À medida que testemunhamos alterações significativas no modelo de ensino/ aprendizagem, é inevitável questionar a evolução das salas de aula tradicionais para Ambientes de Aprendizagem Inovadores. Este movimento, impulsionado pelos avanços tecnológicos e transformações sociais, destaca a necessidade de reimaginar não apenas os espaços físicos, mas também as metodologias de ensino.
As Instituições de Ensino Superior, percebendo a importância dessas mudanças, estão ativamente envolvidas em explorar novas abordagens para desenhar experiências de aprendizagem que integrem tecnologia e práticas pedagógicas inovadoras. Contudo, esse processo não está isento de desafios, especialmente quando tentamos harmonizar métodos pedagógicos inovadores com espaços que muitas vezes não estão alinhados com as necessidades específicas destes métodos. Os resultados, sub-óptimos, e a insatisfação entre professores e alunos tornam-se sintomas evidentes da complexidade desta transição.
No centro desta busca por uma sala de aula do futuro está um estudo coordenado por Guilherme Victorino, Professor da Nova Information Managament School (NOVA IMS) e Coordenador do Innovation & Analytics Lab. O estudo desenvolvido, inspirado no framework da Ciência Comportamental SALIENT, propõe uma reflexão profunda sobre o impacto das dimensões como o Som, Ar, Luz, Imagem, Ergonomia, Natureza e Tonalidade no processo de aprendizagem. A hipótese sugere que um espaço de aprendizagem desenhado tendo em consideração o modelo SALIENT contribuirá significativamente para o desempenho e satisfação dos alunos.
A metodologia utilizada para o desenho colaborativo da “sala de aula do futuro” foi o design thinking, dividida em três fases – Inspiração, Ideação e Implementação – revelando a importância de envolver a comunidade académica nessa jornada de transformação. Professores, alunos, ex-alunos, funcionários e parceiros da indústria contribuíram com as suas visões, destacando tendências futuras, experiências empáticas com espaços de ensino convencionais, padrões ideais de espaços de aprendizagem e até mesmo a imaginação de mundos paralelos à Educação que pudessem servir de inspiração. Este processo de co-criação gerou 50 contributos, revelando novos modelos de inovação na Educação, como aplicações de IA, integração de espaços verdes e sociais no desenho da sala de aula, ou o uso de Realidade Virtual em práticas de ensino.
Na fase de Ideação, foram formuladas 178 ideias originais, posteriormente filtradas através de um sistema de votação colaborativa. O modelo SALIENT foi a referência, orientando os participantes para ideias inovadoras centradas no bem-estar dos alunos. Treze intervenções imediatas foram identificadas para o desenvolvimento de um protótipo de sala de aula, com três intervenções mais complexas reservadas para etapas futuras.
A fase de Implementação mergulhou na avaliação do potencial das intervenções propostas. A matriz How-Now-Wow ajudou a categorizar as ideias com base na viabilidade e desejabilidade das mesmas. O resultado tangível foi a criação de um protótipo em escala real. Foi ainda dinamizado um workshop de feedback no local que forneceu insights valiosos, avaliando o protótipo em relação às ideias concebidas e ao potencial de um espaço de aprendizagem ideal.
O protótipo, implementado num armazém vazio no Campus de Campolide da Universidade NOVA de Lisboa, destaca não apenas a materialização dessas ideias, mas também a convergência entre teoria e prática. A comunidade académica revelou preocupações legítimas sobre a identidade do espaço, a perceção da tecnologia, o conforto térmico, a ergonomia dos equipamentos, a iluminação e o layout da sala de aula. Cada uma dessas preocupações foi incorporada no desenho final do espaço.
Este estudo foi uma oportunidade para uma reflexão profunda sobre o caminho percorrido na construção da sala de aula do futuro. Inspirado pelo modelo SALIENT, este espaço inovador surge não apenas como uma resposta aos desafios atuais, mas como uma promessa para as gerações futuras. A colaboração, a tecnologia e o foco no bem-estar dos alunos moldam não apenas o ambiente físico, mas também a essência do que significa aprender e ensinar. À medida que refletimos sobre esse progresso, somos convidados a imaginar não apenas uma sala de aula, mas um ecossistema de aprendizagem que transcende as fronteiras do convencional.
Este artigo foi publicado na edição de inverno da revista Líder, que tem como tema The Touch of the Future. Subscreva a Líder aqui.