De acordo com o Primeiro-Ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, o país está a crescer economicamente pelo forte impacto do turismo, mas a aposta é também noutros sectores da economia, como por exemplo: a economia digital – que se pretende que venha a atingir 25% do PIB – as pescas e a educação. O empreendedorismo, inovação, e igualdade de género são também objetivos estratégicos desta governação. Afirmar Cabo Verde no mundo, reduzindo a pobreza absoluta e erradicando a pobreza extrema, para consolidar e afirmar uma verdadeira democracia o mais imune possível aos populismos, nacionalismos e extremismos é “um imperativo da dignidade da pessoa e da liberdade”. Por isso, fica a mensagem do Primeiro-Ministro para todas as lideranças do país: “é necessária disponibilidade de tempo, energia, capacidade de trabalho e de motivação dos colaboradores. Coloquem essas qualidades pessoais ao serviço de um projeto, de uma ambição, de um propósito, seja nível político, empresarial, institucional, social ou cultural”.
Quando falamos de novas lideranças digitais o que espera o Executivo que elas sejam ou possam vir a representar para o país?
Quando falamos de novas lideranças digitais, espera-se que elas tragam consigo a habilidade de inovar e de aplicar tecnologias emergentes para impulsionar o desenvolvimento económico e social do país. Essas lideranças podem representar um fator de transformação no setor empresarial e governamental, contribuindo para o aumento da produtividade, competitividade e eficiência nos negócios e no setor público. As novas lideranças têm necessariamente de pensar como colocar a inteligência artificial, a realidade aumentada, a impressão 3D e outras tecnologias ao serviço do país, das pessoas e das organizações, mas igualmente aplicar a tecnologia de forma ética, e com uma responsabilidade de inclusão.
Cabo Verde tem um conjunto de desafios pela frente que podem ser enfrentados com a ajuda da tecnologia. Quais são as principais prioridades a este nível e os planos da governação?
As prioridades estão centradas na aceleração da transformação digital para a modernização da administração pública, para a melhoria do ambiente de negócios e para a eficiência da economia. Somos ilhas, o digital é um instrumento importante para reduzir as assimetrias regionais e facilitar o acesso a serviços da educação, saúde, comunicação, entre outros, com idênticos padrões de qualidade. A telemedicina, o ensino e a formação à distância são bons exemplos. Existem e estão a ser amplificados. Prioridade nas conectividades. Somos ilhas e as ilhas têm necessidade de romper fronteiras. É por isso que as conectividades são um fator critico. O digital é a ferramenta ideal para o efeito. Por isso é que apostamos em conectividades via conhecimento e qualificações com padrões convergentes com a OCDE, via domínio da língua inglesa e qualidade das telecomunicações e da internet. Prioridade no fomento empresarial e exportação de serviços através do desenvolvimento da economia digital e do posicionamento de Cabo Verde como um hub digital. As nossas prioridades passam ainda pelo reforço da literacia digital com programas como o WebLab nas escolas, plano de transição digital no sistema educativo e nos programas de formação e declaração de internet como um bem essencial com tarifa social e acesso facilitado.
A questão da segurança é fundamental pois não chega digitalizar e desenvolver um Estado tecnologicamente, é preciso acautelar o cibercrime e a segurança das empresas e organizações. Nesse capítulo o que já está a ser feito?
Cabo Verde aderiu em 2018 à Convenção sobre o Cibercrime, também conhecida como Convenção de Budapeste e à Convenção para a Proteção de Dados Pessoais. Cabo Verde também ratificou a Convenção de Malabo. Sabemos que a segurança cibernética é um tema crucial para qualquer país que esteja a desenvolver a sua economia digital. Investimos em medidas de prevenção e proteção contra o cibercrime. No quadro da parceria especial com a União Europeia, colocámos a cibersegurança como tema prioritário para vantagens mútuas.
Que tipos de estímulos podem ser criados para que as novas lideranças digitais, de Cabo Verde e estrangeiras, olhem para Cabo Verde como um país de oportunidades?
Já temos e vamos reforçar estímulos e incentivos económicos e fiscais com a criação de Zona Económica Especial para a Tecnologia que disponibiliza um ambiente de negócios favorável à inovação e ao empreendedorismo. Vamos continuar a investir na capacitação digital dos jovens e na formação de parcerias para aumentar a presença do país no cenário internacional de tecnologia. O nosso programa de nómadas digitais vai ser reforçado para ganhar maior dimensão.
Quando falamos de liderança, quais são os principais fatores de força do país e os pontos mais frágeis onde importa uma atuação urgente?
Cabo Verde é um país com estabilidade e boa governança, requisitos importantes para a confiança e despoletar de lideranças. O país tem ainda um dividendo demográfico de uma população jovem, o nível de escolarização é relativamente elevado, o ensino básico e secundário público é gratuito, existe um ecossistema de fomento empresarial favorável ao empreendedorismo e à inovação (formação profissional, assistência técnica, financiamento e fiscalidade), existem talentos num país aberto ao mundo e com uma vasta diáspora que o torna cosmopolita. Estes são os pontos fortes. Os pontos mais frágeis são a taxa de pobreza ainda relativamente alta e a igualdade e equidade de género. São constrangimentos ao desenvolvimento do potencial humano. Temos tido bons progressos na política de igualdade e equidade de género particularmente dirigida ao empoderamento económico e social das mulheres. Temos como objetivo reduzir significativamente a pobreza absoluta e erradicar a pobreza extrema até 2026.
A economia de Cabo Verde está a crescer, esse crescimento assenta em que áreas de atividade?
Turismo é o setor com maior contribuição no PIB, mais dinâmico e com bom potencial para crescer em todas as ilhas.
Que outras áreas podem ter campo de crescimento?
As pescas, a aquacultura e a indústria conserveira pesqueira vão crescer e aumentar as exportações do país. Investimentos em entrepostos de pesca, rede de cais e equipamentos de apoio à pesca e no desenvolvimento da pesca industrial estão previstos. Na aquacultura, o investimento em curso da empresa norueguesa Nortuna vai posicionar S. Vicente no mercado de exportação do atum rabilho.
A economia digital é outro setor com alto potencial de crescimento e de exportação de serviços. A nossa ambição é que venha a atingir 25% do PIB. Em breve teremos concluído os parques tecnológicos da Praia e de S. Vicente. Para além do investimento da EllaLink, perspetivamos outros para posicionar Cabo Verde na rota de cabos submarinos de fibra ótica valorizando a localização do país. Desde 2017, que temos implementada uma estratégia intencional de qualificação de jovens talentos e fomento do empreendedorismo digital.
Além das lideranças digitais, que tipos de novos líderes precisa Cabo Verde?
Lideres empreendedores nas áreas fundamentais para o aumento da resiliência do país que reduza a dependência dos combustíveis fosseis através de energias renováveis e da eficiência energética e aumente a segurança alimentar através de uma agricultura inteligente com base em dessalinização da água, reutilização segura das águas residuais, massificação da rega gota a gota, tecnologias de produção menos exigentes no consumo de água, um forte nexo água/ energias renováveis, uso dos serviços da I&D e do digital, para melhorar os processos produtivos. Em qualquer destas áreas, jovens empreendedores podem fazer a diferença entre o tradicional e o moderno, o passado e o futuro, convergindo com as prioridades de desenvolvimento do país.
Há questões mais estruturais que ajudam e promovem o desenvolvimento, estamos a pensar na saúde pública, segurança, educação e desburocratização dos processos. Estes aspetos estão na agenda da governação? O que se pode esperar para os próximos tempos?
São prioridades da nossa agenda. Com a pandemia da COVID 19, a saúde pública e a segurança sanitária ganharam maior relevância a nível mundial e para Cabo Verde obviamente. Fizemos um bom combate à COVID, aumentámos o investimento do SNS e vamos continuar a investir. A segurança pública tem estado no centro da nossa atenção através da prevenção e ação policial, judicial e de políticas de inclusão social. A educação é a prioridade das prioridades para a coesão social e o desenvolvimento do país. Hoje, em Cabo Verde o ensino básico e secundário é gratuito, o investimento na ação social escolar é forte e foram implementadas e estão em curso reformas para melhorar a qualidade. Desburocratização e melhoria do ambiente de negócios vão ser acelerados com a transformação digital e consequentes reformas legislativas com particular incidência nos serviços da administração pública e da justiça.
Cabo Verde é uma democracia que está a amadurecer, consegue identificar-nos quais os seus perigos e riscos e como se pode ainda consolidar mais?
Os perigos e os riscos como o populismo, o nacionalismo e o extremismo tendem a globalizar-se e a provocar mimetismos. Nenhum país está imune a estes fenómenos, por isso, proteger, cuidar e aprimorar a democracia é preciso permanentemente. Não sendo possível eliminar a toxidade do populismo, a melhor resposta é fortalecer a democracia e isso faz-se com o reforço da confiança dos cidadãos nos políticos, no sistema político, nas instituições públicas, na colocação da corrupção a níveis baixos e no reforço da coesão económica e social, particularmente na redução da pobreza absoluta e na erradicação da pobreza extrema. Em Cabo Verde temos como objetivo eliminar a pobreza extrema como um desígnio nacional e um imperativo da dignidade da pessoa e da liberdade e democracia.
Pedíamos-lhe uma mensagem para todos os cabo-verdianos que acreditam que podem ser líderes no seu país, nas suas empresas, nas suas comunidades?
Liderança exige muito do ponto de vista pessoal, disponibilidade de tempo, energia, capacidade de trabalho e de motivação dos colaboradores. Coloquem essas qualidades pessoais ao serviço de um projeto, de uma ambição, de um propósito seja a nível político, empresarial, institucional, social ou cultural.
Imagens: Direitos reservados Governo de Cabo Verde
Esta entrevista foi publicada na edição especial da revista Líder Cabo Verde.
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