Dois anos e meio após o avanço significativo potenciado pelo ChatGPT, a Inteligência Artificial (IA) continua a evoluir a um ritmo mais acelerado do que aquele que a maioria das organizações consegue acompanhar. Enquanto muitas empresas aguardam por maior clareza, as empresas que lideram a adoção de IA estão a criar uma vantagem competitiva significativa face aos seus concorrentes.
É um relatório do Fórum Oliver Wyman que o diz, intitulado How AI Leaders Are Taking Flight, baseado num inquérito a CEOs de empresas cotadas na NYSE (New York Stock Exchange). O estudo, que analisa as estratégias de adoção da IA em grandes organizações, revela que apenas 17% das empresas com receitas superiores a mil milhões de dólares registaram aumentos de receita ou reduções de custos acima dos 10% como resultado das suas iniciativas nesta área.
Quatro fatores-chave distinguem os líderes em IA do restante mercado
O estudo identifica uma série de padrões comuns entre as empresas que estão a obter resultados concretos com a IA. Embora diversas em dimensão, setor e localização, estas organizações partilham uma abordagem coerente que as distingue das restantes, assente em quatro fatores-chave:
1. Velocidade de implementação e foco no ROI mensurável
Os líderes em IA implementam soluções de forma ágil e com um foco claro nos resultados. Cerca de 79% dos CEO das empresas inquiridas afirmam que os investimentos já cumpriram ou superaram as expectativas e um em cada três refere que mais de 20% das suas receitas provêm de produtos e serviços potenciados por IA.
Em contrapartida, 34% das organizações que não lideram na aplicação da IA relatam apenas algum impacto nas receitas – e nenhuma ultrapassa os 10%. Em termos de custos, mais de 90% das empresas líderes apontam eficiências tangíveis.
«Os líderes em IA não só estão a obter retornos mensuráveis, como estão a transformar completamente os seus modelos de negócio e cultura organizacional. Este estudo demonstra que o diferencial competitivo não está apenas na tecnologia, mas na forma como as empresas agem com determinação e mobilizam os seus colaboradores», afirma Alberto Mateos, Sócio de Serviços Financeiros e da Plataforma IA Quotient da Oliver Wyman para Portugal e Espanha.
2. Transformação do negócio, não ajustes táticos
Para estas organizações, a IA não é uma ferramenta incremental, mas sim uma alavanca para reimaginar processos, estruturas e modelos de negócio. Cerca de 46% dos seus CEO priorizam a IA e a transformação empresarial a longo prazo como motores de criação de valor, contra apenas 26% nas empresas não líderes.
Isto não significa que estas últimas não reconheçam a importância da IA para a competitividade, mas sim que seguem estratégias distintas para a explorar. Enquanto os líderes em IA confiam mais no desenvolvimento interno dessas capacidades tecnológicas, as restantes organizações apostam em aquisições externas: 21% das empresas líderes favorecem o desenvolvimento orgânico, enquanto 43% das restantes optam por fusões e parcerias.
3. A incerteza como vantagem estratégica
O relatório mostra que os líderes não apenas enfrentam a volatilidade, utilizam-na a seu favor. Cerca de 86% dos seus CEO veem a mudança no comportamento do cliente como uma oportunidade (face a 60% entre os não líderes) e 89% aplicam essa perspetiva também ao talento e à força de trabalho.
Esta abordagem traduz-se em estruturas mais flexíveis e numa maior capacidade de adaptação geográfica do talento. Mesmo em áreas onde a maioria vê riscos, as empresas líderes são mais propensas a detetar oportunidades. Por exemplo, os CEO dessas organizações são quase três vezes mais propensos a ver potencial de crescimento na volatilidade política – e, em matéria de cibersegurança, essa diferença quadruplica.
4. Colaboradores preparados e comprometidos como multiplicadores de impacto
Uma das conclusões mais relevantes do estudo é o papel do talento interno como motor da transformação. Os colaboradores das empresas líderes utilizam ferramentas de IA até três vezes mais no seu trabalho diário, sentem-se mais seguros em relação ao emprego e à formação e revelam maior alinhamento com a liderança das suas organizações. Além disso, estão até cinco vezes mais dispostos a assumir riscos para manter a competitividade, reflexo de uma cultura de confiança e compromisso que multiplica o impacto da IA a partir de dentro.
Este ambiente gera um efeito multiplicador: os colaboradores não só adotam a tecnologia, como também a impulsionam a partir de dentro. Num caso notável, uma empresa farmacêutica global alcançou 80% de adoção de uma plataforma interna do ChatGPT em apenas seis meses, cocriando 750 assistentes personalizados em apenas oito semanas.
Uma vantagem que pode definir a próxima década
O relatório conclui que, num contexto de desenvolvimento exponencial, a diferença entre agir e esperar poderá marcar o futuro competitivo de muitas organizações. Ao apostar na IA como uma transformação integral, e não como uma solução pontual, as empresas líderes estão a lançar as bases para uma vantagem estrutural difícil de replicar.



