Tradicionalmente, quando queremos olhar para o futuro do trabalho, focamo-nos em equipar as pessoas com as chamadas hard skills, como análise de dados, programação ou desenvolvimento de software. No mundo académico, os programas focados em diminuir o vale entre as competências a adquirir e as oportunidades de trabalho, encorajou muitas pessoas a optar por carreiras na Ciência, Tecnologia, Engenharia ou Matemática. Esta urgência em assegurar o futuro de carreiras numa quarta revolução industrial leva-nos a uma verdadeira revolução de competências.
Nos últimos meses, as crises económica e dos sistemas de saúde têm intensificado a urgência e desafiado os líderes a redefinir o mundo do trabalho, uma vez que o confinamento e o trabalho remoto veio evidenciar a importância das soft skills que, num mundo cada vez mais digital, os colaboradores – mais tecnológicos ou não – vão ter de desenvolver.
De acordo com uma investigação da Salesforce, devido à pandemia, 74% das empresas na Europa começam a priorizar as soft skills quando chegada a altura de recrutar. Além das competências tecnológicas, a inteligência emocional e a colaboração são as mais valorizadas, uma vez que as empresas precisam de pessoas com a capacidade de liderar e gerir equipas remotamente, assim como que consigam manter a moral dos colaboradores e dos clientes.
A quarta revolução industrial está a acabar com o fosso que existe entre as hard skills, e o mundo onde é possível trabalhar a partir de qualquer lugar está a levar-nos a investir mais nas soft skills. No novo normal, ou seja numa economia digital, todas as empresas vão precisar de equipas que possam impulsionar rapidamente novas tecnologias, da mesma forma que cada pessoa terá de ser capaz de resolver problemas complexos, desafiar o status quo e criar um sentido de propósito para uma equipa deslocalizada.
Para ultrapassar estes desafios e encarar o futuro do trabalho com confiança, deixo três razões pelas quais as empresas devem investir nas soft skills.
- Esta não será a última crise que vamos enfrentar
Depois de vermos a rapidez com que as empresas se transformaram digitalmente nos últimos meses, estas vão precisar de ter uma equipa que seja capaz de se adaptar e crescer, sem reduzir a sua produtividade. Será cada vez mais comum ter equipas técnicas a adaptar novas ferramentas e a dar formações virtuais, ou outras equipas a serem responsáveis por adaptarem planos e políticas corporativas. A adaptabilidade é a competência mais valorizada e procurada pelas empresas.
Num ambiente de trabalho digital, adaptabilidade significa ser capaz de compreender novos conceitos, pensar criativamente, assim como aprender múltiplas hard skills. Significa, no fundo, que as equipas precisam de ser resilientes para se ajustarem a circunstâncias desfavoráveis. Quando é necessário tomar decisões importantes para o negócio, por exemplo, como decidir se se regressa ao escritório ou se se mantém o teletrabalho, saber gerir processos e equipas remotamente é crucial para ajudar a manter as pessoas em segurança.
- Equipas em remoto apoiam-se na comunicação
A colaboração entre equipas será essencial para o sucesso, na mesma medida em que a transformação digital ajuda as empresas a estarem mais ligadas aos clientes, a implementarem projetos em larga escala e até a reduzirem custos. Isto torna-se ainda mais evidente quando estas equipas estão a trabalhar em diferentes localizações e, muitas vezes, diferentes fusos horários. Antes, por exemplo, as pessoas juntavam-se numa sala para identificar e resolver um problema, gerir um projeto ou tomar uma decisão e, hoje, tudo isto acontece online.
Do definir qual a ferramenta de colaboração é que se irá utilizar, ao definir as melhores práticas de utilização, a produtividade será cada vez mais dependente da capacidade das equipas trabalharem em conjunto.
- Todas as empresas precisam de um propósito comum
A principal razão pela qual as pessoas escolhem trabalhar e ficar numa empresa é a sua cultura corporativa. No entanto, nos casos em que as equipas estão remotas, esta cultura torna-se num conceito mais abstrato e, nestes casos, o objetivo de cada gestor, equipa e empresa é cultivar um sentido de comunidade e de propósito comum a todos. Desenvolver, inclusivamente, as skills de liderança será necessário em todos os níveis e em todos os negócios.
Retirar o melhor de cada equipa vai além de comunicar os objetivos corporativos. É necessário envolver cada colaborador, assim como ter a capacidade de o ouvir, encorajar e capacitar. Liderar com inteligência emocional e mostrar empatia e curiosidade em aprender, são características essenciais para criar uma cultura de confiança e de inovação.
Em suma, na quarta revolução industrial, o investimento em hard skills ajudará as pessoas a manterem o seu trabalho e a sua empresa competitiva. Mas é o nosso compromisso na construção de relações interpessoais, a nossa vontade de confiar uns nos outros, de trabalhar e de liderar com empatia, que vão verdadeiramente transformar os locais de trabalho. Na economia digital, os produtos a vender, as expectativas dos clientes e a natureza do trabalho vão-se transformar, mas a necessidade de soft skills será uma constante.
Por Fernando Braz, Salesforce Country Manager para Portugal