À medida que a relação entre os Estados Unidos da América e a China vai ficando mais complexa, as tensões no Taiwan vão crescendo.
Os EUA adotaram uma nova doutrina conhecida por “letalidade distribuída”, projetada para neutralizar os ataques de mísseis chineses. Entretanto, já dezenas de jatos chineses violaram a “zona de identificação de defesa aérea” do Taiwan.
O Ministro das Relações Exteriores da China condenou a estratégia dos Estados Unidos, alegando que estão a fazer uma “contenção e repressão total, um jogo de vida ou de morte”.
Enquanto os Estados Unidos se rearmam na Ásia e tentam galvanizar os seus aliados, duas questões surgem. Estão dispostos a arriscar uma guerra direta com outra potência nuclear para defender o Taiwan, algo que não está preparado para fazer pela Ucrânia? E ao competir militarmente com a China na Ásia, poderia provocar a mesma guerra que tenta evitar? O The Economist faz uma análise.
Duas superpotências em conflito
Ninguém sabe ao certo como a invasão do Taiwan pode começar.
A China poderia usar táticas de “zona cinzenta” que são coercitivas, mas não exatamente atos de guerra, para bloquear a ilha autónoma e minar a sua economia e moral.
Ou poderia lançar ataques preventivos de mísseis contra bases americanas em Guam e no Japão, abrindo caminho para um ataque anfíbio.
Como o Taiwan poderia resistir a um ataque por conta própria apenas por dias ou semanas, qualquer conflito pode transformar-se rapidamente num confronto de superpotências.
Uma guerra no Taiwan poderia envolver uma nova geração de armas, como mísseis hipersónicos e armas anti-satélite, causando uma destruição incalculável, e provocando retaliações imprevisíveis.
As consequências económicas seriam devastadoras. O Taiwan é o fornecedor mundial de semicondutores avançados. Os EUA, a China e o Japão, as três maiores economias interconectadas aplicariam sanções, paralisando o comércio global.
A guerra é uma realidade muito possível
Desde a década de 1970, os Estados Unidos têm tido o cuidado de não encorajar Taiwan a declarar formalmente a independência, nem de prometer explicitamente defendê-la.
Embora não descarte a força, a China disse que favoreceria a reunificação pacífica. No entanto, essas posições estão a mudar.
O presidente Xi Jinping disse ao Exército Popular de Libertação para estar pronto para uma invasão até 2027, diz a CIA. O presidente Joe Biden disse que os Estados Unidos defenderiam o Taiwan se a China atacasse (assessores dizem que a política permanece inalterada).
Ambos os lados estão a reforçar as suas posições e a tentar sinalizar a sua determinação, com consequências desestabilizadoras.
Alguns atos geraram manchetes, como quando Nancy Pelosi, então presidente da Câmara dos Deputados, visitou Taipei no ano passado; outros são quase invisíveis, como o misterioso corte de cabos submarinos de internet para ilhas remotas de Taiwan.
A diplomacia estagnou. As principais autoridades de defesa americanas e chinesas não se falam desde novembro. Durante o recente incidente do balão espião, uma “linha direta” falhou quando a China não atendeu.
A retórica voltada para o público doméstico tornou-se mais marcial, seja na campanha americana ou dos principais líderes da China.