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Home Ciência Notícias As emoções podem ser um gatilho para chegar à Ciência

Ciência

As emoções podem ser um gatilho para chegar à Ciência

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9 Maio, 2023 | 14 minutos de leitura

A Ciência das Emoções e as Emoções na Ciência. Segundo o Dicionário Houaiss “Emoção” (do francês, émotion, que só surgiu no século XV, derivada do termo latino para “movimento”) significa “agitação de sentimentos, abalo afetivo ou moral, turbação, comoção”. A relação entre Ciência e Emoções não é simples.

 

A ciência, na sua análise do mundo, procura precisamente libertar-se desse tipo de constrangimentos, pois eles dificultam ou mesmo impedem a objetividade que os cientistas almejam. Os cientistas têm emoções como toda a gente e o seu trabalho profissional não pode escapar a essa condição. Acontece, porém, que o ser humano faz parte do mundo, pelo que a ciência também o tem por objeto: a Psicologia é a ciência que procura estudar as emoções e, no seu quadro, segundo diz o mesmo Dicionário, “emoção” é a “reação orgânica de intensidade e duração variáveis, geralmente acompanhada de reações respiratórias, circulatórias, etc., e de grande excitação mental”. Mas a Psicologia não é a única disciplina a estudar emoções: ligadas com ela estão não só a Psiquiatria, a Neurologia, a Biologia, mas também as Ciências da Computação e a Filosofia, para não falar da Sociologia e da História.

Dada a complexidade do humano, só se pode tentar compreender as emoções numa perspetiva interdisciplinar.

A etimologia que associa emoção a movimento é decerto apropriada: quando estamos emocionados, sofremos mudanças visíveis. Em geral, há um gatilho externo: tudo começa com um qualquer tipo de perceção e o processo passa rapidamente por uma avaliação cognitiva, preparação interior de uma resposta, expressões fisiológicas (expressões faciais e vocais são comuns, podendo incluir, por exemplo, choro ou riso), e a instalação de sentimentos, que podem ser mais ou menos duradouros (fica uma “experiência subjetiva”). Tradicionalmente, separavam-se os processos cognitivos, associados ao “pensar”, dos processos sensoriais, associados ao “sentir”. Mas hoje sabemos que os dois estão misturados.

O neurologista António Damásio afirmou, no seu famoso livro O Erro de Descartes. Emoção, Razão e o Cérebro Humano (de 1994), que o Filósofo e Cientista René Descartes se tinha equivocado quando, no quadro da teoria que ficou conhecida por “dualismo corpo-mente”, expressa em Meditações sobre a Filosofia Primeira, de 1641, pretendeu separar o corpo (res extensa) da alma ou espírito (res cogitans): os dois só contactariam num pequeno órgão do cérebro, a glândula pineal. A questão era complicada para o próprio Descartes, pois, no seu último livro, Tratado das Paixões da Alma, de 1649, tentou descrever como os “espíritos animais”, que seriam responsáveis pela dinâmica animal, causavam, nos seres humanos, paixões, o nome primitivo das emoções (até ao século XVIII tinham-se só paixões e não emoções, por esta palavra não estar disseminada…).

Para Descartes, a paixão era sofrida pelo sujeito, mais do que sentida, isto é, tratava-se de um processo mais passivo do que ativo.

Se a separação cartesiana entre corpo e alma se revelou útil, pois permitiu que a ciência se desenvolvesse colocando de lado a ideia de Deus (res divina), o certo é que a ciência moderna sabe hoje que não existe uma mente, pelo menos com as propriedades da mente humana (a mente é um nome moderno para designar alma), sem um corpo. É através do corpo que a mente experimenta o mundo, reconstruindo-se permanentemente.

Na linha de Damásio vão os estudos do neurologista Joseph LeDoux, autor de O Cérebro Emocional (1996). Mesmo com o concurso da neurologia, que tem conhecido progressos impressionantes com o auxílio de técnicas oriundas da física como a imagiologia por ressonância magnética, a tomografia por emissão de positrões e a optogenética, as emoções são ainda um assunto muito misterioso do ponto de vista científico. Há-as de todos os tipos, tornando difícil a classificação, e, evidentemente, cada um tem as suas, pessoais e dificilmente transmissíveis. A literatura – e a arte em geral – tem sabido descrever mais e melhor as emoções do que a ciência. Uma questão muito interessante é a do aparecimento na história natural das emoções. O naturalista Charles Darwin, no seu livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais (de 1872, o ano seguinte ao da publicação de A Ascendência do Homem e a Seleção na sua Relação com o Sexo, no qual o autor atribuiu à espécie humana uma origem natural) chamou a atenção para semelhanças nas expressões faciais das emoções entre o Homem (de toda uma variedade de etnias) e de animais (de uma grande variedade de espécies).

Para Darwin, existiam seis emoções básicas: raiva, medo, surpresa, nojo, alegria e tristeza. Nos tempos de hoje, o psicólogo Paul Ekman e os seus colaboradores desenvolveram a sistemática das emoções, estudando, como Darwin, expressões faciais. Para eles, as emoções básicas começaram por ser seis (como em Darwin, mas substituindo o nojo pela surpresa), tendo acrescentado outras como o divertimento, o espanto, a satisfação, o desejo, o embaraço, a dor, o alívio, a simpatia, etc. Há toda uma “roda de emoções”, algumas diametralmente opostas. Mas não conhecemos ainda bem qual a origem evolutiva do choro ou do riso, que são caraterísticas eminentemente humanas: de facto, há animais com lágrimas, mas parece que se trata de um processo de lubrificação dos olhos e não um meio de expressar emoções; e há também animais, nomeadamente primatas, que riem com a óbvia intenção de comunicar, embora sem ser pelas mesmas razões que os humanos.

Quando e porquê começaram o choro e o riso? Sabemos que o Homem de Neanderthal já realizava cerimónias fúnebres e também sabemos que tinha todo o equipamento vocal para se poder rir, mas falta-nos ainda saber mais, sobre essa e outros predecessores do Homem moderno, o Homo sapiens, que surgiu em África há 200 mil anos, espalhando-se depois pelo globo. Uma questão muito interessante, e por isso alvo de estudo intenso, é a de saber se se pode haver máquinas que, não tendo um corpo sensível como o nosso (podem ter e têm sensores de vários tipos, alguns que ultrapassam os nossos, como sensores de ultrassons ou de infravermelhos), são capazes de experimentar emoções. A resposta mais imediata é negativa: as emoções seriam fenómenos exclusivamente humanos ou, quando muito, animais.

Mas será que há respostas que incorporem características emocionais, ou pelos menos que deem a ideia dessas características?

Nos dias de hoje, a questão não é apenas filosófica – o que é o humano? – mas também prática.

No cérebro humano existem mais de 80 mil milhões de neurónios, ligados cada um deles a muitos outros de um modo inextrincável, que disparam constantemente impulsos nervosos, que não são mais do que microcorrentes elétricas, resultando daí as nossas capacidades e comportamentos. Ora, muitas características que alguns pensaram que eram apenas humanas já são hoje realizadas por máquinas – neão é só jogar bem xadrez, como ficou claro com a vitória do computador Deep Blue sobre o campeão do mundo Garry Kasparov em 1997, e com os atuais sistemas de reconhecimento de rostos ou de processamento de imagens médicas, para não falar dos sistemas de processa[1]mento de informação como o recentíssimo Chat GPT. De acordo com alguns teóricos da inteligência artificial, o cérebro humano não passa de uma máquina, que pode por isso ser imitada por outra máquina. Mas há, claramente, problema das emoções e há ainda o problema da consciência.

Sabemos que a maior parte das nossas decisões são influenciadas por emoções:

daí a questão da relevância das emoções na liderança (um bom líder tem de saber perceber as emoções dos outros e também ter as emoções adequadas para influenciar os outros).

O pioneiro da inteligência artificial, Marvin Minsky, disse num livro de 2006, A Máquinas das Emoções: Pensamentos de Senso Comum, Inteligência Artificial e o Futuro da Mente Humana, que as “emoções não são substancialmente diferentes dos processos a que chama os pensamentos.” Haverá algoritmos que incorporem emoções de algum modo? Ou, pelo menos, que parece que incorporem emoções (no famoso Teste de Turing da inteligência artificial, trata- -se de parecer humano)? Muitos cientistas e engenheiros trabalham hoje na chamada “computação afetiva”, isto é, o estudo e desenvolvimento de sistemas que conseguem reconhecer, interpretar e processar, e simular emoções humanas. Rosalind Picard escreveu o livro Computação Afetiva, em 1997. Afinal não será muito difícil que um robot perceba que alguém na sua frente está a chorar ou a rir. Ou reconhecer em faces humanas as expressões que Darwin e Ekman classificaram. Ou que os técnicos reproduzam numa máquina comportamentos de choro e de riso. As potenciais aplicações deste tipo de sistemas informáticos encontram-se em áreas como a educação, os serviços de saúde, a segurança e o entretenimento (designadamente jogos digitais).

Para já não haverá perigos? É óbvio que eles espreitam e que, nesta como noutras questões da inteligência artificial, se colocam questões éticas sérias. Podemos ter as ideias que quisermos sobre as possibilidades das máquinas, mas temos de estar atentos. Penso que nunca haverá o que alguns anunciam como uma “singularidade”, um tempo em que as máquinas passem totalmente os humanos. Mas estou consciente de que há inovações que causam ao mesmo tempo espanto e medo. Repare-se como advêm emoções dos resultados da ciência e da tecnologia… Mas, tendo visto, ainda que em termos gerais, como a ciência e a tecnologia estão a considerar a questão das emoções não posso deixar de olhar para o outro lado da moeda: como é que os cientistas lidam com emoções no seu trabalho, até que ponto as emoções os levam nos caminhos das descobertas científicas ou das suas aplicações práticas? Não podendo nunca desligá-las, em que medida é que elas os perturbam e limitam?

Cada cientista é um ser humano concreto, que experimenta sempre emoções, mesmo quando faz ou pretende fazer os raciocínios mais lógicos possíveis. O cientista começa por tomar a decisão de escolher este ou aquele assunto e a sua curiosidade é naturalmente condicionada pela sua experiência e gosto. Não pode deixar de ter emoções no seu trabalho, sejam elas de espanto, de medo, de alegria ou de tristeza.

Muitos exemplos poderiam ser dados. Escolho um dos meus cientistas preferidos, o físico americano Richard Feynman, que ganhou em 1965 o prémio Nobel da Física, juntamente com outros dois seus colegas, por ter desenvolvido a Eletrodinâmica Quântica, a teoria quântica da luz e dos eletrões, que explica todos os fenómenos eletromagnéticos. Feynman deixou-nos, para além da sua literatura técnica, dois livros autobiográficos, nos quais mostra várias facetas do seu lado humano: Está a Brincar Sr. Feynman e Nem Sempre a Brincar, Sr. Feynman. E há um bom livro biográfico sobre ele: Feynman, a Natureza do Génio, do jornalista James Gleick. Há momentos da sua vida em que há uma explosão muito intensa de emoções, que perturbou o seu trabalho. Uma ocorreu no funeral do seu pai, um personagem que marcou a sua infância por ter desenvolvido a sua atitude perante a vida, designadamente a curiosidade. Quando o rabi (a família de Feynman era judaica) pediu ao filho para ler umas orações, ele ficou bloqueado, recusando-se a fazê-lo. A irmã explicou que ele não sabia hebreu, mas a verdade é que Feynman não tinha sentimentos religiosos. Mas experimentou duramente a morte do pai: logo a seguir teve um ataque de choro. E a recuperação do choque foi penosa. Um outro momento dramático da sua vida aconteceu quando ele estava a trabalhar em Los Alamos, Novo México, no projeto ultrassecreto da construção da bomba atómica. A sua esposa, Arline, estava doente terminal com tuberculose no hospital de Albuquerque, onde Feynman se deslocava todos os fins de semana (nos outros dias trocavam cartas). Um elogio que o físico faz ao líder científico do projeto, Robert Oppenheimer, foi o seu lado humano: tinha assegurado que havia um quarto de hospital para Arline, perto do local do projeto. Um dia Feynman, chamado à pressa, assistiu à morte da mulher, que se deu na forma de um apagamento gradual. O choque sentimental que teve não foi imediato. Tentou voltar ao trabalho, até porque aquela morte era esperada. Mas, mais tarde, conta ele, ao ver um vestido numa montra, lembrou-se de como ele iria agradar a Arline.

Entrou num estado depressivo. Chegou mesmo a escrever uma carta que manteve fechada num envelope e que só foi revelada depois da morte do autor: “… Já faz um tempo terrivelmente longo desde a última vez que te escrevi – quase dois anos, mas sei que me vais desculpar porque sabes como sou, teimoso e realista. Pensei que não fazia sentido escrever-te. Mas agora sei, minha querida esposa, que faz sentido fazer o que demorei a fazer e que tanto fiz no passado. Quero dizer-te que te amo. Eu quero amar-te. Irei sempre amar-te. Richard

P.S. – Por favor, desculpa não ter enviado esta carta antes, mas não sei o teu novo endereço.”

Feynman passou por uma terrível crise, que prejudicou o seu trabalho. Haveria de ter uma fase de promiscuidade sexual, só porque não conseguia encontrar a parceira certa (voltou a casar duas vezes, uma correu mal e a outra muito bem). Um cientista experimenta, como toda a gente, as exaltações do amor e as agruras do luto.

Por outro lado, leitura dos seus relatos mostra como o seu trabalho científico passou por processos de excitação emocionais. Um dos artigos que lhe valeu o prémio Nobel só foi escrito porque uma amiga o trancou num quarto e não o deixou sair enquanto não terminasse o artigo: o artigo foi escrito indiscutivelmente com raiva e desespero.

Um outro aspeto relacionado com emoções foi a sucessão de tentativas que Feynman fez para compreender a arte. Quando Arline estava a praticar caligrafia chinesa, o marido percebeu que havia uma sensibilidade estética difícil de comunicar, mas fácil de sentir. E, quando o físico foi visitar a Capela Sistina no Vaticano, ganhou finalmente confiança na sua capacidade estética quando percebeu que algumas das figuras na base da parede pintadas por outros que não Miguel Ângelo tinham qualidade enquanto outras não. Teve lições de desenho com um amigo pintor: percebeu que havia algo na arte que era inexprimível, ao contrário da física.

A arte, em oposição à ciência, não pode deixar de ter uma forte componente emocional e de suscitar apreciações subjetivas. Mas tem semelhanças com a ciência: o processo criativo num e noutro lado exige imaginação. Na criação da ciência, também há por vezes um impulso estético, mas a beleza matemática é mais difícil de apreciar do que a artística. Como as pessoas experimentam mais facilmente emoções do que fazem raciocínios lógicos, a comunicação de ciência tem tentado usar as artes a seu favor: há, por exemplo, peças de teatro sobre Feynman e até uma banda desenhada.

As emoções podem ser um gatilho para chegar à ciência. O sentir pode levar ao pensar.

 

 

Este artigo foi publicado na edição de primavera da revista Líder. 

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Carlos Fiolhais,
Físico e Comunicador de Ciência

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