Os últimos cinco anos marcam o período de adaptação do Reino Unido após sair oficialmente da União Europeia (UE) – no famoso Brexit.
O país ocupa o terceiro lugar mundial no Global Soft Power Index 2025, pela primeira vez desde a pandemia, com uma pontuação de 72.4 em 100. O relatório demonstra uma queda de uma posição em comparação com o ano anterior, sendo ultrapassado pela China, refletindo um período de estagnação na perceção da sua marca nacional.
Embora não se tenham registado descidas acentuadas nas pontuações, a falta de melhorias substanciais em pilares fundamentais – em especial Negócios e Comércio, que caíram uma posição, passando a ocupar o sexto lugar a nível mundial, e Governação, agora em terceiro lugar – realça a necessidade de revitalização da nação britânica. O Reino Unido deve assumir uma liderança mais clara e consistente em questões globais para recuperar o ímpeto, de acordo com o relatório.
Quanto aos índices democráticos, o país conquistou uma pontuação de 8.34, subindo uma posição no ranking, em comparação com o ano anterior, para a 17ª, entre 167 países avaliados. A nação insular mantém-se assim com uma ‘democracia plena’, tendo pertencido a esta categoria em todas as edições do Índice publicado pelo Economist Intelligence Unit (EIU), desde 2006.
Este é o terceiro artigo da rubrica ‘O estado de uma nação em sete minutos’. Todas as quintas-feiras, trazemos um retrato de um país, explorando sucintamente quatro dimensões: cultural, política, económica e social.
Cultura
A cultura britânica está bem assente no panorama mundial. Do ponto de vista turístico, destaca-se pelo seu património e atrações em várias cidades, bem como componentes de arte e desporto muito desenvolvidas. Segundo um estudo da instituição ‘Visit England’, nove em cada dez potenciais visitantes estavam interessados em visitar locais de filmagens e de televisão durante as suas férias no Reino Unido. Filmes como as sagas Harry Potter, James Bond e Paddington marcaram várias gerações.
Na literatura, William Shakespeare, Jane Austen, Virginia Woolf, Charles Dickens, George Orwell, Salman Rushdie e J.R.R. Tolkien povoam as bibliotecas de todo o Mundo.
Já na música, os ícones britânicos reinam: Beatles, David Bowie, Elton John, Queen, The Rolling Stones, The Smiths, Bee Gees, Spice Girls, Led Zeppelin, Depeche Mode, Oasis e Dire Straits são alguns dos pesos pesados que ecoam pelas décadas.
Na atualidade, as plataformas de streaming contam com a liderança de artistas contemporâneos como Central Cee, Adele, Ed Sheeran, Arctic Monkeys, Gorillaz, One Direction, Dua Lipa e Coldplay.
A saída da UE resultou na perda de acesso a alguns programas culturais europeus e na redução da mobilidade de artistas e profissionais criativos. Esta limitação afetou colaborações internacionais e a participação em eventos culturais no continente.
Política
O panorama político do Reino Unido tem sido pautado por grandes mudanças nos últimos cinco anos. Nas eleições gerais de julho de 2024, o Partido Trabalhista, liderado por Keir Starmer, obteve uma vitória expressiva, conquistando 411 dos 650 assentos na Câmara dos Comuns. Este resultado representou a pior derrota histórica para o Partido Conservador, que obteve apenas 121 assentos, contrariamente às tendências políticas europeias.
Desde então, o governo de Starmer tem enfrentado desafios significativos, incluindo negociações comerciais com os Estados Unidos. Apesar dos esforços para alcançar um acordo económico favorável, a administração Trump continua a impor tarifas sobre produtos britânicos, levando a tensões diplomáticas e económicas.
Anteriormente, o país assistiu a uma divisão interna considerável, com o Partido Conservador, que liderou o país durante o Brexit, a debater-se com mudanças de liderança, nomeadamente a demissão de Boris Johnson na sequência de controvérsias. O seu sucessor, Rishi Sunak, tomou posse num contexto de agravamento da crise do custo de vida e de instabilidade política no seio do Partido.
Economia
A saída do Reino Unido da União Europeia resultou em desafios comerciais consideráveis. Estudos indicam que, até o final de 2022, as exportações britânicas de bens caíram 6,4%, enquanto as importações diminuíram 3,1%, comparado aos níveis anteriores ao Brexit. A previsão é de uma redução de 15% na intensidade comercial, levando a uma diminuição de 4% na renda nacional a longo prazo.
O aumento das tarifas impostas por Trump não tem melhorado esta questão, com uma imposição de 25% sobre o aço e o alumínio a estender-se a uma gama mais vasta de produtos, incluindo maquinaria e mobiliário. O governo britânico está a considerar todas as opções, mas ainda não retaliou. Estas tarifas afetam cerca de 2,7 mil milhões de libras de exportações.
O plano mais alargado de Trump de impor direitos aduaneiros recíprocos poderá prejudicar ainda mais as relações comerciais, especialmente porque o Reino Unido tem uma taxa de IVA de 20%. A UE está a planear as suas próprias tarifas de retaliação, aumentando a pressão sobre o Reino Unido para responder.
Ainda assim, a economia do país cresceu 0,1% no quarto trimestre de 2024, superando as previsões de uma contração, impulsionada principalmente pelo setor dos serviços. No entanto, o crescimento global para 2024 foi de 0,9% e os desafios económicos persistem, incluindo o fraco investimento das empresas e a estagnação dos padrões de vida. O governo prometeu reformas regulamentares para apoiar o crescimento, mas as perspectivas para 2025 continuam a ser lentas, com previsões de um crescimento de apenas 0,75%. Apesar das melhorias moderadas, as empresas estão cautelosas, citando os aumentos de impostos e as incertezas globais. Mantém-se, assim, uma perspetiva de estagnação.
Sociedade
A taxa de natalidade do Reino Unido tem vindo a diminuir, com a taxa de fertilidade total (TFR) a descer para 1,44 filhos por mulher em 2023. Esta é a TFR mais baixa desde o início dos registos em 1938.
Se por um lado nascem menos bebés, o número de imigrantes tem aumentado. O panorama da imigração no país tem sido marcado por debates políticos polémicos, especialmente após o Brexit, que pôs fim à livre circulação a partir da UE. O governo introduziu um sistema de imigração baseado em pontos e implementou políticas rigorosas, incluindo esforços para travar a travessia de pequenos barcos por requerentes de asilo.
Estas medidas conduziram a opiniões polarizadas na sociedade, com preocupações sobre os direitos humanos, a escassez de mão de obra e as implicações económicas. A imigração continua a ser uma questão importante para ambos os partidos políticos com mais assentos no parlamento, existindo divisões sociais quanto ao equilíbrio entre segurança, direitos humanos e necessidades económicas.
Questões relacionadas com desigualdade, discriminação racial e direitos dos migrantes permanecem em destaque. Organizações de direitos humanos têm chamado a atenção para a necessidade de políticas mais inclusivas e equitativas. Todos estes aspetos refletem o panorama social complexo vivido no Reino Unido, com múltiplos desafios que exigem respostas coordenadas de políticas públicas e envolvimento da sociedade civil.
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