Para Pedro Pina, ter-se assumido gay aos 28 anos não foi um caminho simples, numa época em que não existiam exemplos ou modelos com que se pudesse relacionar. E ainda hoje há falta desses exemplos, nas empresas, das comunidades LGBT+. «É preciso que os empresários finalmente falem sobre este assunto. Portugal é um País extraordinariamente cisgénero. As marcas em Portugal não se aliam a esses movimentos», adverte.
O vice-presidente do YouTube para a zona EMEA, marcou presença no Debate “Sensibilidade e Liderança – Uma relação de bom senso?”, trazendo uma discussão relevante sobre autenticidade, diversidade e representatividade nos cargos de liderança nas organizações, e na sociedade como um todo, no âmbito do evento Leading People, International HR Conference, e que também contou com a participação de Marta Temido, deputada e ex-Ministra da Saúde, com a moderação de Nelma Serpa Pinto, jornalista da SIC.
Pina destacou a importância da autenticidade no papel de líder: para ele, “é essencial estabelecer uma ligação emocional com as pessoas que estamos a liderar”, sublinhando que “esta não é uma ideia nova, mas um traço comum aos grandes líderes de países e empresas.”
Coming out
Pedro Pina partilhou abertamente a sua história pessoal: «Eu partilho com o mundo inteiro que sou gay, que sou casado com um homem, que temos filhos». Enfatizou a importância de se ter exemplos visíveis para pessoas LGBTQ+, confessando que «quando eu era miúdo, e já sabia que era gay, eu olhava para cima e não tinha exemplos; só as rock stars, como o Freddy Mercury, ou o cabeleireiro da minha mãe. Não havia mais carreiras para alguém que fosse gay».
“Passados todos estes anos, eu acredito que dar visibilidade é importante para todos os Pedros e Joanas que estão por aí fora, e que precisam de pelo menos ver que é possível chegar lá”
A necessidade de representatividade para todos aqueles que estão à procura de um lugar de pertença no mundo é importante para o vice-presidente do Youtube EMEA, e aplica-o na organização que lidera.
O YouTube, enquanto plataforma aberta, é um espelho da sociedade, acolhendo cerca de 2,3 biliões de utilizadores diariamente. Com a missão de dar a todos uma voz e mostrar-lhes o mundo, o YouTube, nas palavras de Pina, «tem de ser um reflexo do que está na plataforma, o que inclui uma diversidade representativa».
Ressalva ainda que a representação não é uma questão universal, mas local. «A diversidade tem de ser pensada país a país, e é com base nisso que os critérios são desenhados», confirma. «As equipas que tenho de contratar têm de ser um espelho do que está no Youtube».
O gestor frisou que o ónus da mudança deve recair sobre os aliados da comunidade LGBTQ+, sobre aqueles que têm poder. As vozes dos grupos marginalizados podem trazer o caso a público, e fazer pressão, mas é essencial que os líderes avancem, assumam a responsabilidade e tomem medidas para acabar com a discriminação.
«Os grupos podem trazer o caso a público, podem fazer pressão. O que se pede é que os líderes avancem»
No contexto de Portugal, Pedro Pina fez uma chamada à ação para as empresas e marcas se aliarem ao movimento LGBTQ+. Realçou a importância de um jovem LGBTQ+ ver empresas a lançarem linhas de produtos que incluem a bandeira LGBTQ+, e que a visibilidade desses símbolos nas marcas pode fazer uma grande diferença na aceitação social e na inclusão.
«Além disso, é importante haver mais executivos de topo a fazer o coming out. Em Portugal, os políticos foram os primeiros a sair do armário, o que é extraordinário»
Em conclusão, Pedro Pina deixou clara a sua: a autenticidade e a representatividade são cruciais, não só para uma liderança eficaz, mas também para uma sociedade mais justa e inclusiva. «Não conheço ninguém que se tenha arrependido de sair do armário. Viver em verdade é muito mais libertador. Mesmo que seja mais difícil, é sempre melhor do que viver em mentira ou em mostrar-se ser alguém que não corresponde ao que somos»
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