O ano 2022 foi marcado por mudanças no cenário financeiro a nível global. A persistente inflação levou ao drástico aumento das taxas de juro, engolindo o mundo numa crise. O The Economist identifica as cinco tendências financeiras que chegaram ao fim no ano marcado pela guerra na Ucrânia e pandemia.
O fim do dinheiro barato
A década de 2010 ficou marcada pela estabilidade das taxas de juro perto do zero. Os custos de empréstimos em queda há décadas, a combinação da crise global económica de 2007-2009 e a pandemia por Covid-19 pareciam ter fixado as taxas permanentemente.
Em 2022, a persistente inflação dissolveu essas crenças. O Federal Reserve dos Estados Unidos da América aumentou mais que nunca as taxas de juro para números inéditos desde os anos 80, elevando o intervalo em mais de quatro pontos percentuais, para 4,25-4,5%.
Outros bancos centrais seguiram também esse caminho. Os mercados esperam que as taxas de juro parem de subir em 2023, com picos entre 4,5% e 5% na Grã-Bretanha e nos EUA, e entre 3% e 3,5% na zona Euro. As hipóteses de voltarem aos níveis pré-inflação, perto do zero, são pequenas.
Por exemplo, os governadores do Fed preveem que as suas taxas de juros no final de 2023 estarão acima de 5%, antes de estabilizar em torno dos 2,5% a longo prazo. A era do dinheiro barato acabou.
A morte do mercado de touro
Os mercados de touro são caracterizados por preços em alta e uma perspetiva otimista, normalmente instalados em economias saudáveis e em crescimento. Existem altos níveis de confiança dos investidores e níveis de atividade de compra elevados. Este tipo de mercado não morre de velhice – é assassinado pelos bancos centrais, e assim foi em 2022.
Desde 2009 até 2021, o índice S&P 500 de ações líderes dos EUA subiu 600%. As interrupções neste crescimento – como a queda repentina no início da pandemia – foram dramáticas, mas curtas.
Em 2022, a queda foi duradoura: o S&P 500 caiu um quarto até ao ponto mais baixo do ano, em meados de outubro, e permanece 20% abaixo do normal. O índice MSCI de ações globais caiu 20%.
Capital a evaporar
O capital era algo que havia em abundância até agora. No entanto, os programas de liquidação quantitativa (QE) dos bancos centrais, criados durante a crise financeira para estabilizar os mercados, diluíram-se durante a pandemia.
Além disso, os bancos centrais dos EUA, Reino Unido, União Europeia e Japão injetaram mais de 11 triliões de dólares em dinheiro novo, usando-o para absorver ativos “seguros”, como títulos do governo, e baixar os seus rendimentos.
Isso fez com que os investidores partissem em busca de retornos para as zonas mais especulativas do mercado. Por sua vez, esses ativos explodiram. Até 2007, as empresas americanas emitiram 100 mil milhões de dólares em dívida de alto risco por ano. Na década de 2010, geraram em média 270 mil milhões de dólares. Em 2021, chegaram a 485 mil milhões de dólares.
Este ano, esse valor caiu em 75%. O Fed e o Banco da Inglaterra colocaram os seus programas de compra de títulos em marcha reversa; o Banco Central Europeu está a preparar-se para fazer o mesmo.
O valor supera o crescimento
O mercado de touro foi um período desanimador para os investidores de “valor”, que procuram ações baratas em relação aos seus lucros ou ativos subjacentes. As taxas de juro baixas e o risco alimentado pelo QE colocaram essa abordagem cautelosa fora de moda.
Em vez disso, as ações de “crescimento”, que prometem lucros futuros impetuosos a um preço alto em comparação aos lucros iniciais (muitas vezes até inexistentes), avançaram. De março de 2009 até ao final de 2021, o índice MSCI de ações de crescimento global disparou por um fator de 6,4, mais do dobro do aumento do índice de valor equivalente.
Este ano, as taxas de juro mudaram esse cenário. Com as taxas a 1%, para ter 100 dólares em dez anos, era necessário depositar 91 dólares numa conta bancária hoje. Com as taxas a 5%, é preciso bancar apenas 61 dólares. O fim do dinheiro barato encurta os horizontes dos investidores, forçando-os a preferir lucros imediatos aos de a longo prazo. As ações de crescimento são assunto do passado, o valor está de volta.
As criptomoedas implodem (outra vez)
A queda da FTX marcou o ano de 2022 na área das criptomoedas.
Em novembro, a empresa entrou em falência com cerca de oito mil milhões de dólares de fundos de clientes desaparecidos, naquilo que foi caracterizado pelas autoridades americanas de “fraude massiva ao longo dos anos”. Bankman-Fried, fundador da FTX, foi detido e enfrenta agora acusações criminais. Se condenado, pode passar o resto da vida na prisão.
A queda da FTX marcou a implosão da mais recente bolha de criptomoedas. No seu auge, em 2021, o valor de mercado de todas as criptomoedas era de quase três triliões de dólares, em comparação com quase 800 mil milhões de dólares no início desse ano. Desde então, voltou a caiu para esse valor.