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António Saraiva quer um país de empreendedores e não de dependentes do Estado

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25 Novembro, 2022 | 18 minutos de leitura

Aproxima-se o fim do seu último mandato à frente da CIP, cargo que exige capacidade de ouvir e compreender os outros e, acima de tudo resiliência para enfrentar tensões tão fortes e opostas, e também “tantos erros políticos cometidos”.

António Saraiva, agora Doutor Honoris Causa pela Universidade Lusófona, deu à Líder uma entrevista exclusiva sobre o significado deste doutoramento, sobre a sua visão do país e dos nossos empresários, deixando uma mensagem clara para poder político e uma palavra de força para alavancar o empreendedorismo num país que tanto precisa de crescer.

Qual o significado para si deste Doutoramento Honoris Causa? 

Não tendo seguido uma vida académica tradicional, não é por essa dimensão que o doutoramento faz mais sentido. Vejo-o como o reconhecimento de um trajeto de vida onde tive oportunidade de colocar a minha experiência pessoal ao serviço de causas, ao serviço dos outros. Constitui natural motivo de orgulho que, não tendo conseguido concluir a licenciatura que tanto desejei, não tendo a vida permitido que lograsse o título académico para o qual me sentia preparado no início da minha atividade profissional, seja agora, mais perto da fase final, que a academia revisita os meus dias, atribuindo-me um título honorifico, não pelo trajeto de saberes académicos, mas sim pela experiência acumulada.

A sua formação não contemplou estudos universitários, não obstante a sua formação ao longo da vida é inequívoca? Quais são as suas fontes de aprendizagem?

Ainda consegui frequentar os estudos universitários quando iniciei a minha vida profissional. Tentei conciliar o trabalho com os estudos, mas as exigências da vida não me deixaram vencer essa batalha. A minha universidade foi o trabalho, foi a vida. E ela é uma fonte inesgotável de saber e de conhecimento. As minhas fontes privilegiadas de aprendizagem sempre foram as relações com os outros, a tentativa de os compreender e com eles interagir. O cuidado na observação das suas partilhas e a tentativa de melhorar sempre em mim a capacidade de acumular saber. Emanuel Kant dizia que o homem é a sua educação e as suas circunstâncias. Educação e circunstâncias também nós as podemos criar, independentemente de todas as dificuldades.

Quais os temas que lhe suscitam mais interesse? Imagine que teria agora de começar um percurso académico, qual seria a sua opção?

A Engenharia está na base de tudo o que fui enquanto profissional e enquanto empresário. O fascínio do funcionamento físico dos elementos e a criatividade e engenho que exigem, sempre despertaram em mim enorme curiosidade. Se iniciasse hoje o meu percurso académico regressaria ao ponto onde o interrompi.

 

Como olha para o mundo do ensino em Portugal?

O ensino em Portugal, como todas as demais áreas no país, tem vindo a evoluir de forma sustentada e muito estruturada. Os exemplos que observamos no campo universitário, na investigação científica, permitem-nos sonhar com um lugar de liderança futura. E isso é crucial para que a genialidade e a excecionalidade lusitana possam emergir naturalmente. Julgo que no quadro de todo o sistema de ensino, enquanto no meio universitário isso tem acontecido, a níveis mais preliminares de ensino, o sistema não tem sabido acompanhar a preparação das novas gerações para áreas onde o mundo mais necessitará delas.

Ser presidente da CIP tem exigido muito de si, talvez a maioria das pessoas não saibam o que exige um cargo deste tipo. Que características destaca como sendo as mais importantes para estar nesta função?

Como Presidente da CIP, ou como líder de qualquer organização, o que o cargo mais exige é a capacidade de ouvir e compreender os outros. Somos timoneiros de uma nau em que temos de levar todos a remarem para o mesmo lado, em nome dos superiores interesses da instituição que nos reúne. Quando acreditamos naquilo que defendemos, tudo se torna mais fácil.

Nos anos em que liderei a CIP acreditei sempre que as causas que defendíamos em sociedade, junto dos diferentes governos, eram aquelas que melhor poderiam contribuir para o crescimento do país. Como não decidimos sozinhos, foi necessário construir grande resiliência perante tantos erros políticos cometidos. Foi necessário construir uma enorme capacidade para continuar a resistir, persistindo.

Considera que a falta de formação dos nossos gestores e empresários pode estar também na origem das dificuldades de afirmação das nossas empresas? Refiro-me às questões da produtividade e competitividade?

Não necessariamente. Ninguém sabe tudo, nem ninguém faz nada sozinho. É em equipa que o sucesso melhor aparece e se transforma em valor. Um empresário não necessita de ser um cientista para empreender. Ele necessita é de saber contratar quem agregue conhecimento e valor ao seu projeto.

Infelizmente em Portugal, à falta de melhor desculpa, a competitividade e a produtividade são culpa do empresário e não das políticas que o esmagam. Citando Bertold Brecht: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.”

Acha que está a nascer uma geração mais criativa e bem formada de empresários?

Julgo que à medida que o sistema de ensino evolui, evolui igualmente o saber e a experiência de formação dos empresários. Quanto mais evoluímos, mais bem preparados serão as novas gerações.

Como imagina o nosso país daqui a 5 anos?

Se o poder político conseguir dar liberdade de crescimento aos nossos empresários, imagino um país vibrante, criativo, em crescimento económico e social permanente. Se não der essa liberdade, vejo um país de crescimentos endémicos, onde ser empresário é quase um ato de loucura.

E o António que papel pode ter nas mudanças de que o nosso país precisa?

No futuro, o de espectador atento sobre a aceitação de tudo aquilo que sempre defendi: uma sociedade livre, justa, onde a economia de mercado permita que cada um seja senhor do seu sustento, num país de empreendedores e não dependentes do Estado.

 

DISCURSO

Proferido no ato de recebimento do Doutoramento Honoris Causa

Bom dia a todos.

Senhor reitor, senhor primeiro-ministro e, na sua pessoa, todos os membros do governo presentes.

Agradeço as palavras generosas que me foram dirigidas, nesta cerimónia, pelo Senhor Professor Doutor Manuel de Almeida Damásio, pelo Magnífico Reitor desta Casa, Senhor Professor Doutor Mário Caneva Moutinho e pelo Senhor Professor Doutor Luís Reto, meu Padrinho Académico.

É para mim uma honra e um privilégio imensos receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Lusófona.

Naturalmente, é com orgulho que aceito e agradeço esta distinção que me é concedida.

Orgulho de alguém cuja vida – e as escolhas feitas ao longo dela – não proporcionaram a oportunidade de alcançar graus académicos superiores e que aqui se sente acolhido nesta prestigiada Universidade como um dos seus.

É também, e sobretudo, com um enorme sentimento de alegria que vejo nesta honra o reconhecimento dos valores por que tenho procurado pautar a minha vida e das causas que tenho abraçado.

Estou consciente da responsabilidade que me cabe e a que procurarei corresponder, através da partilha de uma experiência que não provém do mundo universitário, mas da minha dedicação à sociedade civil do meu país, em particular à sua comunidade empresarial, como empresário e como dirigente associativo.

As palavras que agora vos dirijo espelham o que sou. E o que sou provém das minhas origens, do que fizeram de mim o ambiente e as circunstâncias que me moldaram e do que, em cada momento, tenho escolhido fazer do que recebi da vida.

Sou um alentejano orgulhoso das minhas origens. Aos seis anos de idade saí da aldeia onde nasci – Ervidel – juntamente com os meus pais, em busca de uma vida melhor. Os meus sonhos de criança centraram-se sempre sobre dois desejos: ter um triciclo e um irmão.

Nem um nem outro realizei!

Eram tempos marcados por uma ditadura tacanha, sob a qual ainda vivi parte da minha juventude. Chegado a Lisboa, com os meus pais, fomos viver para perto do Miradouro de Santa Luzia, entre o Castelo e Alfama. Aí viviam outros miúdos como eu. Éramos feitos traquinas pela escola da rua.

Éramos todos oriundos de famílias muito pobres, mas na ausência e na carência também descobrimos o melhor que há em nós, desde muito novos. Nestes bairros gerava-se muito esta solidariedade em que do pouco se fazia muito. Em que o espírito de grupo gerava uma corrente de solidariedade e de coesão entre nós que nos fazia partilhar todo o pouco que tínhamos.

Foram anos duros, mas recheados de uma beleza sem igual, onde aprendi o valor da coesão e da solidariedade.

Onde aprendi o valor da amizade.

E, crescendo, desses anos aprendi a dar valor à democracia e à liberdade.

Aprendi, depois, desde as ameaças extremistas do PREC, aos dias de hoje, marcados pela ascensão de populismos, que a defesa da democracia e da liberdade exige uma ação inteligente, responsável e corajosa por parte dos moderados.

Exige uma ação inteligente porque, se extremismos e populismos se alimentam da difusão de mensagens simplistas e da manipulação da realidade, então é preciso, pacientemente, desconstruir essas mensagens e denunciar a ficção.

Exige uma ação responsável, que deve apresentar soluções reais aos anseios dos cidadãos, não deixando aos promotores da demagogia e da irresponsabilidade o monopólio da promessa de um futuro melhor e mais próspero.

Não nos esqueçamos, como alguém disse um dia, que a liberdade dos lobos representa muitas vezes a morte das ovelhas!

Exige, finalmente, uma ação corajosa, porque, se os populistas são aclamados pela sua aparente coragem, é preciso que os moderados afirmem verdadeira coragem na defesa intransigente dos seus princípios e valores fundamentais.

Aprendi, também, que a defesa da qualidade da democracia depende não só dos políticos, mas da sociedade civil.

Testemunhei, depois de 1974, como os partidos políticos lideraram as transformações sociais, promoveram reformas estruturais, fixaram doutrinas económicas e procuraram ser sempre os depositários das expectativas dos diversos grupos sociais.

Foram, ao longo dos anos, concentrando um poder excessivo, secando todas as formas de participação social que tentaram gravitar fora do seu espectro. Nunca resistiram à tentação de procurar abafar o exercício livre de formas alternativas de participação social.

Ao longo do tempo, foram-se deixando manietar por querelas internas. Deixaram de ser motores da sociedade. Perderam dinâmica e capacidade de inovação. Abdicaram das causas em nome do pragmatismo. Preferiram as táticas à estratégia.

Defender a qualidade da democracia é hoje responsabilidade dos partidos políticos, da sua capacidade para repensarem estratégias e a sua própria atuação.

Mas depende, também, repito, do dinamismo da sociedade civil.

É certo que a sociedade civil e a maturidade que já atingiu nada tem a ver com a realidade anterior ao 25 de Abril, mas está ainda muito longe da sociedade forte, livre e autónoma que ambicionamos. Só associados, das mais diversas formas, poderemos construir uma sociedade civil forte, dinâmica e, sobretudo, mais participativa.

Minhas Senhoras e meus senhores, meus amigos!

Cresci num Portugal marcado pela pobreza e pelas desigualdades, tanto territoriais como sociais, a que sempre fui sensível.

Não posso deixar de constatar que o Portugal de hoje é bem diferente do Portugal desses tempos. Portugal progrediu, economicamente e socialmente. Lamentavelmente, tenho de constatar, também, que o caminho trilhado nos últimos 20 anos foi de empobrecimento relativo.

Nos últimos 20 anos, todos os países da União Europeia do antigo bloco de leste, que eram mais pobres que Portugal, convergiram com a média europeia, demonstrando que a convergência é possível!

Portugal divergiu.

Depois de duas décadas em que alternámos crises e crescimento anémico, não nos podemos conformar com os bloqueios que continuam a travar o crescimento económico e a alimentar o atual sentimento de insatisfação face às aspirações de bem-estar individual e de equidade coletiva da sociedade portuguesa.

A pobreza, que hoje persiste, não tem a mesma dimensão nem a mesma violência da pobreza desses tempos. Temos, hoje, mecanismos e apoios sociais que a atenuam. Mas não basta!

A pobreza e as desigualdades devem ser combatidas com um Estado Social forte, mas a preservação e o fortalecimento do Estado Social não terão futuro com base em promessas de medidas meramente redistributivas, sem consciência de que não podemos distribuir a riqueza que não produzimos! Terá necessariamente de ser sustentada pelo aumento da criação de riqueza, que só pode ser proporcionado por empresas competitivas e com trabalhadores motivados, num ambiente de negócios propício à sua atividade. Em suma, só poderemos ter um Estado Social justo com empresas fortes, inovadoras em produtos e processos e que sejam reconhecidas, nas políticas públicas, como o motor do crescimento da economia.

As desigualdades sociais e a pobreza vencem-se, sobretudo, através da aposta na educação, na formação dos mais jovens e na requalificação dos adultos, gestores e trabalhadores, ao longo da vida. Através da criação de igualdade de oportunidades, da promoção de condições propícias à criação de mais e melhor emprego.

A pobreza em Portugal é ainda um problema estrutural e uma das razões é o facto de o elevador social estar longe de funcionar bem.

Orgulho-me das minhas origens humildes. O que sou, hoje, é prova de que é possível vencer os determinismos que impedem a mobilidade social. Gostaria que esses determinismos fossem, no Portugal de hoje, bem menos pesados.

Como romper o círculo vicioso que liga a origem social às trajetórias de vida?

Como conseguir que o lugar de onde vimos não nos impeça de chegar ao destino que ambicionamos?

Educação e formação são, como referi, fundamentais. Foram fundamentais na minha vida!

O empreendedorismo é, também, via para a mobilidade social. Não estaria aqui se não tivesse arriscado, numa decisão difícil e crucial, aventurar-me ao adquirir, em 1996, através de um MBO, a Metalúrgica Luso-Italiana, tornando-me empresário.

Mas ser empresário em Portugal, mais ainda, tornar-se empresário em Portugal é uma tremenda aventura.

Olhando para o sistema financeiro que temos, com a perceção do risco que tem, com a deficiente capacidade de avaliação do risco que tem, pergunto-me se seria possível, hoje, a alguém, nas circunstâncias que eram as minhas em 1996, adquirir com sucesso uma empresa, nas condições em que o pude fazer.

Temo que tenhamos retrocedido, em vez de avançar, neste domínio.

Acrescem todas as camadas de bloqueios burocráticos, de obrigações declarativas, de regulamentação labiríntica e de exigências absurdas, que pesam sobre as empresas. Sem libertar as empresas desta tremenda carga, não nos podemos queixar da falta de iniciativa empreendedora dos nossos jovens e da crescente dificuldade em desenvolver mais empresas.

A mobilidade social está também prisioneira de mentalidades e preconceitos.

Somos ainda um país onde supostas elites vivem em círculos sociais fechados, que veem com preconceito, ou mesmo como uma ameaça, quantos não frequentaram as mesmas famílias, os mesmos colégios e os mesmos salões. Sei-o bem.

Aprendi a conviver com estes preconceitos com serenidade e alguma dose de autoconfiança.

Minhas senhoras e meus senhores, meus amigos,

Como vos disse, sou um alentejano orgulhoso das minhas origens. O Alentejo de hoje é bem diferente do Alentejo onde nasci. No entanto, as desigualdades territoriais fizeram com que, como tantas parcelas deste país, tenha sofrido, há muitas décadas, de um processo de desertificação persistente, com a consequente perda de todo um imenso património cultural e natural. Este processo continuará a implicar o desperdício de importantes recursos naturais e, sobretudo, humanos.

Do ponto de vista económico, com a dimensão que temos, não nos podemos dar ao luxo de manter afastadas do desenvolvimento, praticamente improdutivas, largas zonas do território nacional.

Não deveria fazer sentido, no século XXI e num país que ocupa uma faixa atlântica com pouco mais de 200 quilómetros de largura, falar de interioridade.

Só por si, o livre jogo das forças do mercado tem-se revelado incapaz de conduzir a uma maior convergência de níveis de desenvolvimento, pelo que poderemos concluir da necessidade de políticas de desenvolvimento regional.

Rejeito uma conceção destas políticas como uma mera transferência de recursos orçamentais das regiões mais ricas para as mais desfavorecidas. Só por si, esta política não gera verdadeiro desenvolvimento, dado que perpetua o problema económico de base (e o desperdício de recursos).

A experiência do passado mostra, também, que o esforço de desenvolvimento regional centrado no equipamento em infraestruturas é claramente insuficiente.

É certo que é necessário entender o desenvolvimento regional, mais uma vez, como um combate pela igualdade de oportunidades. Deverá ser feito através da rutura com os fatores de bloqueio que estão na base do atraso relativo das regiões mais desfavorecidas, entre os quais a insuficiência ou inadequação de recursos, sejam eles infraestruturais, de capital ou humanos, nas suas várias dimensões.

Tenho defendido que é nas empresas, sejam pequenas, médias ou grandes empresas, de todos os setores e de todas as regiões, que reside o potencial para relançar Portugal numa trajetória de crescimento sustentado.

Também ao nível regional e local, o esforço de desenvolvimento deverá centrar-se na promoção da capacidade e iniciativa empresarial, quer local, quer com origem no exterior.

Minhas senhoras e meus senhores, meus amigos,

Nestas minhas palavras, transparecem muitas das minhas inquietudes e das causas por que tenho combatido. Na minha vida, esteve sempre presente este sentimento de insatisfação permanente que me tem impelido à ação.

Não podemos permitir que alguém se aproprie do nosso destino.

Uma grande lição que aprendi foi a de que não basta agir individualmente. Temos de ter a capacidade de olhar, criticamente, os problemas como membros de uma sociedade global. Mas temos também de ter a capacidade de trabalhar com os outros de forma cooperativa e de assumir responsabilidades ao nível dos papéis e deveres na sociedade.

Assumi, há muito, a certeza que a minha responsabilidade passa por uma atitude de cidadania ativa, não só individualmente, mas, sobretudo, ao serviço de um associativismo forte e coeso, reforçando a sua capacidade de intervenção na sociedade.

Acredito que o associativismo é a forma mais eficiente e eficaz de cidadania ativa.

Esta certeza fez de mim o que sou hoje.

Nas instituições em que me integrei, sempre considerei que o bem comum resultava não da afirmação soberana dos meus interesses individuais, mas da concertação dos interesses de todos em torno de uma causa maior.

Por isso, no meu percurso de vida, tenho assumido uma posição de líder, consciente dos problemas que envolvem tanto o mundo empresarial e a vida das empresas, como o universo associativo que nos rodeia.

Orgulho-me de ser, na minha condição de líder associativo, um criador de pontes.

Quando liderei a Comissão de Trabalhadores da Lisnave, num ambiente sindical que me era adverso orgulho-me de ter conseguido fazer o primeiro contrato social deste país. Tenho a convicção que com isso contribuí, na altura, para salvar a empresa. Contributo que continuo hoje a dar na preservação das nossas empresas.

Os ensinamentos e a sensibilidade que recolhi daquele tempo foram-me de extrema utilidade para as negociações em que tenho participado nos últimos anos, em representação da CIP, e que conduziram aos Acordos de Concertação Social.

Continuo a arquitetar pontes, continuo a estreitar margens!

Sem abdicar das causas que abraço e dos valores que me guiam.

Com a inquietude cívica que sempre me caracterizou. Com a inquietude cívica que sempre me acompanhará!

Citando Albert Camus:

“Uma nação morre porque as suas elites se dissolvem”

Termino, dedicando este título agora recebido à minha família.

À minha mulher, aos meus dois filhos e à minha mãe. Sempre me apoiaram e por vezes em condições bem difíceis.

Ao meu pai, que já partiu, e de quem tenho enormes saudades, pelo enorme orgulho que sei que teria.

Conta-me a minha mãe que, quando eu tinha dois anos, tendo-me vestido uma roupa nova, fui bater à porta da minha madrinha dizendo: “abra a porta ao senhor doutor.”

Agora, ao fim de 67 anos, não a minha madrinha mas esta Universidade abriu-me a porta!

Muito obrigado!

António Saraiva

23-11-2022″

Catarina Barosa,
Diretora de Conteúdos Revista Líder
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