Cerca de 34% dos portugueses pondera abandonar a empresa no próximo ano, uma percentagem acima da média global (28%). A maioria das organizações não está a conseguir satisfazer as necessidades dos trabalhadores, mas existe uma pequena fração de colaboradores ainda altamente motivada.
Um dado relevante mostra ainda que apenas 3% dos portugueses se sentem confortáveis em falar sobre os desafios que enfrentam na sua saúde mental como justificação de uma pausa no trabalho. Apesar de muitos trabalhadores se sentirem insatisfeitos, existe um pequeno grupo de pessoas, a que se dá o nome de “Performers Dedicados”, que está a contrariar esta tendência.
Estas são parte das principais conclusões do estudo junto de 4.200 profissionais e 1.500 líderes em 11 países diferentes, entre eles Portugal, elaborado pela Kelly. O Relatório Kelly Global Re:work 2023 revela as perspetivas de carreira, escassez de recursos, bem-estar e inclusão e analisa o grupo de trabalhadores mais dedicados.
Performers Dedicados
Ao analisar as reações destes trabalhadores, pessoas que provavelmente permanecerão nas suas funções durante os próximos 12 meses, os líderes europeus podem compreender melhor como motivar os restantes.
Estes fatores são, de uma forma geral, os que fazem com que este grupo se mantenha motivado:
Saúde mental
Cerca de 88% destes colaboradores acreditam que os seus empregadores se preocupam com a sua saúde mental, em comparação com apenas 2% dos que tencionam abandonar uma função, o que sugere que esta tem um impacto significativo na satisfação do trabalhador.
Sentimento de pertença
Mais de metade dos trabalhadores “Performers dedicados” (54%) afirmam ter um sentimento de pertença à sua empresa atual e 53% diz que trabalha num ambiente psicologicamente seguro, em comparação com apenas 12% dos que procuram uma nova oportunidade.
Desenvolvimento de competências
Quando questionados sobre as razões mais importantes para não abandonarem as suas funções, os trabalhadores portugueses atribuem a maior importância às boas oportunidades de desenvolvimento de competências (36%), seguidas de uma boa progressão na carreira (32%) e de um bom equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal (20%).
Preocupação com diversidade, equidade e inclusão (DEI)
Os trabalhadores que tencionam ficar na sua empresa atual têm mais do dobro das probabilidades de afirmar que os líderes adotam comportamentos inclusivos (44%) e que existe diversidade a todos os níveis da sua organização (49%).
Carreira
Com uma comunidade de talentos inquieta, 34% dos trabalhadores portugueses ponderam abandonar a sua empresa nos próximos 12 meses, em comparação com 28% a nível global. Como principais razões, apontam a falta de oportunidade de progressão na carreira e de desenvolvimento das suas competências e, ainda, a falta de ferramentas e de tecnologias.
Escassez de recursos
Segundo o relatório, a escassez de talento tem sido um tema emergente no mundo dos recursos humanos, especialmente em Portugal. O estudo confirma que o cenário de falta de recursos tem um impacto não só nos colaboradores, como também no negócio. Nestes parâmetros, 26% dos portugueses inquiridos afirmam que nos últimos 12 meses foram perdidas oportunidades de negócio devido à falta de pessoas, o que trouxe impacto na qualidade do trabalho.
No reforço da aquisição de talento, e segundo a análise, Portugal regista níveis consideravelmente mais baixos de investimento em aumentos salariais e em benefícios do que os restantes países. O mesmo acontece com a transparência salarial. O que é mais oferecido pelas organizações nacionais é a possibilidade de progredir dentro da empresa, registando neste aspeto valores acima de todos os outros.
Bem-estar, diversidade, equidade e inclusão (DEI)
Alemanha e Portugal são os dois países com valores mais baixos (36%), face a todos os restantes e à média global (41%), no que toca ao facto de os empregadores respeitarem o work-life balance. Além disto, em Portugal, apenas 37% dos inquiridos considera que existe uma comunicação eficaz com os colaboradores e apenas 39% afirma que a empresa tem o cuidado de criar um ambiente de segurança psicológica.
Portugal é o país que menos considera que a entidade empregadora cumpre os compromissos relativos a DEI, registando valores de resposta muito inferiores a todos os outros e abaixo da média global.
Num momento em que muitos afirmam estarmos perante o fim do conceito de ‘carreira’, as pessoas continuam a precisar de perspetivas e objetivos no trabalho. Tem de haver espaço para crescerem a nível profissional e pessoal e a empresa deve ter um valor acrescentado na vida dos colaboradores, da mesma forma que acontece o contrário. Este grupo de talentos empenhados apontou níveis mais elevados de flexibilidade por parte dos seus empregadores, cargas de trabalho mais fáceis de gerir e uma maior atenção à saúde mental. Ao analisarmos de perto os fatores que impulsionam este grupo de pessoas que se mantêm nas empresas, podemos apontar qual o conjunto de decisões mais poderosas que as organizações podem tomar hoje para reter os melhores talentos e durante mais tempo
Rui Barroso, VP da Kelly International e CEO da Kelly em Portugal