Durante centenas de anos, a Humanidade tem estado fascinada com a criação de vida artificial. Recentemente, estas criações têm-se baseado em softwares, como tem acontecido com a Inteligência Artificial (IA). Maria Axente, Conselheira do Governo Britânico em IA, alerta: «A tecnologia que construímos pode virar-se contra nós muito rapidamente e já está a acontecer».
A especialista em políticas públicas de IA protagonizou a talk «Leadership and Responsibility in the Age of AI», na Leadership Summit Portugal, no passado dia 26 de outubro.
Atualmente, a criação destes «seres artificiais» traz um «lado negro», que precisa de ser discutido. «Estamos a criar soluções que têm discriminado mulheres ou pessoas racializadas. Construímos uma sociedade que não tem em consideração as necessidades dos Humanos individual e coletivamente», explicou a Conselheira.
O termo Inteligência Artificial foi cunhado em 1956 por Marvin Minsky, pelo que esta «é uma tecnologia que tem existido há bastante tempo» e que tem sempre levantado várias discussões. «Por muito que tentemos simplificar a IA, existe muita complexidade em redor deste tema», defende Axente.
O quadro da ‘Rapariga Com o Brinco de Pérola’ (Vermeer) é o exemplo que Maria Axente usa para resumir a importância de separar a IA da vertente humana e discutir os riscos desta tecnologia. «Se queremos continuar a ter muitas maravilhas no Mundo, devemos ver a IA como uma ferramenta que permita que esses encantos continuem a existir», defendeu.
«Como podem os líderes distinguir o sagrado do profano» da IA?
Maria Axente considera importante seguir três linhas de pensamento para dirigir as equipas e organizações que estejam a lidar com Inteligência Artificial. Em primeira instância, compreender que não se trata de magia, mas sim ciência e matemática.
«Vejo tantos líderes a ficarem presos nesta narrativa de que a IA é uma máquina superpoderosa, capaz de fazer muita coisa. É muito poderosa, de facto, mas não tanto como se tem alegado», defende a Conselheira. Axente referiu que se deve manter o foco e compreender objetivamente os problemas que surgem, encontrando soluções «fundamentadas na realidade».
A segunda regra consiste na ideia de que a IA é como andar de bicicleta, na medida em «que é preciso equilibrar os benefícios e riscos». «Apesar do potencial da IA, temos de nos focar no risco de cada situação específica», defende. «Quando pensamos da digitalização, em utilizar esta tecnologia poderosa, temos de ser capazes de o fazer de maneira que o risco faça parte da estratégia inicial. Reconhecer a gestão de risco da IA é tão importante como desenvolver essas ferramentas ou implementá-las», acrescentou.
Por fim, é essencial não esquecer os «momentos que importam» e de que forma podemos proteger a Humanidade dos riscos da tecnologia. «É igualmente importante compreender como não devemos utilizar a Inteligência Artificial», diz Maria Axente.
Para a Conselheira, a vertente humana não deve ser substituída pela IA e é esse reconhecimento que vai criar «uma ferramenta que permita que a sociedade e a vida prosperem» e não algo que «conquiste o Mundo». «Se não colocarmos o Humano no centro da digitalização, vamos apenas acrescentar pressões à vida quotidiana», concluiu.
Veja a talk completa aqui:
Maria Axente – LEADERSHIP AND RESPONSIBILITY IN THE AGE OF AI
Tenha acesso a todas as intervenções e conteúdos na Líder TV, disponível on demand, de acesso universal e gratuito, posição 165 do MEO e 560 da NOS.
Tenha acesso à Galeria de imagens aqui.