Isabel Neves tem dedicado a vida à sua paixão pelo empreendedorismo. Atualmente como mentora e investidora, explica a nova parceria entre o Clube de Business Angels de Lisboa e a Associação Business Angels de Cabo Verde.
Enveredou muito jovem pelo empreendedorismo feminino, na década de 80, através da Federação Portuguesa de Mulheres Empresárias, entregando-se ao tema da liderança no feminino e ao empoderamento das mulheres.
Foi nessa atividade que descobriu o seu propósito de vida como mentora, ajudando muitas mulheres a transformar ideias em negócios e, posteriormente, como investidora, vindo a tornar-se business angel. Criou o Clube de Business Angels de Lisboa em 2013, o primeiro Clube de Business Angels dirigido por uma mulher, com o objetivo de atrair mais mulheres para o investimento em startups.
Atualmente continua a promover o empreendedorismo e a desenvolver o seu trabalho como mentora e investidora através da empresa de investimento que fundou, Star Busy – Investimento & Inovação, no Clube de Business Angels de Lisboa e na Investors Portugal – Associação Portuguesa de Investidores em Early Stage, da qual é membro da direção.
À Líder, Isabel esclarece o que tem contribuído para impulsionar o ecossistema nacional de empreendedorismo e a escolha de Cabo Verde para uma relação mais próxima nestas matérias.
Nos últimos anos, Portugal tem vindo a desenvolver o seu ecossistema empreendedor. Como é que o descreveria?
O ecossistema empreendedor português tem tido um significativo desenvolvimento sobretudo nos últimos 10 anos.
Existem vários fatores que têm contribuído para impulsionar o ecossistema sobretudo a partir do momento em que o empreendedorismo passou a estar na agenda política, com a criação de um regime regulatório mais favorável para a criação de empresas; a criação de linhas públicas de apoio ao financiamento; sistemas de incentivos; a criação de uma Rede Nacional de Incubadoras, e da StartUp Portugal.
O próprio Web Summit também ajudou a fomentar o empreendedorismo e a chamar a atenção para o empreendedorismo tecnológico, atraindo a atenção de empreendedores e investidores estrangeiros para Portugal.
A Academia também tem contribuído muito para o crescimento do ecossistema, sendo que as Universidades e os Centros Tecnológicos estão cada vez mais estão empenhados em promover uma cultura empreendedora e têm facilitado a transferência de conhecimento e tecnologia para o setor privado.
Quais é que têm sido as iniciativas mais marcantes dos Business Angels em Portugal?
O desenvolvimento do ecossistema empreendedor em Portugal, especialmente o empreendedorismo tecnológico tem atraído cada vez mais os investidores em capital de risco, onde se encontram os business angels. O facto de Portugal já ter startups de sucesso tem contribuído para isso também. Também as linhas de apoio públicas ao coinvestimento com business angels lançadas pelo Governo português há uns anos ajudou a promover este tipo de investimento em Portugal. E muito mais poderia ser feito em termos de captação de investimento anjo se tivéssemos um sistema de benefícios fiscais específico para quem apoia a criação e empresas e a criação de postos de trabalho como existe noutros países.
Esperamos que tal venha a acontecer com estas novas medidas de estímulo à economia que o atual Governo acaba de anunciar e ainda não tive oportunidade de analisar.
No dia 8 de maio deste ano foi assinado durante a Leadership Summit Cabo Verde (LSCV) um protocolo entre o Clube de Business Angels de Lisboa e a Associação Business Angels de Cabo Verde (ABAC). Porquê a escolha de Cabo Verde e em que vai consistir esta ponte?
Cabo Verde está a fazer um enorme esforço de promoção do empreendedorismo tecnológico. Face à sua posição estratégica, à sua democracia estável e à população jovem pretende ser um Hub tecnológico, apostando fortemente na economia digital e nas energias limpas.
Cabo Verde tem um papel muito importante na relação entre Europa e África e tendo em conta a nossa relação histórica e de proximidade faz todo o sentido para Portugal apoiar o desenvolvimento do ecossistema empreendedor de Cabo Verde e promover investimentos nesse país.
Além da rede de investidores em Portugal e África, existirá também noutros pontos da diáspora cabo verdiana?
Cabo Verde tem uma enorme diáspora espalhada pelo Mundo, além de Portugal tem uma forte comunidade em Boston nos EUA e na Europa, quer em França quer na Holanda e estou certa de que existem muitas pessoas disponíveis nessa diáspora para investir no país, onde existem muitas oportunidades de investimento.
Os Business Angels são uma rede de investidores que contribuem para o desenvolvimento de empresas através do seu capital, know-how/ expertise e rede de contactos (fornecedores, clientes).
Os Business Angels procuram investir para retorno do seu investimento, mas em especial pelo prazer de ajudar à criação de novos negócios. O que nos distingue de outro tipo de investidores é exatamente o “prazer” de nos envolvermos, de ajudarmos e apoiarmos pessoalmente, com todo o nosso saber e conhecimento para o desenvolvimento de novos negócios; de estarmos envolvidos com a inovação, de contribuirmos diretamente para alavancar e construir o futuro.
Não são mecenas, esperam retorno. A quanto tempo?
É muito difícil responder a essa pergunta. Não há uma regra e depende muito da fase em que investimos (pre seed, seed, …) bem como na área de atividade em que o fazemos. Mas nunca a curto prazo. Desde o surgir de uma nova ideia até o produto estar desenvolvido e maduro para entrar no mercado demora alguns anos!
E o retorno pode estar dependente das áreas de negócio?
Completamente! O retorno depende muito da área de negócio, da sua escalabilidade, do mercado a que se destina. Há muitas variáveis em jogo.
Como se mede a escalabilidade de um negócio?
A escalabilidade depende do tipo de produto/ serviço e do mercado a que se destina.
E que tipo de empresas procuram os Business Angels?
Empresas com elevado grau de inovação, disruptivos, que ofereçam uma solução inovadora ao mercado ou que satisfaçam uma oportunidade de mercado e que tenham grande potencial de escalabilidade. Além disso, hoje os Business Angels estão muito atentos às empresas inovadoras e que respondam aos critérios de ESG.
No mesmo dia 8 foi lançado o concurso Startup “Criar para liderar no Atlântico” nos cinco eixos estratégicos da LSCV (Sustentabilidade Energética, Ambiental, Turística, Digital, e Formação e Desenvolvimento de líderes), o que já foi feito?
Foi lançado o concurso e as candidaturas estão abertas até agosto de 2024.
Quais são os critérios de elegibilidade e objetivos?
Empresas com sede em Cabo Verde ou que aí se pretendam instalar e que estejam no âmbito das cinco áreas já mencionadas. Promover o empreendedorismo em Cabo Verde nessas áreas; identificar as startups existentes nessas áreas; apoiar o seu desenvolvimento.
Quais são os prémios?
Além do prémio monetário, a possibilidade de incubação numa das incubadoras de Cabo Verde e o acesso a uma rede de mentores que pode ajudar imenso ao seu desenvolvimento e crescimento, além de poderem vir a obter financiamento quer através de Business Angels quer de fundos de capital de risco.
E, para concluir, que outros projetos estão já pensados entre os BA PT e os de CV?
O Clube de Business Angels de Lisboa já fez a ponte entre os BA de Cabo Verde e a Fábrica de StartUps que está a promover um programa de aceleração para startups de língua portuguesa para Macau.
Além disso, estão previstas outras iniciativas e eventos, designadamente com o StartUp Concil da Câmara de Comércio e Indústria Nederlands-Portugal, da qual sou Co Chair, tendo em conta a forte presença da diáspora cabo verdiana nesse país.
O CBAL também tem sido convidado a participar nas sessões de apresentações de projetos e startups dinamizadas e organizadas pela Associação de BA de Cabo Verde, através de sessões online, pelo que poderão surgir oportunidades de investimento ou de coinvestimento entre BA de Cabo Verde e de Portugal.