Vivemos tempos acelerados, hiperconectados e paradoxalmente solitários. O individualismo ganhou terreno nas organizações e no quotidiano, mas a comunidade surge como fator protetor da saúde, em particular da saúde mental.
No segundo episódio do podcast ‘Conversas que Cuidam’ – uma colaboração Fidelidade e Líder – duas convidadas ajudam-nos a repensar pertença, apoio e bem-estar: Sara Remtula, terapeuta ocupacional com mais de 25 anos em contextos comunitários, e Sónia Marianinho, responsável pelo ‘Gabinete de Nós’ do Grupo Fidelidade, estrutura de responsabilidade social interna que presta apoio personalizado e confidencial a colaboradores e famílias. ‘Sozinhos ou em comunidade: como o sentimento de pertença protege o nosso bem-estar’ é o título deste episódio.
Este novo podcast, com Rita Figueiredo e Soraia Jamal como hosts, promete conversas para parar, refletir e sentir. Ao longo de vários episódios, os convidados vão trazer histórias, evidência e práticas sobre bem-estar, saúde e equilíbrio, dentro e fora do trabalho.
Ouça aqui:
Relações seguras: o antídoto contra o isolamento
Para Sara Remtula, o primeiro passo para uma vida mentalmente saudável está nas relações seguras e próximas, seja na família, no trabalho ou na comunidade. «Ao servir, não cuidamos só dos outros — cuidamos também de nós», afirma. O sentimento de pertença reforça a confiança e diminui o medo, tornando-se um fator protetor contra a ansiedade e a solidão.
A terapeuta recorda o papel essencial das redes reais de apoio, sobretudo no envelhecimento. Na comunidade ismaili, de que faz parte, coordena programas de ativação da memória, inglês, yoga e ginástica, concebidos para manter os laços vivos e combater o isolamento. Para quem não consegue sair de casa, há voluntários sénior que ligam semanalmente, garantindo que ninguém fica esquecido.
Quanto mais estamos com os outros, mais nos estimulamos e mais queremos voltar.
Mas o isolamento não escolhe idades. Sónia Marianinho lembra que, nas empresas, ele pode surgir também em perfis mais jovens, ou em pessoas que enfrentam dificuldades emocionais, familiares ou sociais. E é aí que o ‘Programa Nós’ faz diferença: uma estrutura de apoio confidencial e personalizado que ajuda colaboradores e famílias em desafios tão diversos como cuidados a familiares, problemas financeiros, dependências ou violência doméstica. «O colaborador que sabe que a empresa tem ferramentas reais sente-se mais seguro — e permanece mais comprometido», afirma.
Quando a empresa é comunidade
Mais do que um programa de apoio, o Gabinete de Nós reflete uma filosofia: a de que as empresas também têm um papel ativo na construção do bem-estar coletivo. O trabalho de Sónia e da sua equipa parte sempre do mesmo ponto — escutar antes de agir. Cada caso é um caso, cada família tem o seu ritmo e as suas dinâmicas. «O mais difícil é fugir do facilitismo de fazer depressa. Escutar não é perder tempo, é ganhar sustentabilidade», sublinha.
Nas suas palavras, cuidar dentro de uma organização é um exercício de coerência. «Se, enquanto empresa, estamos presentes nas grandes crises lá fora, também temos de estar disponíveis para as que acontecem cá dentro.» Essa presença traduz-se em flexibilidade de horários, apoio psicológico, formação e segurança psicológica, mas sobretudo num sentimento de comunidade viva — a certeza de que, quando algo acontece, não se está sozinho.
«Cuidar é uma maratona»
Sara Remtula reforça a ideia com uma metáfora musical: uma orquestra só funciona quando todos tocam em harmonia. «Cada um tem o seu talento e o seu papel, mas é na escuta e na cooperação que se constrói o coletivo.» Sónia reforça a premissa de que a cooperação deve ser transversal e pensar em todos, mesmo nos casos menos óbvios, como pais de filhos neurodivergentes. «Cuidar é uma maratona», relembra.
É, afinal, o equilíbrio entre autonomia e pertença, entre indivíduo e grupo, que define as comunidades mais saudáveis — e as organizações mais humanas. As iniciativas sociais e de bem-estar, tantas vezes vistas como secundárias, são, na verdade, pilares de sustentabilidade organizacional.
No fim, a conclusão é clara: as redes humanas são o maior fator de proteção da saúde mental. São elas que amparam o cansaço, reduzem o stress e promovem confiança. E são elas que tornam o trabalho — e a vida — mais significativo. Como resume Sara Remtula, «quando nos sentimos ouvidos e valorizados, não estamos apenas a viver — estamos a pertencer».
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«Cuidar não tem de ser um ato solitário»: novo podcast da Fidelidade traz Conversas que Cuidam


