Tornar a Economia cabo-verdiana mais estratégica e dinâmica não é tarefa fácil, sendo importante reconhecer que caminho já foi feito e o que falta ser percorrido. Mas estará Cabo Verde a tirar proveito das suas oportunidades?
«A nossa fragilidade não é a água, eletricidade ou o transporte. É o conhecimento para superação», diz Marcos Rodrigues, Presidente da Câmara de Comércio de Sotavento e Presidente do Conselho Superior das Câmaras de Comércio e Turismo de Cabo Verde.
O Presidente subiu ao palco da Leadership Summit Cabo Verde para integrar o debate Liderança Atlântica – Um Oceano de Oportunidades, em que participaram também Miriam Livramento, Presidente da Geração B-Bright, Karamba Badio, Representante da Corporação Financeira Internacional (IFC) para Cabo Verde.
Esta conversa, que aconteceu em maio, na Assembleia Nacional da Cidade da Praia, contou com a moderação de Marco Rocha, Jornalista da Televisão de Cabo Verde.
Problemas vs. Oportunidades: Por onde começar?
Fazer a área da Macaronésia (grupos de ilhas e arquipélagos no Atlântico Norte) cresça deve envolver «as forças cultural e geográficas únicas», mas na ótica de Karamba Badio, as soluções para os problemas de Cabo Verde podem ser encontradas internamente.
«Existem quatro áreas de oportunidade que podem ser consideradas para estimular o desenvolvimento e investimento desta área Atlântica: turismo sustentável, economia azul (focada em pesca, aquacultura e energia das marés), investigação científica e colaboração e desenvolvimento de infraestruturas e transportes», afirma Karamba Badio.
Marcos Rodrigues vê estas questões sob um ponto de vista que considera «complexo», por haver vários países da União Europeia no corredor Atlântico, em que a Macaronésia se encontra. «Cabo Verde é uma nação independente e tem de lidar com as suas fragilidades e ineficiências, procurando financiamento noutros lugares», explica.
O Presidente da Câmara de Comércio de Sotavento ressalva que essas dificuldades não diminuem o arquipélago, que tem a vantagem de se localizar numa «plataforma interessantíssima do Atlântico». «Cabo Verde tem uma oportunidade de crescimento exponencial a curto-prazo, se soubermos gerir o nosso posicionamento», acrescenta.
A aplicação daquilo que é importante para a transformação de Cabo Verde deve ainda passar pela proximidade desta região com os Açores, Madeira e Canárias e pelos seus exemplos, «nos erros e virtudes do seu desenvolvimento», materializando essas aprendizagens no seu desenvolvimento.
«Hoje, as Canárias têm 15 milhões de turistas e [Cabo Verde] ainda não tem um milhão, o que quer dizer que o potencial de crescimento é enorme, as nossas oportunidades estão intactas ao nível de investimentos», diz.
Um futuro que precisa dos jovens e de mais investimento
Miriam Livramento considera os jovens o futuro do país, mas não vê como negativo o facto de estarem a sair de Cabo Verde em busca de oportunidades. O arquipélago sempre foi um país marcado pela imigração, que continua a representar «uma fatia importante do PIB» por estar próximo dos imigrantes, que são «investidores no país».
Para que os jovens fiquem e desenvolvam o país, é «inevitável planear». «O Governo deve ter um planeamento e política claros para a capacitação investimento na juventude», explica, acrescentando que Cabo Verde deve almejar a manter «o posicionamento na Macaronésia e região africana».
A Presidente da Geração B-Bright reconhece a evolução que o ensino tem sofrido, não descurando a importância «de direcionar este ensino para as necessidades atuais do mercado» e «trazer as competências de liderança, comunicação e linguística, não só na base do conhecimento, mas também do domínio».
Karamba Badio partilha desta opinião, reforçando a importância que a grande diáspora cabo-verdiana tem na Economia do arquipélago e que a sua forte «conexão emocional» pode atrair mais investimento. O Governo já tem várias ferramentas para encontrar financiamento e investimento e deve focar-se nas parcerias público-privadas.
O principal desafio de exercer a liderança atlântica é, na ótica de Marcos Rodrigues, «manter a pressão na consolidação da democracia». «Nenhum investidor faz negócios num mercado instável e que não tenha certezas sobre o futuro», afirma, sem rodeios.
As restantes variáveis estão em construção, e devem interagir com a principal área económica: o turismo. «Com base no turismo, devemos depois fazer a elencagem das outras áreas de desenvolvimento. Tudo interage com o turismo», diz.
Por fim, Karamba Badio deixa o apelo: reforçar a conectividade inter-ilhas, com maior qualidade e mais oferta, e atentar aos desafios climáticos que assolam o arquipélago. Miriam Livramento garante mesmo: «Cabo Verde está bem posicionado para atingir essa liderança».
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