São as mulheres sírias que, entre a guerra que se vive, resolvem os conflitos e servem de mediadores no terreno. Ao país em destroços falta, nas comunidades locais, compreensão dos mediadores formais da situação que vive no terreno e, de acordo com a UN News, os esforços internacionais para chegar a entendimentos não têm tido sucesso.
Quem são as mulheres que têm vindo a mediar o conflito?
As mulheres envolvidas nas mediações locais não são parciais, mas querem ver o conflito resolvido, e como fazem parte das comunidades locais são consideradas credíveis por ambas.
Enquanto “mediadoras internas” têm dois pontos fortes a seu favor: a capacidade de construir ou alavancar relações, e a posse de conhecimento detalhado sobre o conflito e as suas partes.
Um exemplo dessa força feminina surgiu no início da guerra, no distrito de Zabadani, a noroeste de Damasco. Como o distrito estava a cair nas mãos das forças de oposição, este foi cercado pelo governo.
As autoridades exigiram que os homens entregassem as armas e se rendessem, o que significava que apenas as mulheres poderiam passar com segurança pelas linhas de controlo.
A inversão de papéis
Enquanto antes da guerra era esperado das mulheres de Zabadani que ficassem em casa e se concentrassem nas tarefas domésticas, as novas restrições e riscos repentinamente enfrentados pelos homens tornaram aceitável – e até necessário – que as mulheres se envolvessem em negociações com as forças do governo.
Assumindo rapidamente esse novo papel, um grupo de mulheres em Zabadani reuniu-se e iniciou um processo de mediação com as forças sitiantes para negociar o fim do cerco, bem como um possível cessar-fogo.
“A maioria dessas mulheres envolveu-se porque os seus maridos estavam ligados às forças da oposição, e eram procurados pelo governo”, afirma Sameh Awad, um especialista em construção da paz familiarizado com o caso.
“As próprias mulheres eram, na maioria, donas de casa e não tinham nenhum papel formal na comunidade, mas ganharam importância porque queriam proteger os seus maridos.”
Embora o cessar-fogo tenha fracassado mais tarde, devido à mudança do contexto político, as mulheres foram, por um período de tempo, capazes de garantir que os civis fossem protegidos e evacuados.
A reparar a coesão social
Vários anos após o início do conflito, Mobaderoon, uma organização da sociedade civil liderada por mulheres em Damasco, notou um aumento na violência localizada contra as pessoas deslocadas internamente que chegaram à capital.
Para lidar com essa violência, a organização formou comités locais formados por líderes comunitários e do governo local, outros membros influentes da comunidade, como professores e ativistas da sociedade civil, e residentes comuns.
Estabeleceram espaços neutros onde as pessoas se podiam encontrar e discutir questões que afetam os seus bairros e onde podem desenvolver competências para lidar com os conflitos.
Depois de algum tempo, a organização liderada por mulheres expandiu o seu trabalho para Tartus, uma cidade costeira no oeste da Síria, e fez parceria com outra organização também liderada por mulheres.
“Por causa da guerra e do influxo de deslocados internos, não havia serviços suficientes”, comenta Farah Hasan, membro do Mobaderoon. “As juventudes locais acusaram-nos de serem os responsáveis pela guerra, porque eram originários de áreas sob controlo da oposição”.
Como essa violência estava a criar uma grande instabilidade na área, o líder de Tartus reuniu com membros influentes da comunidade e empresários locais, para convencê-los de que o campo de deslocados internos deveria ser integrado como parte da comunidade, para que estes pudessem participal na economia local.
As atitudes foram mudando lentamente, e os bairros-alvos em Tartus mudaram o comportamento perante dos deslocados: foram relatados menos casos de assédio e violência por parte dos membros da comunidade anfitriã, uma maior aceitação das crianças nas escolas e mais oportunidades económicas