Os lisboetas gostam de consumir e de experienciar cultura e arte, mas apontam a falta de tempo e de dinheiro como limitação. E o grande desafio, na era do digital, é o conceito In-Home-Economy que concorre diretamente com a experiência #IRL (in real life), ou seja, o consumo dentro de casa é já uma ameaça aos espaços e programas culturais externos.
«O Consumo Cultural e Artístico na Região de Lisboa», foi o estudo apresentado ontem à tarde no Centro Cultural de Belém (CCB), realizado com o objetivo de refletir sobre a estratégia e posicionamento da atividade do CCB.
Foto: CCB/Joana Melo
A análise conduzida pela Return on Ideas ao longo de 10 meses, fez um levantamento qualitativo e quantitativo, sobre os comportamentos de consumo e os processos pelos quais se escolhem e compram experiências culturais e artísticas. Foi considerado um universo de 818 inquiridos, composto por quem vive na Grande Lisboa, e quem, vivendo fora desse território, nele assiste a eventos culturais e artísticos (13,5% da amostra).
Algumas conclusões
De acordo com o relatório do estudo, o consumo cultural é «uma experiência marcadamente social», ou seja, metade dos inquiridos só vai a eventos com companhia e 48% gosta de ir com companhia, mas se não tiver, vai sozinho. Só 2% afirma gostar de ir sozinho a este tipo de eventos. Fenómeno que é extremado nas gerações mais jovens, com necessidades mais marcantes de afirmação junto dos pares – cerca de 40% dos mais novos afirma ir a um evento se não tiver companhia contra 60% no segmento sénior.
O estudo demonstra que existe um «descontentamento expressivo» no que toca ao tempo dedicado ao consumo cultural e artístico. Cerca de 23% da amostra se declara satisfeita com a quantidade de eventos a que assiste – há, nesse sentido, margem de crescimento. O que impede as pessoas de dedicar mais tempo à Cultura e à Arte? A resposta está no tempo livre e o que se faz com ele, assim como a sua capacidade financeira.
Finalmente, há uma redefinição da relação dos públicos com a Cultura e Arte, e do seu consumo, em resultado da Pandemia, pela recriação de quotidianos, dos seus tempos, espaços, mobilidades e das sociabilizações.
Em conclusão, devem-se criar “ofertas” que são mais fonte de conhecimento, mais estímulo sensorial, contexto social e relacional, numa dinâmica assente em três vetores estratégicos: conteúdos, espaço e tecnologia.
Não há futuro sem uma visão estratégica, e não se pode delinear um plano de ação sem aprofundar o conhecimento sobre as expectativas e preocupações dos diferentes públicos. Este trabalho permitiu realizar uma reflexão estratégica quanto ao posicionamento e atividade do CCB. Hoje conhecemos melhor o perfil, as expectativas e os padrões de consumo de quem nos visita, e as conclusões e recomendações desta análise estratégica definirão algumas das linhas de acção do CCB nos próximos anos. Num processo contínuo de escuta activa e informada, torna-se mais completo o processo de construção de uma oferta global que reforce o posicionamento do Centro Cultural de Belém enquanto Cidade Aberta a todos os cidadãos. O Estudo de Públicos «O Consumo Cultural e Artístico na Região de Lisboa», que agora se torna público, é certamente uma ferramenta relevante para dar forma às propostas e ações do CCB, mas pode e deve ser partilhado com todos, esperando que possa servir outras organizações e pessoas que, como nós, mantêm o espírito de curiosidade e o interesse pela participação na construção da nossa sociedade.
Elísio Summavielle, Presidente do Conselho de Administração da Fundação Centro Cultural de Belém