A febre da Inteligência Artificial (IA) não apresenta sinais de abrandar e poucas são as empresas que não empregam esta tecnologia. Mas afinal, quão ricas estão as ficar as organizações que a utilizam?
Em março, o preço das ações da Dell, subiu mais de 30% num dia devido à esperança de que a IA aumentasse as suas vendas, diz o The Economist. Dias depois, a Together ai, uma startup de computação em nuvem, angariou novos fundos com uma avaliação de 1,3 mil milhões de dólares, comparativamente com os 500 milhões demonstrados em novembro.
Mas a verdadeira vencedora desta corrida, até à data, é a Nvidia, responsável por cerca de 57% do aumento da capitalização bolsista das empresas de hardware. Antes do lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, o seu valor de mercado era de cerca de 300 mil milhões de dólares. Hoje, é de 2.3 triliões de dólares, estando apenas a cerca de 500 mil milhões de distância da Apple.
A empresa fabrica mais de 80% de todos os chips de IA e também goza de um quase monopólio no equipamento de rede utilizado para ligar os chips dentro dos servidores de IA nos centros de dados. As receitas do negócio de centros de dados da Nvidia mais do que triplicaram e suas margens brutas aumentaram de 59% para 74%.
O The Economist analisou 100 empresas que, em conjunto, criaram já um valor de 8 triliões de dólares desde outubro de 2022, imediatamente antes do lançamento do ChatGPT.
Quem ganha a corrida do boom da Inteligência Artificial?
Os avanços tecnológicos tendem a elevar os gigantes da tecnologia. A explosão dos computadores nas décadas de 1980 e 1990 levou a Microsoft, que criou o sistema operativo Windows, e a Intel, que fabricou os chips necessários para o fazer funcionar, ao topo da hierarquia empresarial. Na década de 2000, a “Wintel” estava a captar quatro quintos dos lucros operacionais da indústria dos computadores, segundo o banco de investimento Jefferies.
A era dos smartphones fez o mesmo com a Apple. Poucos anos depois de ter lançado o iPhone em 2007, estava a reunir mais de metade dos lucros operacionais globais dos fabricantes de telemóveis.
Atualmente, existem três áreas-chave a liderar a capitalização da IA: empresas de computação em nuvem, hardware e software. O setor da produção de modelos de IA também entra neste gráfico, ainda que os seus lucros estejam “congelados”.
No que diz respeito a hardware, modelação e aplicações, as três maiores empresas aumentaram a sua quota do valor global criado em cerca de 14 pontos percentuais no último ano e meio. No setor da nuvem, a Microsoft, que tem uma parceria com o fabricante do Chatgpt, Openai, passou à frente da Amazon e da Alphabet (a empresa-mãe da Google). A sua capitalização de mercado representa agora 46% do total do trio da nuvem, contra 41% antes do lançamento do Chatgpt.
Este é o panorama expectável num boom de tecnologia: a infraestrutura física subjacente precisa ser construída primeiro para que o software seja oferecido a posteriori. Desta forma, o setor do software tem visto um crescimento mais lento.
Já os criadores de modelos focados em IA, uma quarta vertente desta febre, têm força na sua propriedade intelectual e nos lucros que esta pode gerar. A dimensão desses lucros dependerá do grau de feroz concorrência entre os fornecedores de modelos – e da sua duração. Neste momento, a rivalidade está ao rubro, o que pode explicar o facto de a camada não ter ganho tanto valor em dólares.
A distribuição do valor é desigual entre camadas e, em termos absolutos, a maior parte da riqueza foi acumulada pelos fabricantes de hardware. Isso inclui empresas de semicondutores, negócios que constroem servidores e também quem faz equipamentos de rede. Em outubro de 2022, as 27 empresas públicas de hardware da amostra analisada pelo The Economist valiam cerca de 1,5 mil milhões de dólares. Hoje, esse valor é de 5 triliões de dólares.