Já estamos dentro do Metaverso e neste momento há investigação a ser feita, a partir de Portugal, de tecnologia para registar os nossos sonhos. Há cada vez mais jovens a querer ser iguais aos avatares, com a estética tecnológica a influenciar o mundo real. E o MIT defende ser estatisticamente provável estarmos a viver dentro de um filme do Matrix. E nada disto é ficção científica, é o mundo de agora e não deixa de ser perturbante.
O dilema entre o mundo virtual e real foi o mote para a talk “Até onde nos pode levar o Metaverso?” de Nuno Jardim Nunes, Professor Catedrático do Técnico, e professor convidado no Human-Computer Interaction Institute (HCII), na Universidade de Carnegie Mellon, durante o encontro do grupo Leading Tech, parte do projeto Leadership Summit Portugal, na “Casa da Praia” da Agência White (WYgroup).
“Se tecnologicamente fosse possível criar uma realidade indiferenciada desta realidade física em que vivemos, a probabilidade de estarmos no Metaverso seria muito alta, ou seja, de não estarmos a viver nesta realidade física”, esta afirmação, de um professor do MIT, fez Nuno Jardim Nunes lançar a reflexão para o Metaverso e as suas diferentes implicações práticas e, até, filosóficas.
A tecnologia aliada às várias dimensões virtuais (Realidade Aumentada, Realidade Virtual e Realidade mista) é algo que tem mais de 30 anos, e tem vindo a ser discutido por académicos e investigadores, fazendo parte do nosso imaginário, tal como dos filmes e literatura.
Anualmente, o famoso hype cicle, criado pela consultora Gartner, mostra quais as tecnologias emergentes, as que estão a cair no “fosso” e que estão a atingir um plateau de produtividade. “É surpreendente ver que, no ciclo de Gartner, há 20 anos, a primeira vez que aparece a Realidade Virtual, ela surge logo como uma tecnologia que dificilmente ia ter uma aplicação. Nunca chegou a ter um hype, caiu longo num fosso”, diz o professor.
A existência do Metaverso implica algumas exigências, tais como a RV, ou seja, a capacidade de criar um ambiente suficientemente imersivo para nos sentirmos fora da realidade física. Para criar a sensação de indistinção da realidade física, precisa também de tecnologia, dispositivos, como headsets, sensores e processadores. E ainda exige as tecnologias de Blockchain e NFTs.
Nuno Jardim Nunes explica que “o mundo do Metaverso passa a ter interesse económico a partir do momento em que há necessidade de manter uma persistência entre o mundo físico e o mundo virtual”. Mas no final, no balanço entre os dois, “como sempre, não é tecnologia que importa”. O que importa é serem mundos iminentemente sociais, onde as pessoas aderem porque vão encontrar outras pessoas. O Facebook ou o Instagram, que já é um Metaverso não imersivo, é um lugar onde vamos procurar outros que se apresentam por avatares.
Há duas áreas prioritárias no Metaverso: o social, que está correr bem no setor dos jogos, mas no ensino e no mundo empresarial nem tanto, pois admite haver um cansaço sobre o virtual; e a Geração-Z, que já vive no metaverso, e que terá impacto quando se tornar consumidora. Quanto aos principais problemas para esta tecnologia, são identificados os mesmos da Web 2.0, que é centralização em grandes empresas, com o controlo de todos os conteúdos. Um problema mais prático é o da grande maioria das pessoas enjoarem quando estão num ambiente totalmente imersivo, com o capacete de RV.
Cláudia Mendes Silva, Ambassador da Womenintech em Portugal, participou mais tarde numa conversa e lançou o desafio: “Será que o metaverso neste momento ainda é uma coisa de ricos, um local de colecionadores com muito dinheiro, que tenham tempo e espaço para explorar a inovação? Ainda é só um nicho de grandes empresas e marcas que podem investir nesta área, ou já está acessível a todos?”
A verdade é que não. Para poder experienciar o Metaverso exige-se tecnologia específica, que não está ao alcance de todos, muito menos daqueles que vivem fora do mundo ocidental. O professor dá o exemplo de Portugal, em que já há muitas empresas de RA, casos de sucesso, para além de “um número impressionante de unicórnios”, mas que nestas áreas onde o design e os conteúdos tem um peso muito importante, estamos muito atrasados. Na sua visão, “a aposta deve ser não tanto na tecnologia mas nas pessoas que são capazes de a usar e de influenciar tendências tecnológicas ligadas aos conteúdos, e é isso que vai permitir dar o salto em Portugal”. Referiu também o nível de investimento e a capacidade de atração de talento que as empresas globais têm, e que hoje se tornaram os centros de investigação de alto nível, que antes só existiam nas universidades.
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Por Rita Saldanha