«Estamos numa guerra fria com a China. O que temos de fazer é não ir a uma guerra aberta e utilizar a Economia como uma ferramenta. É o que fazem os Estados Unidos e a China está a responder da mesma maneira».
A afirmação é do Professor Pedro Videla, cuja visão sobre os desafios macroeconómicos do futuro, abarca perturbações negativas, mas também positivas. «As mudanças tecnológicas podem compensar todas essas perturbações negativas, como uma grande perturbação positiva que aumentará a produtividade», adverte.
A apresentação do Outlook de Economia para o futuro próximo, aconteceu no Estoril, na passada semana, a propósito da Assembleia dos Alumni da AESE Business School.
O retrato macroeconómico do Mundo
As tendências apontam para uma população a decrescer em todo o Mundo, com «a fertilidade a cair abruptamente e a esperança média de vida a crescer um trimestre por ano». «Substituímos quantidade de filhos por qualidade de filhos», refere.
Depois, o grande aumento da dívida. «Desde a grande crise de 2008-2009 até agora, o Mundo tem aumentado substancialmente a dívida, tanto privada como pública, o que tem um impacto sério», adverte. E finalmente, as alterações climáticas – ‘a mãe de todas as externalidades’.
A questões impõem-se: o que podemos fazer para o futuro? como podemos mudar a maneira como estamos a crescer nos últimos 200 anos?
Estamos numa guerra fria, certo?
O livro Destined for War de Graham Allison, foi o mote para o Economista introduzir o tema da guerra fria. Podem a América e a China escapar à ‘armadilha de Tucídides’? Segundo a análise do historiador grego, sobre a Guerra do Peloponeso, quando uma nação emergente excessivamente ambiciosa ameaça a dominância de uma nação mais poderosa, é provável que as duas entrem em guerra.
«E como estamos destinados à guerra, é melhor manter uma guerra fria e não uma guerra aberta», diz Pedro Videla. O termo ‘Guerra Fria’ traz à memória a época do Pacto de Varsóvia contra a NATO, e dá a ideia de uma tensão constante entre os Blocos e a União Soviética que queria influir no resto do Mundo.
Nas suas palavras: «A China não quer fazer nada disso, não quer influir em outros países. O principal sucesso da China é comercial. Hoje, a China é o principal associado comercial de todos os países emergentes, sobretudo na África subsaariana. E isso é um mudança brutal em todo o Mundo».
População
Em 1820 começou a crescer o PIB mundial, momento em que a população aumentou, numa proporção de mil milhões de pessoas por ano. Pelos anos 60, 70 «muita gente que começou a escrever sobre o problema da população, estava altamente equivocada porque o que vimos foi o contrário». A acumulação do número de pessoas, não aconteceu porque se tiveram mais filhos, mas porque a esperança de vida aumentou «substancialmente», refere.
Hoje, no Ocidente, a esperança de vida aumenta um trimestre ao ano, enquanto a taxa de fertilidade começou a cair. E isso «é sinal de que estamos a ficar mais ricos, uma vez que substituímos a quantidade de filhos por qualidade de filhos», relata. O Mundo «vai parar e só o eixo Ásia-África é que vai evoluir», o que traz problemas de sustentabilidade do sistema de segurança social, entre a população ativa e reformada, uma vez que há cada vez menos gente a trabalhar. Em Portugal, por exemplo, cada trabalhador é responsável por um terço de cada reforma, e isso é «um sério problema».
O que, por sua vez, altera os níveis de imigração. «O grande outsourcing da Europa, em relação ao resto do mundo, e à futura geração de europeus, não está na Europa, mas na Ásia ou África subsaariana».
Dívida
Nas suas palavras, «devemos muito, devemos uma grande quantidade». Os países avançados devem 120% do PIB e os EUA devem mais agora do que no final da Segunda Guerra Mundial.
A Europa sobrevive graças aos Bancos centrais que estão a comprar essa divida, «é a única forma de sobreviver», afirma.
Alterações climáticas
«Somos uma civilização de fósseis, assim como a energia fóssil nos fez, temos de mudar isso», alerta. Hoje, apenas 10% do que se consome é não-fóssil. «O problema da mudança climática, é que os países ricos tornaram-se ricos graças às emissões. E agora, vão pedir aos países emergentes que não podem emitir CO2». Daí, países como a Índia e China não aceitaram as metas impostas na última COP no Egipto. «E esse é o problema que temos, porque os países emergentes são os que mais emitem CO2, especialmente a China», conclui.
O impacto das alterações climáticas e da imposição da redução das emissões CO2 é «gravíssimo» na perspectiva dos Economistas, cujo impacto, no próximo ano e meio, é entre 5% a 20% do PIB. Se hoje o PIB mundial está nos 130 triliões dólares, com um crescimento de 2% até 2100, vai ser 764 triliões. As previsões apontam para em vez disso, se atinja um número de 649 triliões. O que equivale a um impacto de duas pandemias, na sua perspectiva.