A União Europeia aprovou recentemente um regulamento pioneiro de Inteligência Artificial (IA) a nível mundial que obriga as empresas a reforçar as normas de IA que utilizam.
Após a entrada em vigor deste regulamento, as empresas têm um prazo máximo de seis meses para eliminar os casos de uso proibido da IA, de 12 meses para cumprir as regras relativas à utilização desta tecnologia para fins gerais e de dois anos para estarem totalmente em conformidade com a legislação.
De acordo com o artigo “Putting AI Standards into Action”, elaborado pela Boston Consulting Group (BCG) em parceria com o Responsible AI Institute (RAI Institute), as organizações devem começar por definir objetivos concretos para a utilização da IA, identificar lacunas, adotar normas já conhecidas e em uso, e participar nos processos de desenvolvimento de novas regras para a tecnologia, de modo a se adaptarem.
Cinco passos para as empresas adotarem o novo regulamento de IA
A BCG recomenda cinco ações-chave para as empresas conseguirem adaptar-se, integrar e tirar partido das novas normas de IA:
- Definir objetivos concretos para a utilização da tecnologia. É importante que as empresas, numa fase inicial, consigam delinear metas exequíveis. Alguns dos objetivos-chave passam por alinhar a gestão de IA da organização com as melhores práticas implementadas globalmente, melhorar e demonstrar conformidade regulatória, moldando o cenário global de governação da tecnologia.
- Selecionar normas de IA bem estabelecidas. As empresas devem começar por concentrar-se nas já conhecidas, uma vez que já têm bases de apoio sólidas e os seus conceitos podem ser facilmente incorporados por fornecedores, clientes, utilizadores finais e organizações governamentais. Em muitos casos, estas normas são também certificáveis e auditáveis, o que facilita a sua adoção e monitorização dentro das organizações.
- Criar um inventário das normas que já estão a ser utilizadas e identificar as áreas de especialização. É fundamental que as empresas façam um levantamento das áreas onde já estão a utilizar IA, como por exemplo cibersegurança e proteção de dados. Estas áreas podem servir como fundamentos de especialização para a restante organização e são importantes fontes de informação sobre a melhor forma de adotar e cumprir novas normas.
- Analisar lacunas para traçar um caminho a seguir. As organizações devem mapear as normas de IA selecionadas para a estratégia, gestão e processos internos existentes, de modo a identificar lacunas. A partir daí, devem determinar a relevância e o custo estimado de cada uma, priorizar as que devem ser corrigidas com base nos objetivos predefinidos e criar um roteiro para ajudar a organização a caminhar para o estado de conformidade com as normas. Para tal, é importante criar um comité de líderes seniores para supervisionar o desenvolvimento e implementação do programa de IA responsável, definindo os princípios, políticas e linhas de orientação que irão reger a utilização da tecnologia, de forma adequada, em toda a organização, facilitando a identificação dos tipos de sistemas de IA a adotar. Este comité deve estar alinhado com estruturas de governação empresarial existentes, como o comité de risco, evitando a criação de funções desnecessárias, e assegurando caminhos claros para resolver problemas potenciais.
- Envolver-se em processos de desenvolvimento de normas. É necessário que as organizações conheçam as diretrizes voluntárias existentes para saber quais as melhores práticas dentro da indústria e conseguirem monitorizar as questões legais que ainda estão em desenvolvimento, como é o caso do impacto da IA Generativa nos direitos de propriedade intelectual. Posteriormente, é muito importante que as empresas contribuam para o desenvolvimento de normas de IA, através de comités nacionais ou diretamente com organizações de desenvolvimento de normas, para poderem partilhar o seu conhecimento, moldar o panorama de governação da tecnologia e manter-se a par das melhores práticas emergentes.
Os padrões que têm sido estabelecidos sobre IA estão a ser encarados como um mecanismo para os líderes empresariais se posicionarem como pioneiros na sua adoção e demonstrarem conformidade com as normas aos clientes, parceiros, reguladores e outras partes interessadas. Ao contribuir para o desenvolvimento de padrões de IA, os executivos podem ajudar a moldar o cenário global de governação da tecnologia, com contributos singulares das suas organizações, tendo uma visão antecipada das melhores práticas e desafios emergentes
Steve Mills, Managing Director & Partner da BCG em Washington DC e Chefe Global de Ética de IA