Em 2023, a economia portuguesa deverá ter um desempenho frágil. As previsões apontam para uma dinâmica fraca de investimento, apesar do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e em clima de inflação e retração do consumo privado.
A recente análise do NECEP – Católica Lisbon Forecasting Lab, fala ainda de o risco de uma recessão suave, mas que não é, por agora, o cenário mais provável.
Economia portuguesa e Zona euro
No quarto trimestre de 2022, a economia portuguesa poderá ter operado em torno de 101.9% do nível pré-pandemia, relativo ao quarto trimestre de 2019.
Os dados são algo contraditórios, mas a melhor estimativa é que a economia portuguesa tenha contraído cerca de 0.5% face ao terceiro trimestre do mesmo ano, o que corresponde a um crescimento de 2.4% em termos homólogos. No conjunto do ano de 2022, a variação deverá ter sido de 6.5%, embora o Governo tenha anunciado um crescimento de 6.8%, o que exigiria um crescimento de 0.4% no último trimestre.
A zona euro deverá ter crescido 0.1% em cadeia no mesmo trimestre, o que é surpreendente já que, até há pouco tempo, parecia inevitável uma ligeira contração.
Em 2022, a zona euro terá crescido 3.4%, ainda sob o efeito do ressalto pós-pandemia que foi travado pela guerra na Ucrânia, pela subida dos preços da energia e por uma taxa de inflação anormalmente elevada (8.4%).
Em Portugal, a inflação média foi de 7.8% em 2022 (com uma variação homóloga de 9.6% em dezembro), embora seja razoável esperar que possa descer para cerca de 6.0% em 2023, fruto da recente desaceleração. A política monetária do BCE deverá contribuir para uma redução da inflação na zona euro e em Portugal, mas apenas no limiar de 2024, dado que as taxas diretoras estão ainda no intervalo entre 2.00% e 2.75%.
Assim, tudo indica que o BCE deverá subir as taxas de juro de referência ao longo dos próximos meses, seguindo a liderança da Reserva Federal norte-americana neste âmbito, de modo que as taxas de juro se aproximem de níveis que sejam neutros em termos de estímulo da atividade económica e compatíveis com o objetivo de médio prazo em termos de inflação (2%).
Desempenho frágil e investimento fraco
A economia portuguesa deverá ter um desempenho frágil em 2023, com um intervalo de previsão que vai de uma contração de 1% até uma expansão de 2%, centrado em 0.5%. O investimento apresenta uma dinâmica fraca – deverá ter avançado apenas 2.1% em 2022 – apesar do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Outros fatores a observar são a evolução da inflação e das taxas de juro, bem como os limites ao crescimento do turismo. O consumo privado poderá ressentir-se em função da redução real do rendimento disponível, que poderá ser parcialmente mitigado pela redução da poupança.
A economia da zona euro deverá ter um comportamento semelhante, com o ponto central do crescimento do PIB em 0.7% e um intervalo compreendido entre uma contração de 0.6% e uma expansão de 2.0%.
Os principais fatores de risco são a evolução da economia mundial, em particular, os desenvolvimentos nos EUA e na China que abandonou a sua política de Covid zero. Os preços da energia, a inflação e a subida das taxas de juro permanecem como principais condicionantes da evolução da economia, numa altura em que a guerra na Ucrânia, um desenvolvimento trágico, não parece ser um fator adicional de pressão sobre a economia europeia.
Em Portugal, o saldo estrutural poderá melhorar cerca de um ponto percentual face a 2022, fruto da redução do rendimento disponível dos pensionistas em termos reais, a principal medida de ajustamento orçamental de 2023. O saldo primário e a evolução da inflação poderão contribuir para a redução do peso da dívida pública no produto, mas a subida das taxas de juro poderá acarretar riscos adicionais para o défice nominal e para a sustentabilidade da dívida a longo prazo.
Relatório completo em www.clsbe.ucp.pt