A Hora do Planeta é a iniciativa da World Wildlife Fund (WWF) que vai decorrer amanhã, dia 23 de março, entre as 20h30 e as 21h30, em mais de 190 países e territórios e cobrindo cerca de 90% do Mundo. O objetivo é incentivar a população a desligar as luzes e os equipamentos eletrónicos não-essenciais. O impacto desta ação vai muito além destes 60 minutos.
Ângela Morgado, Diretora Executiva da Associação Natureza Portugal (ANP) / WWF, conversou com a Líder sobre a importância da Hora do Planeta e como esta campanha foi o ponto de partida para uma sensibilização global.
A Hora do Planeta começou em 2007. Como tem evoluído a adesão a esta iniciativa?
Esta iniciativa começou numa única cidade em 2007, em Sidney. Era um evento da WWF local e o conceito era dar uma hora ao planeta para ele regenerar e chamar a atenção para a necessidade de preservarmos a nossa casa comum, de considerarmos os limites do planeta. Após o sucesso dessa Hora do Planeta, que reuniu 2,2 milhões de pessoas, a rede da WWF convidou os escritórios em todo o mundo para celebrar e continuar. Em 2008 juntaram-se 35 países, um deles Portugal.
Portanto, nós celebramos a Hora do Planeta desde 2008, sempre em colaboração com a Câmara Municipal de Lisboa e estendendo-se a outros municípios. Nesse ano foram onze municípios, Lisboa mais dez, e a iniciativa tem vindo a crescer na adesão de países. Hoje em dia, já são 190 países e territórios, milhões de pessoas em todo o mundo, várias empresas e instituições.
A Hora do Planeta, que começou por ser esse apagão simbólico, torna-se hoje na maior plataforma de ação ambiental do Mundo. O objetivo é considerarmos o nosso impacto sobre o mesmo e descobrir como podemos ir para além desta Hora, alterando comportamentos e tendo uma ação efetiva pela proteção do planeta.
Qual é a ligação entre uma hora sem luz / eletricidade e o planeta? De que forma é que esta iniciativa contribui para a sensibilização?
Para já, só o facto de existir a Hora do Planeta e todo o outreach que ela tem, origina milhões e milhões de artigos na televisão, rádios, media sociais, imprensa e online. São muitas referências e só aí já é uma forte ferramenta de educação e sensibilização ambiental.
O conceito é dar ao planeta um tempo para regenerar, mas também fazer com que cada um repense a forma como está a pressionar os recursos naturais, refletir sobre a importância da natureza e da sua preservação. A partir de determinada edição, nós reconfigurámos a comunicação e começámos a pedir ação efetiva pelo planeta, que as pessoas se comprometessem com comportamentos e decisões mais favoráveis. Aí, a Hora do Planeta tornou-se noutra plataforma de ação, ainda é mais poderosa.
No ano passado, foi inaugurado o conceito do Banco de Horas, em que é possível registar, nos sites da Hora do Planeta, quantas horas cada pessoa dedica ao ambiente em ação efetiva. Nesse sentido, passou de uma grande ferramenta de sensibilização e educação para outra grande ferramenta de ação efetiva. Se a alteração de comportamentos for além da Hora, vamos ver um grande impacto sobre os recursos naturais.
Se pensarmos nos sacos de plástico nos supermercados, a verdadeira força motriz que fez com que se parasse de os levar para casa foi começarem a ter um custo. É mais importante a sensibilização dos indivíduos ou a ação dos decisores políticos e económicos?
Cada um tem o seu papel. Aos decisores políticos cabe usar a regulamentação e ferramentas adequadas, a nível nacional e internacional, para termos sucesso. Às ONG cabe realizar projetos de intervenção, ativar o restauro da biodiversidade no terreno, formar, educar e sensibilizar para a proteção do planeta. Essencialmente, mostrar como é possível viver dentro dos limites do planeta com a mesma qualidade de vida.
A Academia deve investigar, para que as ONG e associações tenham uma base científica para aquilo que estão a fazer no terreno ou com a comunidade em geral. Aos indivíduos pede-se que usem o seu poder individual para alterar comportamentos e, principalmente, a forma como consomem os recursos naturais.
Portanto, todos têm um papel e apenas trabalhando juntos é que se pode fazer a tal ação mais global, mais efetiva e mais estratégica.
Que outro tipo de iniciativas tem a WWF em Portugal?
A Hora do Planeta é uma iniciativa que ocupa grande parte dos recursos humanos da nossa organização, para a sua preparação e divulgação.
Para além disso, o nosso programa de conservação está dividido em quatro grandes áreas: alimentação, onde trabalhamos temas como a produção de alimentos sustentável, o consumo e a dieta sustentável e a transição alimentar; as florestas e a vida selvagem, onde temos vários programas de restauro da nossa paisagem; preservação de espécies emblemáticas, como o lince ibérico, o coelho bravo e lobo ibérico; e o programa de oceanos e água doce, onde trabalhamos a remoção de barreiras obsoletas em rios, a gestão mais responsável dos recursos hídricos e também a preservação de espécies de bandeira, como tubarões, raias e o golfinho do Tejo. A partir destes quatro programas temos vários projetos no terreno e campanhas de ação.
Depois temos outros programas mais transversais, como a educação ambiental, onde trabalhamos a sensibilização de jovens líderes ambientais. Fazemos também várias ações para o staff das empresas, aquilo que nós chamamos voluntariado de educação para adultos, ou um voluntariado corporativo. Por fim temos também a área de políticas, onde temos uma intervenção mais próxima dos decisores políticos e dos líderes de opinião, tentando alterar e criar regulamentações necessárias.
Todos os nossos projetos têm componentes de participação e envolvimento das comunidades, algo diferenciador comparativamente a colegas nossos. Nós ouvimos as comunidades, fazemos sessões de esclarecimento, empoderamos as comunidades utilizando os recursos comunitários para trabalhar no terreno e desenhamos projetos muitas vezes em cocriação com os líderes comunitários.
O nosso programa é inteiramente baseado na ligação com as pessoas, no envolvimento e no desenho de processos de participação que facilitem a nossa intervenção no terreno.
Ainda em clima de eleições legislativas, têm os partidos dado a devida importância à natureza e alterações climáticas?
Antes das eleições lançámos um score card, onde identificámos, em conjunto com as ONG mais relevantes em Portugal, vinte e três medidas prioritárias em termos ambientais que gostaríamos que aparecessem nos programas. A partir da definição dessas medidas prioritárias, fomos analisar os programas dos candidatos às eleições e é notório que não se dá a atenção devida ao ambiente.
No debate público que aconteceu, o ambiente foi pouco referido e achamos que isso tem de mudar. Quando fizemos esta lista, não foi para dizer mal deste partido ou daquele, mas simplesmente para fazer notar que é preciso priorizar o ambiente de um modo geral, porque é transversal a todos os espetros políticos. Esperamos que o Governo que venha a ser formado dê maior atenção às questões ambientais.