo.
PTN – Ao longo da escrita da biografia, fui percebendo o que isto queria dizer na prática. Representar é uma arte delicada, sobretudo quando o que está em causa são interesses contraditórios. O António nunca foi ingénuo — sabe onde pisa — mas há nele essa insistência teimosa numa certa ideia de equilíbrio, de justiça. Não para agradar a todos, mas para não trair ninguém.
A propósito disso, esteve com patrões, operários, ministros, reitores. O que é que é sempre igual num ser humano, mesmo quando tudo muda à sua volta?
AS – A grande característica do ser humano está no equilíbrio instável entre as suas virtudes e os seus defeitos. No fundo, o ser humano é a sua circunstância. É essa teia de contextos, experiências e encontros que molda o carácter de cada um.
Independentemente dos cargos que ocupamos ou das responsabilidades que assumimos, trazemos conosco um conjunto de traços que definem a forma como nos posicionamos no mundo. E aquilo que a vida me ensinou, através das múltiplas interações que tive, é que os defeitos e as qualidades atravessam todas as pessoas. Nuns, sobressaem o egoísmo, o egocentrismo, a certeza absoluta de estarem certos. Noutros, a humildade, a ética, a escuta.
Mas cada ser humano é único — e essa singularidade é, talvez, a nossa maior riqueza. Somos um somatório de partes, e é na leitura atenta dessas partes que percebemos que há muito de comum e um pouco de diferença. Foi essa a aprendizagem maior que retirei da convivência com tantas pessoas, em tantos contextos. E, no fundo, quando se despem os papéis, os cargos, os títulos, o ser humano — despojado — é, de certa forma, igual aos outros.
PTN – Numa altura em que se fala tanto de autenticidade, o António não precisa de a simular. Ele acredita mesmo que, despidos os papéis e os títulos, todos temos mais em comum do que pensamos. E é nessa leitura do outro — por vezes silenciosa — que reside grande parte da sua força.
Escutar é um verbo difícil. A que preço se escuta verdadeiramente, sobretudo quando há urgência de falar?
AS – Não é fácil. Sobretudo quando, por dentro, nos apetece gritar. Mas o que o Marcelo me perguntava, e que entendi como: «porque é que tantas vezes, quando queremos explodir, escolhemos o silêncio?», tem que ver com isso mesmo — com um jogo de percepções.
Com o tempo e a experiência, se soubermos tirar delas os devidos ensinamentos, aprendemos a ler melhor o outro. Nem sempre conseguimos, claro, mas vamos desenvolvendo essa capacidade. E, nesse processo, percebemos que, por mais que tenhamos razão — e por mais que a vontade de a afirmar seja quase visceral —, há momentos em que gritar seria perder a oportunidade de perceber quem temos à nossa frente. E perceber o outro exige escuta, exige silêncio — mas um silêncio ativo, que nos permita decifrar.
Por vezes, a maior força está em conter o ímpeto, dar espaço ao outro para esvaziar a raiva ou a impotência que carrega, e só depois, com tempo e leitura, intervir. Esse silêncio, que parece ter um preço, é muitas vezes um ganho. Porque ao calarmo-nos, não rompemos. E quem quer construir pontes, como é o meu caso, precisa de manter as margens ligadas. Só assim se constrói qualquer coisa.
O preço do silêncio, na verdade, é o benefício da relação. E aprendemos que o grito pode até trazer alívio imediato — mas quase sempre leva à rutura. E a rutura raramente constrói.
PTN – Para explicar a simplicidade do António e o seu ‘saber escutar’ basta contar como nos conhecemos. Na nossa primeira conversa, estávamos no café, e depois de algumas horas o estabelecimento fechou. O António foi o primeiro a sugerir que continuássemos a trocar ideias, e fomos sentar-nos num muro ali perto. A partir dali, a figura pública desapareceu e o António, o homem, fez-se notar ainda mais. Ele não fez qualquer esforço para manter as distâncias. E eu comecei a perceber que a visão que eu tinha dele, como ‘patrão dos patrões’, foi completamente desfeita.
Fala-se cada vez mais em diplomacia empresarial — a chamada corporate diplomacy. Trata-se apenas de um nome moderno para a construção de pontes entre mundos que antes se evitavam?
AS– Sim, creio que sim. No fundo, é a forma como nos relacionamos com os outros — em diferentes níveis, com diferentes culturas. A cultura ocidental não é igual à oriental. A portuguesa não é igual à alemã. Cada povo traz à relação os seus próprios códigos, os seus traços históricos e culturais. E é aí que entra a diplomacia: criar entendimento, estabelecer pontes, construir diálogo.
Isso sempre existiu. Hoje chamamos-lhe corporate diplomacy, porque aplicamos a lógica diplomática às organizações. Mas, no fundo, estamos a falar de relações humanas. A diplomacia é o contrário do confronto: ou nos entendemos ou entramos em contenda. Mesmo em guerra, o objetivo último é alcançar a paz. O que agora fazemos é transportar esse espírito para o mundo empresarial, onde também é preciso consensualizar, negociar, encontrar equilíbrios. A terminologia muda, mas a essência é antiga como o tempo.
Portugal parece, por vezes, um país parado a meio da travessia. Falta-lhe escada ou vontade de subir?
AS – A vontade de subir existe. A história mostra isso. Portugal foi pequeno, mas partiu. Descobrimos mundos, muitas vezes por necessidade, outras por aventura. Mais tarde, emigrámos, sem falar línguas, sem conhecer culturas, mas sempre à procura de melhor. Está no nosso ADN: o espírito de superação.
O problema não está na ambição. Está na construção dos degraus. Podemos ter vontade de subir, mas se não construirmos uma escada sólida, degrau a degrau, ficamos a meio. Falamos há anos de crescimento económico. Sabemos o que é preciso. Mas não estruturamos o caminho. Entre burocracias, leis confusas e guerras político-partidárias estéreis, vamos andando para a frente e para trás. Há vinte, vinte e cinco anos que Portugal não cresce de forma sustentada. Identificamos bem os problemas, mas não os resolvemos.
Falta-nos objetividade, um desígnio comum, acordos estruturantes. Em vez disso, temos guerrilhas e protagonismos. O 25 de Abril trouxe três grandes objetivos: descolonizar, democratizar, desenvolver. Cumprimos dois. Falta o terceiro. É essa escada do desenvolvimento que ainda não conseguimos construir.
O país está cheio de talento a prazo, com vidas em suspenso. O que se faz com uma geração assim?
AS – Temos de lhes dar uma perspectiva. O diagnóstico está feito. Sabemos que a nossa estrutura empresarial é frágil — demasiadas microempresas, demasiada precariedade. Sabemos que já não temos o Brasil, nem as colónias, nem a mesma abundância de fundos europeus. E também sabemos que temos vantagens geográficas, que somos uma plataforma atlântica com potencial.
Mas falta-nos coragem para agir. Fala-se de lítio, mas ninguém o quer no quintal. Fala-se de gás ou petróleo, mas desde que não estrague o turismo no Algarve. É preciso um plano, um verdadeiro plano estratégico. Um plano de fomento. O regime anterior teve muitos defeitos — muitos — mas tinha um plano, uma ideia de país. Hoje, temos diagnósticos sem terapias. E isso não chega. É preciso agir. Alterar este estado de coisas. Saibamos dar soluções, e não apenas despejar mágoas.
PTN – Eu vejo as cicatrizes do António como parte do seu processo de construção. Ele faz justiça às pessoas da sua vida, aos seus amigos de infância, àqueles que o acompanharam na sua jornada. Ele não esconde nada, nem mesmo as feridas que o marcaram. E isso é importante. É no respeito pelas suas cicatrizes e pelas dos outros que ele demonstra quem é realmente. A biografia não se trata de uma lista de conquistas, mas de uma história de vida que é construída também pelos outros.
As universidades formam cabeças, mas será que formam vontades?
AS – Acho que não. Acho mesmo que não. E o facto de dizermos, como tantas vezes se diz, que temos hoje a geração mais formada, mais habilitada… eu, de alguma maneira, contesto isso. Temos sim a geração com mais canudos, mais cursos superiores, mas isso não quer dizer que estejam mais bem preparados para o mundo que têm pela frente.
Por exemplo, o curso superior, ainda por cima com a reforma de Bolonha, dá-me quatro anos de um determinado conhecimento. Mas nesses quatro anos, o mundo já mudou. Se eu acabasse o curso e voltasse ao primeiro ano, o plano curricular já teria que ser outro. A velocidade da mudança é tal que aquilo que aprendo hoje pode estar ultrapassado amanhã.
Assim, contam as ferramentas, mas não só as académicas. Contam as outras — a vontade, a adaptação, a ânsia de aprender. É nos vários saberes, nos livros e na vida, que se constrói um futuro. E não está longe o tempo, defendo eu, em que um eletricista ou um canalizador ganharão mais do que um advogado ou um arquiteto.
Está a dizer que essas profissões ‘manuais’ vão valer mais?
AS – Sim. Porque a inteligência artificial vai substituir muitas das profissões com notoriedade social. O robô pode fazer um projeto de canalização, mas não o executa. Não monta uma instalação elétrica nem faz uma soldadura rigorosa. E é aí que está o futuro. Há escolas que já trabalham nisso — formação dual, entre empresa e escola. E há mentes de marca, como lhes chamo, que começam a pensar diferente.
Mas ainda há essa ideia do ‘meu filho vai ser doutor’…
AS – Claro. A minha geração herdou isso dos nossos pais, que por sua vez herdaram dos avós. Vínhamos de um meio rural para o industrial e depois para os serviços. E o sonho era que o filho fosse doutor. Mas de que me serve isso hoje, num mundo cheio de doutores sem oportunidades? Mais vale aprender a ser um bom canalizador.
Se um aluno lhe dissesse: «não quero ser grande, só quero ser justo», o que lhe respondia?
AS – Que é uma excelente forma de estar. Porque uma das minhas maiores angústias é perceber que o mundo está a perder valores, ética, princípios. E o justo, para mim, é o somatório disso tudo e sinal que há esperança. Se deixarmos de querer ser justos, apostando noutras variáveis, corremos o risco de nos desumanizarmos.
Assumiu a Cruz Vermelha num tempo em que o mundo parece estar a arder. Ainda acredita que é possível cuidar tantas feridas?
AS – Acredito, porque tenho experienciado isso. Nestes dois anos na Cruz Vermelha percebi o que não sabia: a pobreza que há neste país. As necessidades instaladas. E se não fossem organizações como a Cruz Vermelha, as Misericórdias, as IPSS, a situação seria insustentável. A fome é má conselheira. Se tiver um filho com fome em casa… não sei do que sou capaz enquanto pai. As desigualdades sociais são a mãe de todas as convulsões. Alimentam populismos, ameaçam democracias.
Se continuarmos com poucos muito ricos e muitos muito pobres, vamos ter problemas sérios. E é por isso que a dimensão social tem que ser levada a sério. Ajudar quem precisa não pode ser um extra — tem de ser uma obrigação humana.
Mas diz que ainda há esperança. Onde a vê?
AS – Na solidariedade. Em momentos concretos, quando há uma recolha de alimentos, quando vemos voluntários a ajudar, percebemos que o humanismo ainda não morreu. A minha angústia é que parece que temos só um quintal, quando devíamos ter um campo inteiro. Mas a semente ainda lá está. É como nas empresas. A responsabilidade social não pode ser só marketing. Não pode ser só ir pintar a sede de uma associação ou fazer um dia de voluntariado para parecer bem. É importante, claro. Mas mais importante ainda é a distribuição de lucros com justiça, os seguros de saúde, as condições de trabalho dignas. Isso é que é responsabilidade social de verdade.
Pedro, o António é cada vez mais raro neste mundo em que vivemos, onde tudo parece ser mais materialista, mais anónimo. Concordas?
PTN – Sim, concordo. O mundo está cada vez mais voltado para o material, mais distanciado do ser humano. Vivemos num mundo onde as pessoas se perdem na busca por status, por lucro, e esquecem-se das coisas que realmente importam. O António, no entanto, nunca se perdeu disso. Ele não se esqueceu da importância das relações humanas, da família, da amizade. Em tempos onde estamos rodeados de tecnologia e pressões externas, o António permanece uma ilha de humanidade.
Este livro não é apenas sobre um ‘patrão dos patrões’, mas sobre um homem que tem algo muito mais profundo a oferecer: a capacidade de ver os outros e de se colocar no lugar deles. Isso é o que o torna único.
E o que achas que o António ainda procura, mesmo depois de tudo o que conquistou?
PTN – Não sei. É difícil dizer, mas há duas coisas. O António é como um ‘MacGyver’ da vida – sempre disposto a arranjar soluções, a apontar, a arranjar. Ao mesmo tempo, ele tem uma enorme generosidade para com os outros, colocando-os quase sempre à frente dele. Por isso, o que o António ainda procura… Talvez seja algo que ele não sabe ainda bem definir. Mas uma coisa é certa: ele continua em movimento. No fim da biografia, eu sugeri ao António que fosse mais devagar, que tivesse tempo para ele. Mas sei que ele nunca vai parar. Para ele, a vida é sobre os outros, sobre a conexão com o mundo e com as pessoas.
Se fosse possível dar um título secreto ao livro, qual seria?
PTN – Um título secreto? Acho que seria algo como ‘Um Mundo em Construção’, porque o percurso do António é exatamente isso – uma história sem ponto final. Ele não é alguém que olha para a vida com um ponto final. O António está sempre a criar, a aprender, a evoluir. Ele é uma pessoa de raízes, que ama o seu país, a sua família, mas nunca se desvincula do mundo, da vida. E isso é algo muito raro, muito precioso. Não é fácil encontrar pessoas como ele.
António, recebeu comendas, medalhas… Sente que cumpriu?
AS – Essas distinções são o reconhecimento de um percurso. Chancelam o passado, não garantem o futuro. O que eu quero é manter-me fiel às qualidades que levaram a esse reconhecimento. E no dia em que morrer — se tiver consciência disso —, quero partir com a tranquilidade de saber que, se tivessem de me dar esse galardão naquele momento, ele ainda faria sentido.
Que frase deixaria escrita no caderno de um adolescente de 17 anos?
AS – Entendendo por justo o conjunto de valores que lhe caracterizei, ser justo.