O Partido Comunista chinês tem vindo a fechar portas às mulheres no que toca a altos cargos no governo. O The New York Times partilha e põe em evidencia o historial do partido, desde Mao Tsé Tung, até aos dias de hoje, em que os ideais conservadores prevalecem, e as mulheres têm cada vez menos expressão na política chinesa.
A frase de Mao: “as mulheres seguram metade do céu” cai em saco roto numa altura em que uma das políticas mais poderosa da China caminha para a reforma, deixando um vazio no seu legado feminino.
Sun Chunlan, a mulher implacável que lutou contra a Covid-19
Com o primeiro surto de coronavírus no início de 2020, o Partido Comunista chinês destacou os seus altos funcionários para lidar com a crescente crise política. Uma delas, Sun Chunlan, ficou por três meses em Wuhan, fornecendo equipamentos de proteção para profissionais de saúde e camas de hospital para pacientes.
Em apelo à lealdade absoluta perante a guerra contra o vírus, Sun declarou que qualquer desertor seria “pregado ao pilar da vergonha histórica para sempre”.
Agora conhecida como a czar “zero-covid” da China, Sun tornou-se a executora das rígidas restrições pandémicas do país. Quando é destacada para uma cidade para lidar com um surto, é frequentemente alvo de escrutínio online, com o receio do público de enfrentar mais um confinamento.
Enquanto mulher nos altos escalões da política chinesa (uma raridade), Sun tem impulsionado a vontade do Partido Comunista e suportado as críticas ao país. “Na maioria das vezes, as mulheres são empurradas para a linha da frente quando os políticos do sexo masculino não querem lidar com uma crise”, afirma Hanzhang Liu, professor assistente de política no Pitzer College.
Mao Tsé-Tung era apoiante da igualdade de género, e fez disso um dos princípios centrais do Partido Comunista da China. Mas sete décadas depois, o partido não promove mulheres para cargos de poder político.
Desde 1949, apenas 8 mulheres ascenderam ao poderoso Politburo de 25 membros, uma delas sendo Sun Chunlan, que, com 72 anos, vai deixar o cargo brevemente. Três das mulheres eram casadas com os fundadores revolucionários do Partido Comunista. Nunca mais uma mulher foi admitida no Comité Permanente do Politburo, o mais alto órgão de governo da China.
O Congresso do Partido Comunista, em que Xi Jinping deve garantir um terceiro mandato, é novamente uma típica cena masculina – menos de um terço dos delegados são mulheres.
O aumento dos ideais conservadores, e a falta de acessibilidade das mulheres a cargos políticos
O desequilíbrio de género é proeminente nos níveis mais altos por uma agenda política que tem promovido cada vez mais ideias conservadoras sobre as estruturas familiares e o papel da mulher na sociedade.
Como muitas mulheres com ambições a cargos públicos, Sun por vezes foi empurrada para cargos considerados politicamente sem importância. Mas, à medida que foi subindo, construiu a sua própria rede de apoiantes, incluindo o antigo presidente Hu Jintao, permitindo que esta criasse o tipo de currículo – e patrocínio – necessário para chegar ao topo.
“Sun Chunlan é uma política incrível em qualquer contexto”, afirma Victor Shih, especialista em política chinesa da Universidade da Califórnia, em San Diego. “Num sistema democrática, um político com essas qualidades provavelmente seria eleito como líder nacional.”
As oportunidades para as mulheres na política são tão limitadas que apenas um número limitado de mulheres subiu o suficiente para provavelmente ser considerada para o próximo Politburo.
As autoridades geralmente sobem na hierarquia do Partido Comunista ao mostrar que podem fortalecer a economia nas cidades e províncias que supervisionam. Mas as mulheres raramente conseguem esses empregos, segundo Minglu Chen, professora sénior da Universidade de Sydney, que estuda género e política na China.
Em vez disso, as mulheres do partido são frequentemente colocadas em funções consideradas mais leves, como a saúde, educação e cultura. “Isso também limita as suas probabilidades de serem promovidas”, comenta Chen.
À medida que o partido faz os preparativos para receber um novo grupo de líderes, os especialistas chineses apontam 3 mulheres – todas na faixa dos 60 anos – como tendo potencial para ingressar no Politburo.
Shen Yiqin é a secretária do partido na província de Guizhou, no sudoeste da China, e a única mulher no mais alto nível provincial. Yu Hongqiu é a única mulher em oito deputados do órgão anticorrupção do Partido Comunista. Shen Yueyue é a presidente da Federação Feminina da China.
“Para as jovens chinesas que gostariam de seguir carreira na política, não têm muitos exemplos a seguir. Não têm figuras para as inspirar”, afirma Chen da Universidade de Sydney