A História carece de distanciamento, mas a COVID-19 afigura-se um ponto de viragem para a humanidade.
Uma pandemia pode ser vista pela perspetiva trágica dos seus efeitos, mas também pelas oportunidades de descoberta e aprendizagem que aporta. Em coaching psicológico, há um propósito similar de ajudar os coachees a converterem “fraquezas” em idiossincrasias, a retirarem o melhor partido do que são e do que é (realidade), construindo soluções suficientemente boas que permitam melhorar o seu desempenho e bem-estar.
Volvidas três semanas de quarentena, são vários os aspetos positivos que poderemos elencar:
Obrigatoriedade de parar – o abandono repentino da rat race pela maior parte da população, trouxe um “vazio” retemperado por três verdadeiros luxos no séc. XXI – espaço, tempo e silêncio, alavancas fundamentais da evolução.
Necessidade de mudança “à força” – a evidência incontestada de uma ameaça coletiva mobilizou a nossa ancestral capacidade de mudar para sobreviver.
Existimos há pelo menos 300 mil anos, o nosso “sucesso” ditou até o Antropoceno, a nova era geológica condicionada pelos efeitos da atividade humana.
Conversão da perda em alavanca criativa – ao momento do “choque”, confinamento domiciliário, estado de emergência, o espaço exterior e o outro como ameaças virulentas, sobreveio a adaptação criativa e humorada àquilo que tem de ser! Atividades profissionais que se reinventaram digitalmente, negócios que começaram vias alternativas de serviço e clientes que, fruto das circunstâncias, estão a dar os primeiros passos no mundo online. E também, a profusão de memes e vídeos domésticos sobre quotidianos enclausurados!
Reformulação de prioridades – o confinamento espacial que fusiona tempo profissional e pessoal, a perda temporária de direitos (Estado de Emergência), a vivência “forçada” paredes-meias com o outro, todo o tempo, remete-nos para uma reflexão fundamental sobre prioridades de aplicação “pós-covidiana”!
Novas aprendizagens – a necessidade de adaptação e ajustamento homeostático num ambiente confinado, ativa a máxima proustiana de não procurar novas paisagens, mas em ver com novos olhos, aquela que repetidamente nos acolhe todos os dias!
Ressurgimento da cidadania de proximidade – ao frenesim pré-COVID de mais de cem mil voos/dia, sucedeu uma quebra de 80%-90% na atividade da aviação comercial. A impossibilidade de ir longe criou a oportunidade de redescobrir o que está perto. Entreajuda de vizinhança, autarquias que se ligam aos munícipes com novos serviços, alimentam a perceção crescente de que os tempos pós-COVID deverão reativar relações
de maior proximidade dos vários elos das cadeias de abastecimento, salvaguardando assim economia local e ambiente.
Os tempos pós-COVID trarão a oportunidade de mobilizar ensinamentos e mudar comportamentos que nos liguem mais e melhor aos outros e à natureza. Tivemos um
aviso sério de que business as usual será insuficiente na construção das soluções que precisamos!
Por Jaime Ferreira da Silva, Managing partner da Dave Morgan.