Mais do que uma interrogação, este deve ser um imperativo de ação.
A magnitude e a complexidade dos desafios ambientais com que nos deparamos, aliados à abrangência e a gravidade dos impactos que lhes estão subjacentes, fazem da emergência climática, da crise da natureza e biodiversidade, e do colapso iminente dos sistemas naturais, um desafio civilizacional que, mais do que constituir uma ameaça para o Planeta, representa uma ameaça à nossa forma de vida.
Aos dias de hoje, mais de um milhão de espécies está ameaçada de perigo de extinção e cerca de 75% da superfície terrestre e 40% do meio marinho estão gravemente impactados pela atividade humana (IPBES). Sabemos que no melhor dos cenários – aquele em que travamos de forma radical a emissão de Gases com Efeito de Estufa já hoje – teremos um aumento da temperatura de 1,4 graus celsius, quando em 2013 esse mesmo cenário apontava para um aumento de 0,3 graus.
Não se trata de desafios ou de descobertas recentes. Como alertou Inger Andersen, Diretora do Programa Ambiental das Nações Unidas, aquando da apresentação do 6.º relatório do IPCC “há mais de três décadas que nos avisam sobre os perigos de deixar o Planeta aquecer. O mundo ouviu, mas não escutou. O mundo ouviu, mas não agiu com a força necessária”.
Não restam dúvidas. Hoje é o dia em que o longo prazo se tornou presente. O Planeta está a aquecer mais e mais depressa do que esperávamos e não obstante todos os esforços que venhamos a fazer, as alterações climáticas estão em marcha e os seus efeitos irão ser sentidos por muitos anos.
Mas hoje também pode ser o dia em que passamos a escutar o que os cientistas nos têm vindo a dizer.
Hoje pode ser o dia em que transformamos preocupações, tantas vezes expressas em sondagens e barómetros de opinião, em escolhas mais conscientes.
Hoje pode ser o dia em que deixamos de depositar a responsabilidade pela mudança nas mãos de outrem.
Hoje pode ser o dia em que alinhamos políticas com sistemas de incentivos. Em que compreendemos que a mudança não se limita à transformação do sistema energético, necessita de trespassar todos os setores da sociedade, desde os currículos académicos à forma como pensamos e gerimos as nossas cidades, passando pelo modo como nos deslocamos e consumimos.
Hoje pode ser o dia em que passamos a investir não apenas de acordo com os resultados do último trimestre, mas pela resiliência das estratégias no longo prazo. Em que integramos nos modelos de avaliação das empresas a capacidade de as organizações gerarem valor económico, social e ambiental.
Hoje pode ser o dia em que passamos dos compromissos às ações. Em que traduzimos apresentações PowerPoint em programas no terreno, escalamos pilotos, transformamos a forma como operamos e criamos valor.
Hoje pode ser o dia em que percebemos que, para lá da mitigação dos impactos, esta é também uma agenda de oportunidades por concretizar.
Hoje pode ser o dia em que começamos a acreditar que ainda é tempo.
Hoje pode ser o dia?!
Por Mariana Pereira da Silva, Head of Sustainability na Sonae MC