A felicidade é um constructo complexo com diferentes interpretações. Aprecio a funcionalidade proposta pelo economista comportamental Paul Dolan que a define como o «conjunto de experiências de prazer e propósito ao longo do tempo».
Ainda segundo este autor, poderá haver diferenças entre felicidade sentida (no dia-a-dia), e felicidade avaliada (p.e. num inquérito/entrevista). A felicidade sentida deverá ser privilegiada porque é nesse flow do quotidiano que prazer e propósito se exprimem (e se equilibram).
Jeremy Bentham, um filósofo radical do séc. XVIII postulava que o prazer é para nós, a única coisa boa e a dor a única coisa má, em linha mais tarde, com o pensamento de Sigmund Freud sobre o princípio do prazer que emparelhou com o princípio da realidade (1911), como “regentes” do funcionamento psíquico. Poderemos definir felicidade no trabalho como uma coconstrução partilhada entre líderes, equipas e indivíduos, assente na consecução de um propósito (por que razão existi mos como organização? Para que serve o meu/nosso trabalho?) e na geração de prazer (o que me/nos faz sentir bem aqui?) que poderemos “traduzir” por saúde e bem-estar. De acordo com a Ordem dos Psicólogos Portugueses, e em linha com as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde), os Locais de Trabalho Saudáveis asseguram um conjunto de condições sustentáveis para o efeito, a saber:
Autoeficácia – comportamentos de trabalho competentes e eficazes geram bem-estar. Inclusão e apoio coletivo – não há “patinhos feios” nem “quintas nem quintais” que não se transformem em “embarcações”. O sucesso é uma construção coletiva!
Gestão do stress – o stress nocivo é, por norma, evitado ou rapidamente corrigido. Reconhecimento e recompensa – as políticas de remuneração, de formação/ desenvolvimento profissional, de promoção da saúde e bem-estar conjugam adequadamente, realismo e equidade.
Conciliação entre vida pessoal e vida profissional – sem tempo para a vida pessoal e o lazer não haverá equilíbrio laboral sustentável. O direito a desligar do trabalho está consignado e é respeitado.
Controlo e significado – o trabalho tem significado e propósito em todos os níveis hierárquicos e de responsabilidade.
Gestão e liderança – o bem-estar geral é um pilar essencial no exercício do poder. Os líderes deverão dar o exemplo, ser coerentes e consistentes nas palavras e na ação.
Em Portugal, os problemas de saúde psicológica mais comuns (stress, depressão e ansiedade) afetaram quase dois em cada cinco pessoas (33%), uma prevalência acima da média na União Europeia (27%) (Eurobarómetro, 2022). Não há, como sabemos, “balas mágicas” que resolvam as necessidades identificadas quanto à geração de felicidade no trabalho! Os diagnósticos estão feitos pelo que é tempo de soltar a criatividade e construir propósito e prazer nos locais de trabalho. Estar globalmente bem (e feliz) é como manter um jardim secular frondoso e belo: uma tarefa diária e perpétua!
Este artigo foi publicado na edição de primavera da revista Líder.
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