Os estereótipos de género nas escolhas profissionais continuam vivos e de boa saúde em Portugal: esta é a conclusão do novo estudo do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e da Associação para o Planeamento da Família que veio demonstrar que as mulheres são as que mais sofrem com os estereótipos.
Coordenado pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), a investigação sobre “Estereótipos de Género nas Escolhas Profissões”, foi realizada no âmbito do Projeto Igual Pro – As Profissões não têm género. O projeto de investigação-ação tem como objetivo principal combater a segregação sexual nas escolhas educativas e vocacionais de raparigas e rapazes e a consequente segregação das escolhas profissionais.
Apesar da perceção generalizada de que quase todas as áreas profissionais são adequadas para ambos os sexos, os resultados da investigação mostraram que, na prática, os participantes tendem a obter a sua certificação profissional em cursos “estereotipados”, alinhados com as expectativas de género.
Em geral, as mulheres demonstraram perceções de género mais equitativas em quase todos os parâmetros. Curiosamente, as pessoas mais jovens apresentaram uma perceção menos equitativa do que as pessoas mais velhas.
Impacto da Pandemia
A pandemia também desempenhou um papel significativo, forçando a modificação da estrutura dos cursos e apresentando aos centros de formação e aos formandos um conjunto de desafios e oportunidades.
Por um lado, as formações online possibilitaram acesso a um público mais amplo e diversificado. Por outro, essas mudanças compulsórias tiveram impacto na perceção sobre a qualidade e o interesse pessoal das pessoas formandas.
O Papel da Sociedade
Os formandos consideram que a sociedade e a forma como as pessoas são socializadas têm uma influência crucial na perpetuação dos estereótipos de género. As mulheres, em particular, continuam a enfrentar maiores desafios para alcançar o reconhecimento e o sucesso em certas profissões. A maternidade continua a ser um obstáculo para o acesso ao emprego, a progressão na carreira e a experiência profissional ao longo da vida.
Motivações e Educação
Os formandos atribuem as suas escolhas de formação profissional a fatores socioeconómicos e à vocação individual, enquanto os formadores destacam a educação recebida no nível individual como uma contribuição importante para a existência e manutenção dos estereótipos de género.
Recomendações
É enfatizado, assim, a necessidade de investir em ações de sensibilização e formação desde a infância para facilitar a integração dos princípios de igualdade de género e cidadania.
Também é recomendado promover ações de formação que beneficiem de uma visão abrangente da igualdade e a mudança de atitudes e comportamentos, a fim de interromper a transmissão de estereótipos de género de uma geração para outra.
Este estudo lança uma nova luz sobre a relação entre estereótipos de género e escolhas profissionais, oferecendo uma visão valiosa para educadores, legisladores e a sociedade em geral. As recomendações propostas têm o potencial de moldar políticas e práticas futuras para uma sociedade mais igualitária e justa.
Metodologia e Amostra
O estudo, realizado de maio de 2021 a dezembro de 2022, concentrou-se nos jovens que frequentam os cursos profissionais dos centros de formação dos parceiros do projeto. A amostra foi principalmente composta por mulheres jovens (64%, até aos 24 anos). No entanto, este dado não necessariamente reflete a predominância de mulheres nos cursos de formação, mas uma maior propensão para participar neste estudo.