A humanidade está a passar por uma experiência única com impactos ainda não plenamente mensuráveis: a pandemia da COVID-19 tornou-se mais do que uma crise de saúde, é também uma crise social, económica e política que está a gerar severas mudanças de comportamento na sociedade em geral, nas organizações e na economia.
Muitas destas mudanças, hoje observadas, voltarão ao padrão anterior, mas está claro para muitos que o mundo não será o mesmo uma vez passada a pandemia.
As organizações de toda a natureza tiveram que se adaptar e algumas até de se reinventar. Se em circunstâncias normais a Comunicação já era a principal ferramenta para o relacionamento interpessoal em todos os níveis e contextos, muito mais agora se mostra uma ferramenta essencial para criar conexão e proximidade entre as pessoas em isolamento social (em diferentes graus), há meses, por diretrizes das autoridades governamentais.
A ameaça da pandemia evidenciou a necessidade das interações humanas para o mundo não parar. A ameaça pode ser percebida como uma grande oportunidade para as pessoas e organizações repensarem os seus valores e práticas pessoais, profissionais e de gestão (da vida, da carreira, dos negócios).
Tanto a comunicação interpessoal quanto a comunicação corporativa baseiam-se nas mesmas premissas, ainda que os seus objetivos, formatos e meios possam ser diversos. Mas, em ambos os contextos, é comum ouvirmos falar sobre a importância da comunicação eficaz, dado que as disfuncionalidades de uma comunicação são geradoras de conflitos e sérios problemas de gestão.
Para ser eficaz a Comunicação necessita de ser assertiva, mas muitas pessoas usam esta expressão de forma inequívoca, referindo-se a falar (ou a fazer) a coisa correta. Para compreender melhor o que é uma comunicação assertiva é fundamental compreender o conceito.
Procurando aprofundar o conceito no campo da Psicologia, estudos mostram que existem quatro tipos de comportamentos: passivo, agressivo, agressivo/passivo e assertivo. Cada um deles tem vantagens e desvantagens, dependendo do momento em que for manifestado. Digo isto, porque a comunicação expressa-se por comportamentos e é situacional, ou seja, pode mudar de acordo com o momento e a situação, em função disto uma mesma pessoa pode ter os quatro comportamentos, ainda que um deles seja mais determinante, as pessoas tendem a agir de determinada forma em circunstâncias “normais” , ou seja, o indivíduo tende a adotar um determinado estilo como mais frequente. Esta constatação confirma-nos a ideia de que podemos mudar um comportamento se percebemos que ele não está a valer a pena, isto é, não está a satisfazer as nossas necessidades, expectativas e objetivos pessoais. Facto é que podemos desenvolver a nossa assertividade.
O comportamento assertivo, que é o que nos interessa, carateriza-se por uma boa postura corporal, tom de voz adequado (nem muito alto e nem muito baixo), contacto visual, mensagem objetiva por meio de palavras específicas e cuidadosas. Depende da empatia, controlo emocional (o limite entre assertividade e agressividade é ténue), autoconfiança e conhecimento do que vai ser tratado.
Vivemos numa sociedade na qual a violência não está apenas nos atos físicos, mas fundamentalmente na comunicação, o que pode ser evidenciado nas redes sociais e nas conversas de péssima qualidade entre pessoas da mesma família, amigos e grupos em geral. Muitas pessoas agressivas autointitulam-se de “muito francas”, mas não percebem que ser autêntico e falar o que se pensa ou sente, não deve excluir o respeito e a empatia pelo outro.
Mas quais são as vantagens de ser assertivo? As pessoas assertivas:
– lidam com os confrontos com mais facilidade e satisfação;
– sentem-se menos stressadas;
– adquirem maior confiança;
– agem com mais tato;
– melhoram a sua imagem e credibilidade;
– expressam o seu desacordo de modo convincente, mas sem prejudicar relacionamentos;
– resistem às tentativas de manipulação, ameaças, chantagens emocionais, bajulações;
– sentem-se melhor e fazem com que os outros também se sintam bem.
Como desenvolver a assertividade? Sem pretender dar receitas mágicas, partilho algumas dicas já comprovadas que podem ajudar a quem está interessado no assunto:
– mudar o diálogo interno;
– mudar de negativo para positivo;
– levar em consideração os seus direitos e os dos outros;
– desenvolver a auto-estima.
Estas novas atitudes podem ser desenvolvidas por meio de autoconhecimento, treino e processos de coaching.
Pense nas diversas situações da sua vida profissional e pessoal, em que a falta de assertividade fez com que não conseguisse obter o resultado desejado, e sentir-se verdadeiramente realizado com as suas conquistas. Quantas vezes, teve de engolir a raiva gerada pelo sentimento de que deveria ter dito algo que não disse naquele determinado momento? Quantas vezes se viu obrigado a fazer determinadas coisas por não ter tido a coragem de dizer não a quem deveria? Seriam inúmeros exemplos, o mais importante é que pensemos sobre o assunto e procuremos ser mais assertivos em algumas situações, para que possamos não só expandir a nossa inteligência emocional, mas principalmente desenvolver relações interpessoais na vida pessoal e profissional, mais autênticas, harmoniosas e prazerosas.
Por Denize Athayde Dutra, autora e coordenadora académica dos MBA da Fundação Getúlio Vargas, Brasil