O equilíbrio entre vida profissional e pessoal assume-se como prioridade máxima entre líderes empresariais, superando pela primeira vez o salário e a progressão na carreira. Esta é a principal conclusão da edição especial do relatório Talent Trends 2025 – Executive & Senior Leadership Edition, conduzido pela Page Executive, com base em mais de 4.000 respostas de executivos em seis continentes, incluindo 1.500 na Europa.
Num ano marcado por disrupções tecnológicas e uma transformação acelerada das expectativas em torno do trabalho, o relatório destaca uma mudança profunda na mentalidade da liderança de topo: os líderes querem mais do que resultados — querem sentido.
«A clareza deixou de ser um luxo para se afirmar como um verdadeiro fator de vantagem competitiva», sublinha Anthony Thompson, CEO da Page Executive. «Os líderes procuram hoje uma compreensão clara da sua posição, da direção que estão a seguir e da forma como os seus valores se alinham com a missão da organização.»
Para Pedro Borges Caroço, Head da Page Executive Portugal, «os líderes valorizam hoje contextos onde possam crescer com liberdade, equilíbrio e sentido de pertença. Cada vez mais, procuram empresas que ofereçam flexibilidade real, propósito claro e oportunidades de impacto, tanto local como global.»
O que nos dizem os números
Entre os executivos europeus, 25% colocam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional como principal prioridade — acima da remuneração. Globalmente, esta percentagem sobe para 29%. A adesão à Inteligência Artificial generativa também se acelera: 60% já recorrem a estas ferramentas, embora 19% refiram sentir-se despreparados, sobretudo por falta de formação e de uma estratégia clara. Ainda assim, os líderes europeus demonstram mais confiança que os seus pares noutros continentes, onde 32% admitem estar mal preparados para lidar com esta nova realidade.
A inclusão continua a ser um ponto frágil. Apenas 41% dos inquiridos dizem conseguir expressar-se de forma autêntica no local de trabalho, e apenas 26% consideram o ambiente profissional verdadeiramente inclusivo — percentagens praticamente em linha com a média global.
A confiança também revela divisões. Enquanto 45% dos executivos europeus confiam na capacidade da sua organização para equilibrar as exigências do negócio com o bem-estar das equipas, 19% revelam ter pouca ou nenhuma confiança nesse equilíbrio. A média global é ligeiramente mais positiva, com 49% a afirmarem confiar nesse equilíbrio, e apenas 15% a apontarem falhas graves.
Entre as prioridades identificadas para as organizações que querem atrair e reter talento executivo destacam-se a promoção de percursos estruturados de desenvolvimento de carreira e mobilidade internacional, o alinhamento da cultura organizacional com os valores da liderança, o esclarecimento do papel da inteligência artificial na tomada de decisão, a necessidade de liderar com intenção e transparência, e a inclusão como compromisso estrutural e não apenas simbólico.
Um dado final impõe-se: mais de metade dos líderes ouvidos afirma que rejeitaria uma promoção se esta comprometesse o seu bem-estar. Entre as mulheres em funções de liderança, essa tendência é ainda mais marcada. A mensagem é clara: o propósito pesa hoje mais do que o prestígio.
«Reter talento de topo implica que as organizações incorporem, de forma consistente, equidade, clareza e confiança em todos os níveis da sua estrutura de liderança», conclui Rani Nandan, Diretora de Cultura Inclusiva e Impacto Social da Page Executive.



