Algures na China, pelo final de 2019, apareceram os primeiros indícios de uma ameaça à saúde humana. Investigadores denunciavam, e com o aumento dos casos, confirmavam o aparecimento de um novo vírus, mais tarde chamado de SARS CoV-2, ou COVID-19. De uma ameaça longínqua, potencialmente inofensiva, assistimos hoje a uma alteração significativa nas nossas rotinas e nas nossas certezas. Hoje, vivemos dias de incerteza. O que era inicialmente um risco para a saúde individual tornou-se um risco de saúde pública e da economia global. Estima-se que atualmente cerca de metade da população global esteja ainda em isolamento social.
Para a manutenção de algumas rotinas e da atividade económica, as organizações rapidamente se adaptaram ao teletrabalho a novas rotinas, assim aos desafios para quem está a adotar estes novos recursos pela primeira vez. Dos hábitos agitados do dia a dia, passamos para uma nova realidade. E em muito pouco tempo, com muitos dos colaboradores a trabalhar em casa, as próprias organizações tiveram que se reinventar assumindo novos procedimentos como o equacionar dos seus princípios e valores fundamentais.
Numa altura em que o Banco de Portugal apresenta dois cenários possíveis para o ano de 2020, podemos estar a aproximar-nos para uma recessão, num futuro muito próximo, de 3,7%, no melhor cenário, a 5,7% no menos otimista. Com o mundo económico a abrandar, e todos os problemas que daí derivam, coloca-se uma questão essencial para as organizações se adaptarem a este novo paradigma.
Como sabemos, o tecido empresarial do País é composto maioritariamente por PME que, neste momento vivem uma fase de turbulência. Ao terminar o primeiro trimestre do ano, e com o impacto que já decorre no sector económico, é necessário que as empresas adotem medidas e planos estratégicos para restruturar a sua posição no mercado ao longo do restante ano. Serão necessárias novas direções para os restantes meses do ano, quando há cerca de três meses foi finalizado um orçamento e uma estratégia que em muitos casos se encontra agora completamente desatualizada. Em poucas semanas alterou-se todo um plano estratégico anual que levou os últimos meses de 2019 e realizar, e em pouco mais de três semanas, ficou obsoleto.
Quando verificamos quebras de tráfego de 75% nas autoestradas, com poucas unidades de veículos vendidas, é necessário que sejam estabelecidos novos cenários com um elevado grau de incerteza de modo a projetar os próximos meses e inclusive já o próximo ano. Sabendo nós do papel que estes indicadores têm como termómetro da atividade económica, percebermos como esta desaceleração nos apela a medidas urgentes e claras para a retoma económica e social. Relativamente ao orçamento anual as organizações, há neste momento um grande desfasamento da realidade. Terão que agora de ser construídos com base numa grande incerteza, projetar todas as novas soluções e fazer um grande esforço para recuperar e sair deste momento de incerteza. Aproveitar o potencial digital nas organizações, potenciar e motivar os recursos humanos e desenvolver novos processos é o desafio das empresas para criar valor.
Os próximos meses vão ser de grande esforço para estas organizações, mas essencial para a sua posição no mercado. Para isso é necessário tomar decisões num ambiente muito desfavorável face ao que estamos habituados. Com o pensamento que neste mundo de incerteza conseguimos sair ainda mais fortes e mais bem preparados, com novos objetivos e novas etapas, importa que os decisores políticos, nacional e internacionalmente, contribuam para que o choque de 2019 e 2020 não se perpetue por 2021 e pelos anos que aí vêm.
Por António Elias Leal, Controlo de Gestão
António Elias Lopes Leal