A renovação económica é um processo demorado e que requer esforços contínuos e delineados, especialmente relevantes no momento crítico que a humanidade atravessa. Na União Europeia, estes fomentos chegam muitas vezes em forma de diretrizes e planos conjuntos, na certeza de que a união leva as nações mais longe.
É nesta senda que a Comissão Europeia apresentou a sua estratégia para os próximos cinco anos, ‘Uma bússola da competitividade para a UE’, destinada a revitalizar a paisagem económica da União Europeia (UE). Este plano abrangente aborda a necessidade crítica de inovação, produtividade e crescimento económico, enquanto enfrenta as transições para uma economia digital e verde.
A “Bússola” baseia-se no relatório Draghi e tem um duplo objetivo. O primeiro é a identificação das mudanças políticas necessárias para que a Europa acelere as reformas económicas. O segundo objetivo é melhorar a forma como a UE trabalha em conjunto. É necessário aumentar a rapidez e a qualidade do processo de decisão, simplificar o quadro regulatório, ultrapassando simultaneamente a fragmentação na UE.
O segundo objetivo prende-se com a participação ativa dos Estados-Membros, bem como de outras partes interessadas, como as empresas e os cidadãos. Muitas alavancas essenciais, desde a fiscalidade aos mercados de trabalho e às políticas industriais, estão em grande parte ou parcialmente nas mãos dos governos da UE, e as reformas nacionais coordenadas e o investimento serão uma componente essencial desta estratégia global.
Três imperativos transformacionais e os cinco facilitadores horizontais para estimular a competitividade
O relatório Draghi identificou três imperativos transformacionais para aumentar a competitividade e a Bússola da Competitividade traduz esses imperativos num caminho para a realização nos próximos anos.
Colmatar o gap de inovação: estratégias para promover startups e tecnologias europeias
O crescimento económico da Europa depende cada vez mais de inovação disruptiva e ganhos de eficiência. Apesar de o número de patentes europeias rivalizar com os EUA e a China, apenas um terço das patentes universitárias da UE são comercializadas. A causa está na fragmentação do mercado, escassez de capital de risco e apoio limitado à inovação, travando o desenvolvimento de startups.
Para inverter esta tendência, a Comissão Europeia prepara a Startup and Scale-up Strategy, com medidas como o reforço do capital de risco e incentivos ao investimento em tecnologias emergentes — incluindo IA, semicondutores, computação quântica e biotecnologia.
A estratégia inclui ainda uma revisão da política de concorrência e a aplicação coordenada da Lei dos Mercados Digitais, além da expansão de Projetos Importantes de Interesse Europeu Comum (IPCEI) para fomentar a cooperação em setores estratégicos.
Descarbonização e competitividade: a estratégia europeia para uma indústria mais verde
A descarbonização da economia europeia está no centro da nova estratégia de crescimento sustentável da UE. O Clean Industrial Deal surge como uma iniciativa-chave para tornar a Europa mais atrativa para indústrias intensivas em energia, com foco em tecnologias verdes e modelos de negócio circulares.
A proposta de um Circular Economy Act visa aumentar os investimentos em reciclagem e promover o uso de materiais secundários, contribuindo simultaneamente para as metas de neutralidade carbónica e para o reforço da competitividade industrial.
Contudo, os preços elevados e voláteis da energia continuam a ser um desafio. Em resposta, o novo Action Plan for Affordable Energy, lançado em fevereiro de 2025, pretende garantir energia acessível para empresas e famílias, aproveitando as vantagens da integração energética europeia.
Setores fundamentais como aço, metais e químicos estão no foco da transformação verde. Estes exigem apoio público estratégico para viabilizar a transição para modelos de produção mais sustentáveis.
Apesar da complexidade do processo, a descarbonização industrial da Europa representa uma oportunidade única para impulsionar a inovação, fortalecer a resiliência económica e posicionar a UE como líder global na ação climática.
Reduzir dependências estratégicas e reforçar a segurança económica da Europa
O reforço da autonomia estratégica europeia tornou-se um dos pilares fundamentais para garantir a resiliência económica e geopolítica da União Europeia. A estratégia passa por reduzir dependências excessivas de países terceiros, ao mesmo tempo que se ampliam parcerias comerciais globais e se assinam acordos comerciais sustentáveis.
A segurança económica e a capacidade industrial de defesa ganham nova importância, com a UE a planear investimentos estruturais para reforçar a sua indústria de defesa e aumentar a sua independência tecnológica e energética.
No contexto da ação climática, a União está também focada em aumentar a sua resiliência ambiental, com destaque para o desenvolvimento de um Plano Europeu de Adaptação às Alterações Climáticas. Este plano inclui medidas para lidar com fenómenos meteorológicos extremos e a implementação de estratégias sustentáveis para a gestão da água, um recurso cada vez mais crítico em muitos Estados-Membros.
A conjugação entre segurança, sustentabilidade e cooperação internacional está no centro da nova visão europeia para uma economia robusta e preparada para os desafios globais.
Cinco eixos estratégicos para reforçar a competitividade europeia
Os pilares anteriormente apresentados são complementados por ações relativas a fatores horizontais facilitadores, sendo elas:
- Simplificação regulatória e digitalização
Através do Pacote Omnibus, a UE pretende reduzir em até 35% as obrigações de reporte para empresas, especialmente PME, promovendo simultaneamente a digitalização administrativa para facilitar o acesso a financiamento e o cumprimento normativo; - Revitalização do Mercado Único
A Single Market Strategy visa eliminar barreiras internas à livre circulação de bens, serviços e capitais, com foco na modernização das comunicações eletrónicas e integração europeia em normativos globais; - Mobilização de investimento privado e poupança
A Savings and Investments Union aposta na canalização de poupanças privadas para setores estratégicos de crescimento, complementada por um futuro European Competitiveness Fund focado em tecnologias-chave; - Valorização do capital humano
Com iniciativas como a Union of Skills e o Quality Jobs Roadmap, a UE reforça o investimento em requalificação, trabalho digno e atração de talento global como base de uma economia inclusiva e resiliente; - Coesão estratégica e coordenação de investimentos
Um novo instrumento europeu visa alinhar políticas e recursos dos Estados-Membros, com projetos-piloto em áreas críticas como energia, transportes e digitalização, promovendo sinergias para maior impacto competitivo.