Desde 2021 que leio muito sobre temas ligados à longevidade e às gerações. E se há algo que aprendi neste percurso é que nunca tivemos tantas gerações a coexistir (e a colidir) dentro das organizações. E, no meio desta colisão geracional, a Geração Sanduíche funciona como um verdadeiro para-choques.
São homens e mulheres — mas, sejamos honestos, maioritariamente mulheres — entre os 40 e os 60 anos. Uma geração que vive no meio do fogo cruzado entre filhos que ainda precisam de colo e pais que já não caminham sozinhos. Uma geração que acorda cedo, vai ao ginásio “porque tem de se cuidar”, despacha emails, lidera equipas, participa em oito reuniões por dia — e, no fim do expediente, assume um segundo papel: o de cuidador.
São essas pessoas que mantêm a máquina a funcionar por dentro e por fora. Que sorriem na reunião de teams e choram no carro, a caminho de casa. Que põem tudo e todos à frente da própria vida, e mesmo assim continuam a entregar. O mais impressionante? Fazem-no em silêncio. Muitas vezes sem reconhecimento, sem apoio, sem espaço para cair — ou sequer para abrandar.
E o mundo do trabalho ainda não sabe muito bem o que fazer com isto.
As empresas adoram perguntar “como estás?” — esperando sempre a resposta automática: “Tudo bem.” Mas a verdadeira mudança começa quando a pergunta se altera. Quando, em vez de um protocolo simpático, há uma intenção verdadeira por trás do gesto: Como estão os teus pais? E os teus filhos?
Porque as respostas a estas perguntas dizem mais sobre produtividade, saúde mental e motivação do que qualquer inquérito de clima organizacional.
Quem cuida carrega um peso invisível. E quando esse peso é ignorado — ou pior, romantizado — transforma-se em exaustão crónica, falhas de concentração, afastamentos silenciosos, pedidos de demissão que chegam com um nó na garganta.
Tenho visto alguns bons sinais. Pequenos, mas promissores. Algumas empresas em Portugal começam a perceber que bem-estar não é mimo. É estratégia de liderança.
Estes exemplos mostram que não é impossível. É, sim, uma escolha.
A EDP, por exemplo, tem vindo a reforçar o seu foco em políticas de conciliação, com medidas concretas como horários flexíveis, dias extra para apoio familiar, e uma rede interna de suporte psicológico e orientação parental. Sabem que quem cuida precisa, também, de ser cuidado.
A CUF implementou um programa de apoio ao cuidador informal para os seus colaboradores, reconhecendo que o stress fora do trabalho pode impactar a performance dentro da empresa. Oferecem apoio especializado, aconselhamento jurídico e sessões de coaching emocional — e fazem-no sem burocracias nem julgamentos.
Na Ageas Seguros, o tema da saúde mental é levado tão a sério quanto os indicadores financeiros. Criaram uma “mental health week” com conversas abertas sobre burnout, ansiedade, sobrecarga emocional — mas também instituíram, de forma permanente, sessões gratuitas com psicólogos para colaboradores e familiares.
A Sonae, com uma força de trabalho intergeracional e altamente feminina, tem apostado na flexibilidade real. Oferecem modelos híbridos ajustáveis à realidade de cada colaborador, e não apenas um modelo padrão. Além disso, investem em programas de escuta ativa, onde se ouve — realmente — o que as pessoas precisam.
A Geração Sanduíche não precisa de brindes, nem de mais frases feitas coladas nas paredes da empresa. Precisa de humanidade. De tempo. De compreensão. De escuta. De estrutura. É hora de parar de confundir bem-estar com cosmética.