As novas diretrizes da administração Trump espalharam o caos, após o anúncio da suspensão do financiamento federal para empresas com diretrizes e compromissos climáticos, na ordem dos 300 mil milhões de dólares. Estes desenvolvimentos potenciaram um afastamento significativo das práticas ecológicas entre as empresas americanas, introduzindo incerteza e instabilidade no setor das energias renováveis e criando preocupações quanto às implicações a longo prazo das iniciativas climáticas.
Perante estas alterações, muitas empresas já não envergam as bandeiras da sustentabilidade com a mesma confiança e deram rapidamente um passo atrás. Em janeiro, os seis maiores bancos dos Estados Unidos cortaram relações com a ‘Net-Zero Banking Alliance’, uma iniciativa apoiada pelas Nações Unidas que incentiva as instituições financeiras a reduzir a zero as suas emissões de gases com efeito de estufa. Já a cadeia de supermercados Walmart indicou que é provável que não cumpra os seus objectivos de redução de emissões e está a considerar rever os seus objetivos e a Coca-Cola retirou discretamente do seu website um objetivo de sustentabilidade relativo aos resíduos.
É neste ambiente de secretismo que outro conceito se tem tornado popular: o greenhushing, que consiste em minimizar ou omitir iniciativas climáticas para evitar reações ou penalizações. Esta é a total oposição do greenwashing – quando as empresas exageram a sua boa-fé ecológica. Será esta a nova tendência no mundo empresarial?
Empresas adaptam discurso verde à nova realidade política
«Mudámos muito rapidamente de velocidade para outro tipo de conversas», afirma Scott Graybeal, CEO da Caelux, uma empresa de tecnologia em fase de arranque. Em declarações à Bloomberg, o Diretor explicou a sua estratégia de minimização do papel da empresa na produção de eletricidade sem carbono, que tinha sido uma prioridade nos últimos anos.
Em vez disso, destaca as suas contribuições para além da sustentabilidade, tais como a criação de emprego nacional, produção dentro dos EUA e a independência energética – todas elas em sintonia com as prioridades da nova administração. Isto não significa que as medidas sustentáveis tenham sido abolidas, apenas que, «à semelhança de qualquer mensagem, é preciso adaptá-la ao público e obter a maior recetividade possível».
Porém, esta mentalidade contrasta com as verdadeiras necessidades do planeta. Em 2024, as temperaturas ultrapassaram o limiar de 1,5ºC acima das temperaturas pré-industriais, e desastres naturais inundaram as notícias, como os incêndios de Los Angeles e as inundações de Valência.
O impacto nas empresas é notório. Os preços do café atingiram um recorde de mais de 9,5 dólares por quilo no mês passado, após as secas no Vietname e no Brasil e as inundações na Indonésia. Os preços do cacau também subiram depois de a produção ter caído 14% em 2024 devido a padrões climáticos imprevisíveis semelhantes. No Reino Unido, os agricultores tiveram a segunda pior colheita desde 1983, após o período de 18 meses mais húmido desde que há registos.
O greenhushing não está limitado aos EUA
Entretanto, as empresas europeias também estão a tentar manter as suas ações climáticas longe da vista do público, numa tentativa de evitar acusações de que estão a exagerar as suas declarações ambientais.
Os próprio líderes, como Friedrich Merz, que ganhou as últimas eleições alemãs, estão criar um ataque às políticas verdes do seus antecessores. Também a líder do Partido Conservador do Reino Unido, Kemi Badenoch, decidiu que o objetivo de emissões líquidas nulas do país para 2050 é ‘impossível’ de atingir sem levar o país à falência. Até Rachel Reeves, que em tempos afirmou a ambição de se tornar a ‘primeira chanceler verde’ da Grã-Bretanha, disse em janeiro que o crescimento ‘supera’ as metas ambientais ao apoiar a expansão de Heathrow.
Em 2024, 63 das 100 maiores empresas britânicas cotadas na bolsa não promoviam suficientemente o seu trabalho de proteção ambiental, de acordo com uma análise da empresa de investigação Connected Impact, sediada em Manchester, que examinou as diferenças entre o que as empresas divulgavam nos registos públicos e o que apresentavam nos materiais promocionais. No que diz respeito às empresas americanas, os investigadores descobriram que o desejo de passar despercebido era ainda maior – 67 grandes empresas públicas e privadas recorreram ao greenhushing.
Os resultados desta mudança de mentalidade estão ainda por determinar, mas os especialistas alertam: o greenhushing pode proteger a reputação a curto prazo, mas compromete a confiança, inovação e eficácia das empresas frente à crise climática. Num mundo em que a comunicação responsável e autêntica é um ativo, o silêncio pode sair caro — não só para as empresas, mas para o planeta.