Em entrevista, dizia há umas semanas Greta Thunberg que, não sabendo o que queria fazer no futuro, continuaria a ser uma ativista. E acrescentava que começou no ativismo em casa a desligar as luzes para poupar energia. Talvez consiga perceber o ponto, mas se isto é ativismo então somos todos ativistas. E de facto, por estes dias aparecem ativistas de todos os lados. Há-os de todos os tipos, desde os que se especializam em atirar sopa a quadros àqueles que vão andar de bicicleta na zona dos jatos privados em Schiphol, passando pelos que se barricam onde acham melhor.
Podemos gostar mais ou menos, mas este ativismo tem um papel: ajuda a criar consciência sobre os problemas. Pode até ser algo extremo, mas desde que respeite as regras do jogo democrático faz parte do processo político. Todavia, quando as minorias mais extremistas ganham o centro e encontram eco nos media tradicionais, as coisas complicam-se. Neste caso, o centro desaparece e as franjas tornam-se dominantes. As suas ações geram reações e o mundo polariza-se.
Um mundo polarizado torna-se um palco confrontacional, uma batalha de trincheiras com contornos maniqueístas: o Bem (nós) contra o Mal (eles). Quando os próprios media tomam partido, o seu papel de equilibradores deixa de ser cumprido. Vê-se isso acontecer todos os dias. Os jornalistas tornam-se eles próprios ativistas. O ativismo é necessário mas nem todos podemos atuar como ativistas. Como alguém disse, o papel da imprensa é moderar as opiniões públicas quando elas aquecem. Caso contrário os jornais tornam-se meras extensões da lógica ruidosa das redes sociais. E aí, um processo normal torna-se problemático.