É o nome português mais conhecido na área da Inteligência Artificial (IA). Daniela Braga é a fundadora e CEO da Defined.ai, uma das startups com mais crescimento nesta área. «Caminhamos para um mundo em que as novas tecnologias e a inteligência artificial vão trabalhar lado a lado com os humanos».
Doutorada em Tecnologias de Voz, é também um dos nomes escolhidos pela administração do Presidente norte-americano, Joe Biden, para ajudar a Casa Branca a desenhar a estratégia de IA nos EUA. E quem acredita que o maior inimigo da tecnologia é a utilização que, nós humanos, fazemos dela.
Uma conversa a propósito do tema da edição “Act Now for Digital”, em torno da importância da tecnologia, dos seus problemas, do mundo, da saúde mental e até sobre colonização interplanetária.
Onde estamos e onde o digital nos levará?
O digital permitiu o acesso a níveis e velocidade de informação global que eram impossíveis de imaginar há 20 anos, quando eu estava a sair da faculdade. Mas com essa digitalização surgiram outros problemas: como distinguir factos reais de factos fictícios? Os nossos dados estão realmente seguros? A internet e as redes sociais são um lugar seguro para as nossas crianças? Teremos mesmo todos de falar uma só língua – o inglês – para ter acesso a informação de qualidade?
Para o bem ou para o mal, para onde vamos?
Caminhamos para um mundo em que as novas tecnologias e a inteligência artificial vão trabalhar lado a lado com os humanos. Às vezes substituí-los, em tarefas rotineiras, permitindo assim menor disrupção de serviços, como a pandemia nos mostrou. Haverá um ajuste de tarefas, empregos e de skillsets, tal como vimos na revolução industrial, mas a humanidade tem esta capacidade incrível de adaptação e esta nova revolução industrial já está em marcha e não vai parar. Acredito que este é o momento de usar a tecnologia ao serviço da sustentabilidade do Planeta, que isso sim é uma situação gravíssima e preocupante que não podemos deixar para os nossos descendentes.
Onde estão as fronteiras que não devem ser ultrapassadas?
A pandemia mostrou que é possível trabalhar em equipa remotamente, apesar de os seres humanos serem gregários por natureza. Não sei se alguma vez o mundo voltará a ser o mesmo. Isso realmente afetou muito a saúde mental das pessoas, mas hoje são elas que não querem voltar ao escritório porque encontraram outras formas de suprir o lado social e humano. As fronteiras estão na transparência do uso da tecnologia nas empresas. Desde que as pessoas entendam as razões do uso de certas ferramentas e modelos de IA, passam a ser elas a decidir se querem ou não pertencer a essa organização. O pior é a falta de transparência.
Qual é o lado lunar da tecnologia?
São os humanos. A tecnologia não tem más intenções nem orientações políticas ou económicas. O maior inimigo da tecnologia é a utilização que, nós humanos, fazemos dela.
E como vê o bright side?
Vejo o acesso à educação e saúde muito mais democratizados globalmente. Vejo a possibilidade de prever e evitar catástrofes climáticas e humanas com o uso de IA. Vejo um mundo mais informado em geral e o controlo da informação distribuído, e não apenas nas mãos dos governos ou das grandes gigantes tecnológicas.
O que permanecerá analógico?
Em teoria tudo pode ser automatizado por robots, desde massagens, serviço de restaurantes e hotéis, ensino nas escolas, atendimento médico e até a pilotagem de um avião comercial. Mas a diferenciação será sempre o contacto humano. Acredito que as pessoas pagarão um preço por esta atenção personalizada feita por humanos em todas as áreas da nossa vida, mantendo assim um nível de qualidade de serviços mais acessível a pessoas com menos recursos se for feito por robots e máquinas inteligentes.
O que se segue ao Metaverso?
A colonização interplanetária pelos humanos.
Qual deve ser o mantra desta nova ordem digital?
“Embrace the change, the future is exciting”.
Por TitiAna Amorim Barroso
Este artigo foi publicado na edição de inverno da revista Líder.
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